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ADMINISTRAÇÃO
Prefeita critica punição pelo não-pagamento de parte da dívida do município e diz que quer discutir tema com Lula
Para Marta, aumento de juros é "descabido"
DA REPORTAGEM LOCAL
A prefeita Marta Suplicy (PT)
considerou uma "punição descabida" o aumento de juros da dívida da prefeitura com o governo
federal, causado pelo não-pagamento de R$ R$ 3,04 bilhões,
anunciado anteontem, referente à
amortização de 20% do débito.
Ela disse que "certamente" discutirá o caso com o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Não estamos deixando de pagar nada. Todo mês, pagamos
13% do orçamento [na verdade, a
prefeitura paga 13% da receita] e
não temos recebido nada do governo federal. O que está ocorrendo é que há uma subida do juro de
6% para 9% [ao ano], o que me
parece uma punição descabida e
sobre o que certamente irei conversar com o novo governo."
A decisão do município, oficializada no final da tarde de anteontem por uma nota divulgada pela
assessoria da Secretaria Municipal das Finanças, gerou nervosismo no mercado financeiro.
A medida, prevista como uma
das possibilidades do contrato firmado com o governo federal, provoca a elevação dos juros, mas
não tem efeito imediato.
Isto porque São Paulo continuará pagando mensalmente à União
13% da receita -o teto máximo
previsto no acordo. É o saldo da
dívida que crescerá mais com os
juros maiores. Ao final do contrato, em 2030, o saldo poderá ser financiado em 10 anos.
"Foi uma reação equivocada,
desnecessária e perniciosa para o
país", afirmou a prefeita, sobre as
repercussões da iniciativa. "Acho
que se deve tomar muito cuidado
neste momento para não falar bobeira", afirmou, referindo-se a
"setores da imprensa".
Marta afirmou que o não-pagamento da amortização já era sinalizado por ela desde a época da
campanha para a prefeitura, em
2000. "Desde que assumi, e na
campanha, disse que São Paulo
certamente não teria condição de,
após dois anos, pagar esse compromisso que Celso Pitta fez."
A prefeita sempre defendeu a
renegociação do acordo da dívida, fechado em 1999 pelo então
prefeito Celso Pitta e a equipe econômica do governo Fernando
Henrique Cardoso.
O atual governo nunca admitiu
mudar os termos do contrato. A
eleição de Lula gerou a expectativa de que a prefeita voltaria a exigir a renegociação. Marta, porém,
tem dito que pretende "dar um
tempo ao novo governo".
Ontem, ao citar os desembolsos
mensais da prefeitura, afirmou
que "a União precisa de dinheiro
para implantação de novos projetos". O tom moderado, segundo a
Folha apurou, foi adotado porque
Marta espera de Lula uma distribuição "mais justa" dos recursos
federais.
A possibilidade de renegociação, porém, não foi afastada de
vez. A prefeita afirma que pretende conversar sobre a dívida "no
devido tempo". Pela proposta de
Marta, uma parte do dinheiro repassado à União voltaria ao município para o combate às enchentes. Outra possibilidade seria excluir recursos de saúde e educação do cálculo das receitas da prefeitura, o que reduziria os pagamentos mensais.
(PALOMA COTES, CHICO DE GOIS e SÉRGIO DURAN)
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