São Paulo, sábado, 07 de agosto de 2010

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FOCO

Aos 35, delegada é a mais jovem secretária da Segurança de Goiás

DIMMI AMORA
DE BRASÍLIA

Olhos verdes, 1,65 m, 60 kg, cabelo longo clareado por luzes, salto 14, bolsa com batom rosa e uma pistola .40.
Desde a semana passada, Renata Cheim, dona desses predicados, é a responsável pela segurança dos 6 milhões de goianos. Aos 35 anos, ela é a terceira mulher a ocupar o cargo de secretária da Segurança no país e a mais jovem.
Delegada desde os 25, vai comandar 22 mil pessoas. De perfil operacional, ficou famosa por ações contra o tráfico. A Folha acompanhou um dia da secretária.
"Como é que vocês querem fazer as fotos?", pergunta Renata ao se encontrar com a equipe. Após relatar a agenda do dia, ela sugere um voo panorâmico pela cidade. "Vocês viram, eu sou meio assessora de imprensa, né?" O voo não aconteceu: o helicóptero da PM goiana está com o seguro vencido.
"Este é o único homem que manda em mim. Mas só por uma hora." O homem é Leo Mozart, seu personal trainer. Renata malha três vezes por semana. Desde segunda, a bolsa Victor Hugo preta está 680 gramas mais leve. A pistola PT 640 Taurus foi guardada porque ela foi obrigada a andar com seguranças. "Antes, se me acontecesse algo, era comigo. Agora é contra o Estado."
Neste ano, ela e o namorado foram assaltados. O bandido a reconheceu como policial -e morreu na troca de tiros. "Só depois descobri que ele atirou três vezes e a bala estava velha. Naquela hora, a mão de Deus reconheceu o que fiz."
Goiás foi o Estado que mais reduziu a taxa de homicídios entre 2007 e 2009. Mas casos rumorosos como o do maníaco de Luziânia, que estuprou e matou sete jovens, e a explosão do crack levaram a uma sensação de insegurança na população.
Renata comandava a delegacia onde o maníaco se suicidou. Ela diz que tomou todos os cuidados para evitar a morte dele. "Ele não estava arrependido pelas mortes. Mas estava com vergonha por a homossexualidade dele ter sido descoberta", contou.
Goiás ganhou projeção no noticiário policial em 1996 quando um bandido de classe média, Leonardo Pareja, liderou uma rebelião que fez de refém a cúpula do Estado.
Renata, ainda estagiária de direito, estava lá: "Fui trocada por água e celular".
Ela ingressou na polícia em 2000. A primeira delegacia foi em Montes Claros, cidade de 8.000 habitantes.

ROSA-CHOQUE
Separada do primeiro marido, com quem tem 2 filhos, está namorando. "Ele [o namorado] prometeu me dar uma pistola rosa", conta a secretária, que adora armas. "Nunca tinha pego numa até a academia de polícia. Quando peguei, foi uma sensação", diz, os olhos brilhando.
Vai a um encontro com policiais militares e depois visita a sede da Polícia Civil. Cumprimenta os policiais com apertos de mão e abraços -nada de beijo no rosto.
Ela diz que, até agora, não sentiu preconceito. Só o filho de oito anos não gostou: "Ele reclamou que eu não vou mais prender ninguém". O compromisso termina em dezembro. E depois? "Quero ser delegada de novo. Ser policial é um prazer que poucos têm e poucos entendem."


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