São Paulo, sábado, 07 de setembro de 2002

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GINÁSTICA PASSIVA

Unifesp quer descobrir riscos e benefícios de equipamento; para especialistas, estímulo elétrico não reduz barriga

Estudo irá analisar eficácia de aparelhos

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) está iniciando um estudo para saber se os aparelhos de ginástica passiva trazem algum benefício, se implicam riscos ou se não servem para nada. "A pesquisa dirá se a propaganda é ou não enganosa para a saúde e para o bolso", afirma o médico fisiologista Turíbio Leite de Barros Neto, chefe do Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte da Unifesp.
A propaganda promete o efeito de 600 abdominais em apenas dez minutos de uso do aparelho.
De antemão, os especialistas alertam que estímulos elétricos artificiais não produzem aquilo que os consumidores desses equipamentos mais desejam: a queima de caloria, a perda da barriga e um enrijecimento dos músculos abdominais.
O estímulo elétrico emitido pelo aparelho produz uma contração semelhante àquela comandada pelo cérebro e enviado por um nervo, explicam os especialistas. Assim, uma flexão do joelho pode ser provocada tanto por um estímulo elétrico artificial como por aquele enviado pelo cérebro.
"Mas quando o estímulo é artificial, não há gasto de energia", diz Claudio Pavanelli, fisiologista do Hospital Albert Einstein e do Departamento de Educação Física em Cardiologia da Socesp (Sociedade de Cardiologia de São Paulo). Sem gasto calórico, não há perda do peso nem da barriga. Da mesma forma, não há outros benefícios decorrentes do exercício como a redução da pressão arterial e das gorduras do sangue.
O estímulo elétrico artificial só beneficiaria musculaturas muito flácidas ou atrofiadas por lesões que exigem longa imobilização.
"O equipamento empregado nas clínicas de fisioterapia, chamado de "corrente russa", pode ser regulado para emitir estímulos de ondas de tamanho e frequência diferentes", diz Turíbio Neto. "Já os aparelhos caseiros emitem um estímulo pré-determinado, atingindo menos de 10% das fibras ou células musculares", afirma.
A fisiologista Sandra Lia do Amaral, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, vem pesquisando a estimulação elétrica em ratos. Mesmo estimulando diretamente o nervo, os benefícios desaparecem assim que a aplicação é interrompida, ela afirma.
Os riscos e benefícios dos estimuladores elétricos foram tema da última reunião do Departamento de Educação Física da Socesp. O assunto também vem sendo tratado em encontros recentes de cardiologia no exterior.
O estudo da Unifesp será um dos primeiros a avaliar benefícios e riscos, inclusive para o coração.


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