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Casarões da corte de d. João 6º estão em ruínas no Rio
Falta incentivo dos governos municipal, estadual ou federal para a preservação
Só 8 dos cerca de 150 imóveis que serviram de moradia para membros da corte registrados no Arquivo Nacional estão em pé
Uéslei Marcelino/Folha Imagem
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Detalhe do Palacete do Visconde de São Lourenço, no Rio |
LUISA BELCHIOR
DA SUCURSAL DO RIO
Uma parte da história da vinda da corte real portuguesa para o Brasil -que completa 200
anos em 2008- está desabando pelas ruas do Centro do Rio.
Apenas 8 dos cerca de 150 imóveis que serviram de moradia
para membros da corte registrados no Arquivo Nacional
permanecem em pé.
Destes, só dois contam com
verbas públicas e os outros estão com a estrutura comprometida pela falta de preservação, segundo o Crea-RJ (Conselho Regional de Engenharia,
Arquitetura e Agronomia).
Com a ajuda de historiadores, arquitetos e pesquisadores,
a Folha localizou oito imóveis
-sete no Centro do Rio-, que,
há 200 anos, foram o endereço
de nobres portugueses que vieram nas primeiras embarcações da corte de Portugal. As
casas, segundo o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional), são "testemunhas" da época.
Com exceção do Paço Imperial e da Quinta da Boa Vista,
que abrigaram a família real e
viraram museus, nenhum dos
imóveis tem incentivo dos governos municipal, estadual ou
federal para preservação.
Na lista, há o palacete de um
dos ministros de d. João 6º, um
casarão de um nobre da corte e
casas que serviam de comércio
e moradia para comerciantes
portugueses.
As 150 casas que receberam
os portugueses, contabilizadas
nos registros de 1808 do Arquivo Nacional, estavam entre as
mais nobres da cidade na época. Elas foram desapropriadas
por determinação de d. João 6º
para abrigar os nobres que chegaram junto com a família real.
O registro de entrada de estrangeiros no Rio de 1808 contabiliza que 444 pessoas desembarcaram na cidade naquele ano. Mas historiadores já
chegaram a apontar entre
5.000 e 15 mil os números de
acompanhantes da família real.
"Restou pouco da arquitetura daquela época. Acho isso um
absurdo. Há casos clássicos, como o de Paris, em que o centro
se desenvolveu, mas a parte
histórica foi mantida", diz o
historiador Milton Teixeira.
Essa preservação, segundo a
lei, deveria estar sendo feita pela Prefeitura do Rio e pelo governo federal, por meio do
Iphan. O artigo 350 da Lei Orgânica do Rio de Janeiro diz
que "integram o patrimônio
cultural do município os bens
móveis, imóveis, públicos ou
privados, de natureza ou valor
histórico, arquitetônico [...] no
território municipal, cuja conservação e proteção sejam do
interesse público".
A proteção dos imóveis históricos também é prevista em
âmbito federal. A Constituição
prevê, no artigo 23, que os governos municipal, estadual e
federal devem "impedir a evasão, a destruição e a descaracterização [...] de outros bens de
valor histórico [...]".
O superintendente do Iphan
no Rio, Carlos Fernando Andrade, diz que falta, também,
incentivo da iniciativa privada
para investir nos imóveis, já
que muitos deles são privados.
Ele afirma que, de R$ 145 milhões em projetos de patrimônio histórico no Rio em parceria com empresários que ele
conseguiu para um período de
dois anos, o Iphan só conseguiu
captar R$ 30 milhões, mesmo
com uma renúncia fiscal de até
4% dos impostos do governo
federal para os projetos.
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