São Paulo, terça, 7 de outubro de 1997.



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EDUCAÇÃO
Universidade altera sistema de notas para teses, que passam a ser aprovadas ou reprovadas, sem qualificações
USP muda avaliação de pós-graduação

LUCIA MARTINS
da Reportagem Local

A Universidade de São Paulo (USP) mudou a avaliação das teses de mestrado e doutorado.
A partir deste mês, em vez de receber notas até 10 e os tradicionais "com louvor" e "com distinção", os trabalhos da pós-graduação são apenas "aprovados" ou "reprovados".
A decisão foi aprovada no fim do mês passado, após votação do Conselho Universitário.
"Era uma idéia antiga, que várias pessoas defendiam, e que agora foi implantada", afirma o pró-reitor de pós-graduação da USP, Adolfo José Melfi.
Antes da mudança, quem tirava menos de 7 tinha sua tese reprovada, e quem passava era classificado entre mediano (7) e excelente (10). À nota, em alguns casos, era acrescentado um comentário elogioso ou restritivo. Agora, desaparecem as nuances. No certificado de conclusão do mestrado ou do doutorado, é registrado apenas a aprovação ou reprovação do estudante.

Injustiças
A decisão é polêmica e provocou um "racha" entre os professores da USP.
O argumento de quem defendeu a mudança é tentar evitar "possíveis injustiças".
Segundo o pró-reitor de pós-graduação, "dificilmente há dúvida na aprovação ou reprovação de uma tese".
"Mas, se a nota é 8 ou 9, depende das bancas, que são muito heterogêneas. As mais rígidas tendiam a baixar a nota. As mais flexíveis tendem a aumentar. Por isso, alguns trabalhos bons recebiam notas piores do que outros que eram medianos. Isso era uma injustiça", afirma.
Melfi, no entanto, acredita que propostas de incorporação de "qualificações" nas teses vão surgir. "Há muita gente que é favorável à colocação de algum tipo de qualificação na avaliação da tese. Acho que ainda haverá discussão."

Divergência
Discussão é o que promete Ivette Senise Ferreira, a professora-titular de direito penal da Faculdade de Direito. Ivette votou contra a mudança e acha que a decisão "foi um retrocesso".
"O julgamento de mérito tem que existir, com uma hierarquia de valores, isto é, temos que dizer quais teses são melhores que outras", afirma.
A professora acha que essa mudança será um "desestímulo para aqueles alunos que querem fazer um trabalho melhor".
"Todos saem da universidade com o mesmo 'aprovado'. Isso significa que eles não terão por que se esforçar."
Ivette afirma que esse tipo de avaliação não existe em nenhum país do mundo. Ela cita a Universidade de Paris, onde estudou. "Lá, eles classificam como 'excelente', 'muito bom', 'bom' e 'regular'. Acho que é o correto, e o que é feito na maioria das universidades."
A professora espera que haja uma mudança no futuro. "Temos que reverter essa decisão. Acho que isso acontecerá no futuro."
O próprio Melfi acredita que o processo de reformulação da pós-graduação na universidade "está intenso e vai continuar".



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