São Paulo, sábado, 07 de novembro de 2009

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WILLIAM HENRY BELTON
(1914-2009)


Da diplomacia pelo mundo aos pássaros gaúchos

RICARDO MIOTO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Senhor, roubaram o nosso embaixador!" Quem disso isso, em um português meio confuso, foi o americano William Belton, em 4 de setembro de 1969. Ele ligava para o então ministro das Relações Exteriores do Brasil, Magalhães Pinto. Belton, aparentemente, não conhecia a palavra sequestro. Magalhães Pinto almoçava.
Largou o bife e, pouco depois, pôs Belton em uma reunião com os três ministros militares brasileiros. O americano foi claro: os Estados Unidos queriam o embaixador de volta. O Brasil que se virasse.
Ele era um dos diplomatas americanos no Rio. Charles Elbrick, o embaixador, tinha sido sequestrado por adversários do regime militar.
Segundo os amigos brasileiros, Belton não gostava muito de falar sobre o episódio. Aos 55, foi o ponto alto da sua carreira como diplomata.
Ele se aposentaria no ano seguinte. Até 1970, foram 32 anos viajando em nome dos EUA. Passou por Cuba (bem antes de Fidel), República Dominicana, Rio Grande do Sul (na década de 40), Austrália, Canadá e, por último, Rio de Janeiro. Gostou mesmo foi do Rio Grande do Sul. E gostava também de aves.
Ao deixar a diplomacia, mudou-se com a esposa para Gramado (RS), comprou uma caminhonete e um trailer e ficou 12 anos viajando pelo Estado para observar pássaros. Virou ornitólogo, transformou-se no maior especialista em aves gaúchas que já existiu.
Na década de 1980, com os três filhos morando nos Estados Unidos e já com netos, resolveu se mudar para uma casa perto de Washington. Voltava ao Brasil com frequência.
Ao lado de Julia Belton, que morreu em 2003, passou 64 anos. Com ela, teve os três filhos, oito netos e um bisneto.
Recentemente, ainda teve fôlego para casar novamente. Desta vez, sem filhos.
Morreu em 25 de outubro, aos 95 anos, nos EUA.

coluna.obituario@uol.com.br


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