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ESTIAGEM SEVERA
Nível baixo dos rios dificulta transporte de combustível e água potável e causa mortandade de peixes em extinção
Seca na Amazônia limita estoque de comida
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
A falta de chuva nos leitos dos
rios da Amazônia está tornando a
situação das cidades ribeirinhas
caótica. Há alimentos, água potável e energia para só dez dias em
algumas localidades, já que a navegabilidade está prejudicada,
com o nível baixo da água, e o reabastecimento é precário.
Com a seca, em Caapiranga e
Manaquiri, a oeste de Manaus, 40
toneladas de peixes morreram em
afluentes do rio Solimões, segundo a Defesa Civil do Amazonas.
As duas prefeituras, que decretaram estado de calamidade pública, são as mais afetadas pela crise
de abastecimento.
O coordenador da Defesa Civil,
coronel Franz Alcântara, disse
que pedirá apoio às Forças Armadas para desenvolver ações em
um total de 18 municípios que enfrentam isolamento e dificuldade
de navegabilidade nos rios.
Segundo o prefeito de Manaquiri (60 km de Manaus), Jair Aguiar
Souto (PL), se a falta de chuvas
persistir, 25 dos 44 distritos do
município ficarão sem água e alimentos. A cidade não está completamente isolada porque tem
um acesso por rodovia até a capital do Estado. Para chegar às comunidades rurais, o acesso é feito
pelo rio Manaquiri, que está com
apenas 1 m de nível de água.
Em razão da dificuldade de navegabilidade, anteontem, a Petrobras anunciou que restringiu o
transporte de petróleo e GLP pelos rios Solimões e Negro. A empresa faz o transporte dos produtos por balsas da bacia petrolífera
de Coari -cidade que está em estado de alerta devido à estiagem- para Manaus.
São 390 km de percurso, agora
feito em duas etapas porque as
balsas não conseguem passar em
canais de navegação muito rasos.
A estiagem na região acontece
de maio a início de novembro, segundo o Serviço Geológico do
Brasil. O Inpe (Instituto Nacional
de Pesquisas Especiais) diz que o
período de pouca chuva vai de junho a setembro.
No mês passado, choveu 20 milímetros a menos do que a média
(45,9 milímetros). O rio Negro,
que é o eixo da bacia para os rios
Amazonas, Solimões e Madeira,
continua com suas águas descendo cerca de 20 cm por dia.
Especialista em hidrologia da
bacia amazônica, o geólogo Naziano Filizola afirmou que o nível
do rio Negro está acima do registrado nas últimas secas, de 1995 e
1997, mas que "pode secar mais".
Peixes mortos
Por telefone, Souto, prefeito de
Manaquiri, contou que sobrevoou por duas horas as comunidades e se disse chocado com a
mortandade de peixes. "Vimos
pelo menos três quilômetros de
margem de rios e lagos com peixes mortos: tambaqui, matrinxã,
jaraqui. O mau cheiro já contaminou o ar das comunidades."
O secretário da Administração,
Sebastião Francisco Soares, disse
que o estado de calamidade pública foi decretado em Caapiranga
pois não há como retirar os peixes
mortos das margens dos rios.
O ecólogo Bruce Forsberg, do
Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), diz que a
falta de oxigênio é a provável causa da morte, aliada à poluição.
O Ibama (Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis) desenvolveu um plano emergencial para a
seca e para conter a matança de
peixe-boi, o maior mamífero de
água doce, ameaçado de extinção.
Em Tefé, Manaquiri e Fonte Boa
foram registradas mortes de peixe-boi e de boto. Sem água, os
animais se concentram em pequenos lagos e tornam-se presas
fáceis para caçadores.
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