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37% dos municípios de SP não têm currículo escolar
Pesquisa foi feita com secretários de Educação, responsáveis pelo ensino fundamental; sem programa, cada escola define o que é ensinado
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Levantamento feito no Estado de São Paulo aponta que
37% das redes municipais de
ensino não possuem currículo
para suas escolas. As prefeituras são responsáveis por alunos
da educação fundamental.
A adoção de um padrão de
aprendizagem nos colégios está
prevista na Lei de Diretrizes e
Bases de 1996. Não há, porém,
punição prevista para quem
descumpra a determinação.
A pesquisa sobre a existência
de currículos, feita a pedido da
Fundação Lemann, entrevistou 323 dos 645 secretários
municipais de Educação no Estado (todos foram procurados,
mas parte não respondeu). O
trabalho traçou um perfil dos
gestores e suas práticas.
Sem um programa unificado,
cada escola define o que será
ensinado aos alunos -as diretrizes nacionais são genéricas.
Há a possibilidade de professores da mesma série, do mesmo
colégio, ensinarem conteúdos
diferentes -o que prejudica a
sequência de aprendizagem.
"O aluno que se transferia de
escola, às vezes, precisava refazer o ano, de tão diferentes que
eram os programas na rede",
diz a secretária de Educação de
Diadema (ABC paulista), Lucia
Couto, que implementou o programa unificado em 2007.
Educadores apontam duas
razões principais para que os
municípios não tenham adotado um currículo. A primeira é a
incapacidade das secretarias de
criar seus programas.
"Há falta de pessoas competentes. E não é fácil definir o
que os alunos devem aprender", diz o coordenador da pós-graduação em currículo da
PUC-SP, Antonio Chizzotti.
A outra explicação tem fundo
ideológico. Há uma linha de especialistas que defende que o
currículo tira a liberdade das
escolas e dos professores.
Padronizar o ensino para
alunos de situações diferentes,
dizem, faz com que parte dos
conteúdos não tenha ligação
com a realidade da criança -o
que pode desestimulá-la.
"Em uma cidade tão plural
como São Paulo, não se pode
definir um único modelo de
currículo", diz a vice-presidente do Sinesp (sindicato dos diretores de escolas municipais
da capital paulista), Maria Benedita de Castro de Andrade.
O debate é tão intenso que
apenas há cerca de dois anos o
governo estadual e a Prefeitura
de São Paulo adotaram material que mostra o que os professores devem ensinar, série a série, disciplina a disciplina.
Defesa do currículo
Responsável pelo levantamento, Paula Louzano se posiciona a favor do currículo. "Nas
particulares, por mais distintas
que sejam as linhas adotadas,
em todas sabe-se o que o aluno
deve saber ao final do ano."
Para Louzano, doutora em
educação pela Universidade
Harvard (EUA), "sem currículo, os docentes ficam perdidos,
desestimulando os alunos".
O professor da Universidade
Stanford (EUA) Martin Carnoy
aponta como fator decisivo para os bons resultados da educação em Cuba a presença do currículo -a formação dos professores é feita com base nesses
conteúdos. Carnoy chegou a essa conclusão após estudar o ensino em Cuba, Brasil e Chile.
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