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WILLIAM HENRY BELTON
(1914-2009)
Da diplomacia pelo mundo aos pássaros gaúchos
RICARDO MIOTO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Senhor, roubaram o nosso
embaixador!" Quem disso isso, em um português meio
confuso, foi o americano William Belton, em 4 de setembro de 1969. Ele ligava para o
então ministro das Relações
Exteriores do Brasil, Magalhães Pinto. Belton, aparentemente, não conhecia a palavra sequestro.
Magalhães Pinto almoçava.
Largou o bife e, pouco depois,
pôs Belton em uma reunião
com os três ministros militares brasileiros. O americano
foi claro: os Estados Unidos
queriam o embaixador de volta. O Brasil que se virasse.
Ele era um dos diplomatas
americanos no Rio. Charles
Elbrick, o embaixador, tinha
sido sequestrado por adversários do regime militar.
Segundo os amigos brasileiros, Belton não gostava muito
de falar sobre o episódio. Aos
55, foi o ponto alto da sua carreira como diplomata.
Ele se aposentaria no ano
seguinte. Até 1970, foram 32
anos viajando em nome dos
EUA. Passou por Cuba (bem
antes de Fidel), República
Dominicana, Rio Grande do
Sul (na década de 40), Austrália, Canadá e, por último, Rio
de Janeiro. Gostou mesmo foi
do Rio Grande do Sul.
E gostava também de aves.
Ao deixar a diplomacia, mudou-se com a esposa para Gramado (RS), comprou uma caminhonete e um trailer e ficou
12 anos viajando pelo Estado
para observar pássaros. Virou
ornitólogo, transformou-se
no maior especialista em aves
gaúchas que já existiu.
Na década de 1980, com os
três filhos morando nos Estados Unidos e já com netos, resolveu se mudar para uma casa perto de Washington. Voltava ao Brasil com frequência.
Ao lado de Julia Belton, que
morreu em 2003, passou 64
anos. Com ela, teve os três filhos, oito netos e um bisneto.
Recentemente, ainda teve
fôlego para casar novamente.
Desta vez, sem filhos.
Morreu em 25 de outubro,
aos 95 anos, nos EUA.
coluna.obituario@uol.com.br
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