São Paulo, domingo, 07 de agosto de 2011

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Paraguaios disputam lugar de bolivianos no Bom Retiro

Comunidade protagoniza onda migratória no bairro, que já atraiu italianos e judeus

Maioria vai trabalhar em confecções; quando a situação financeira melhora, eles abrem seu próprio negócio

EDUARDO GERAQUE
DE SÃO PAULO

Na garagem de uma casa antiga do Bom Retiro (região central de São Paulo), um sorriso tímido e desconfiado surge atrás de uma máquina de costura.
Há quatro meses, a jovem Gloria Ibañez seguiu a rota que milhares de seus conterrâneos fazem todos os anos. De ônibus, ela deixou Assunção, no Paraguai, e desembarcou em São Paulo. "No mês passado, não pude ver minha filha fazer seu primeiro aniversário. Ela ficou lá, com a minha mãe", diz a jovem "que não vê a hora de voltar", nem que seja apenas para matar as saudades. "E, depois, vir de novo."

BOM RETIRO
Nos últimos anos, os paraguaios têm ocupado muito espaço nas confecções do Bom Retiro. Eles formam a nova onda de migração do bairro, conhecido por receber comunidades de várias partes do mundo (no século 20, recepcionou comunidades como a italiana e a judaica).
Muitos paraguaios chegam e vão trabalhar para os bolivianos, ainda maioria como donos das confecções. Mas, quando a situação melhora um pouco, eles abrem seu próprio negócio. Todos que resolvem emigrar para o Brasil fazem isso por motivos econômicos.
"Estou em São Paulo há dez anos. Comecei trabalhando para os bolivianos. Depois, abri a minha confecção. Há dois anos trouxe a família", diz Esteban Rojas, 38. As quase 2.000 confecções da região servem as lojas do do comércio de rua do bairro.
Muitos sul-coreanos controlam os pontos de venda. Estimativas da associação Brasil-Paraguai Japayke (palavra em guarani que significa despertar) indicam a chegada de dez paraguaios por dia à Grande São Paulo. Eles somam um contingente de 60 mil pessoas. Só 10%, aproximadamente, tem os documentos em dia.

TRABALHO
Imigrantes paraguaios ouvidos pela Folha afirmam que as condições de trabalho ofertadas pelos seus conterrâneos é diferente. Por causa das jornadas extensas e dos raros dias de folga, eles dizem que ter patrão boliviano ou sul-coreano é pior.
Se a falta de emprego expulsa os paraguaios de sua terra natal, o tipo de ocupação também. "Lá trabalhava na agricultura, era mais pesado", diz Miguel Salinas, 51, que está em São Paulo desde janeiro. "A vida aqui está muito melhor", afirma. Ele vem da cidade de Caaguazú. Funcionário de uma confecção, Salinas mora e come no local em que trabalha.
Mas, diz ele, que sempre tem seus dias de folga. No fim de semana, o expediente termina ao meio-dia de sábado e recomeça na segunda-feira. Já do lado dos patrões, começa a surgir certa desconfiança que pode causar problemas aos paraguaios. Quando conseguem o documento, e discordam de alguma relação no trabalho, costumam procurar a Justiça. "O paraguaio é desconfiado e, ao mesmo tempo, um povo que não consegue viver com dignidade dentro de seu próprio país", diz Humberto Jara, 59, presidente da associação Japayke. Ele está em São Paulo desde 1971.
Jara saiu de seu país natal por causa da ditadura. "Resolvi ajudar os paraguaios a ter esperança aqui, depois que minha filha me disse: "você não vai ajudar seus conterrâneos que estão chegando?"." Ele é casado com uma professora brasileira.

Assista ao vídeo
folha.com.br/vi955507



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