São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2005

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ESTIAGEM SEVERA

Nível baixo dos rios dificulta transporte de combustível e água potável e causa mortandade de peixes em extinção

Seca na Amazônia limita estoque de comida

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

A falta de chuva nos leitos dos rios da Amazônia está tornando a situação das cidades ribeirinhas caótica. Há alimentos, água potável e energia para só dez dias em algumas localidades, já que a navegabilidade está prejudicada, com o nível baixo da água, e o reabastecimento é precário.
Com a seca, em Caapiranga e Manaquiri, a oeste de Manaus, 40 toneladas de peixes morreram em afluentes do rio Solimões, segundo a Defesa Civil do Amazonas. As duas prefeituras, que decretaram estado de calamidade pública, são as mais afetadas pela crise de abastecimento.
O coordenador da Defesa Civil, coronel Franz Alcântara, disse que pedirá apoio às Forças Armadas para desenvolver ações em um total de 18 municípios que enfrentam isolamento e dificuldade de navegabilidade nos rios.
Segundo o prefeito de Manaquiri (60 km de Manaus), Jair Aguiar Souto (PL), se a falta de chuvas persistir, 25 dos 44 distritos do município ficarão sem água e alimentos. A cidade não está completamente isolada porque tem um acesso por rodovia até a capital do Estado. Para chegar às comunidades rurais, o acesso é feito pelo rio Manaquiri, que está com apenas 1 m de nível de água.
Em razão da dificuldade de navegabilidade, anteontem, a Petrobras anunciou que restringiu o transporte de petróleo e GLP pelos rios Solimões e Negro. A empresa faz o transporte dos produtos por balsas da bacia petrolífera de Coari -cidade que está em estado de alerta devido à estiagem- para Manaus.
São 390 km de percurso, agora feito em duas etapas porque as balsas não conseguem passar em canais de navegação muito rasos.
A estiagem na região acontece de maio a início de novembro, segundo o Serviço Geológico do Brasil. O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Especiais) diz que o período de pouca chuva vai de junho a setembro.
No mês passado, choveu 20 milímetros a menos do que a média (45,9 milímetros). O rio Negro, que é o eixo da bacia para os rios Amazonas, Solimões e Madeira, continua com suas águas descendo cerca de 20 cm por dia.
Especialista em hidrologia da bacia amazônica, o geólogo Naziano Filizola afirmou que o nível do rio Negro está acima do registrado nas últimas secas, de 1995 e 1997, mas que "pode secar mais".

Peixes mortos
Por telefone, Souto, prefeito de Manaquiri, contou que sobrevoou por duas horas as comunidades e se disse chocado com a mortandade de peixes. "Vimos pelo menos três quilômetros de margem de rios e lagos com peixes mortos: tambaqui, matrinxã, jaraqui. O mau cheiro já contaminou o ar das comunidades."
O secretário da Administração, Sebastião Francisco Soares, disse que o estado de calamidade pública foi decretado em Caapiranga pois não há como retirar os peixes mortos das margens dos rios.
O ecólogo Bruce Forsberg, do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), diz que a falta de oxigênio é a provável causa da morte, aliada à poluição.
O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) desenvolveu um plano emergencial para a seca e para conter a matança de peixe-boi, o maior mamífero de água doce, ameaçado de extinção.
Em Tefé, Manaquiri e Fonte Boa foram registradas mortes de peixe-boi e de boto. Sem água, os animais se concentram em pequenos lagos e tornam-se presas fáceis para caçadores.


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