São Paulo, terça-feira, 07 de dezembro de 2010

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Aos EUA, Rio previu ação "traumática" no Alemão

Documento confidencial aponta temor de Beltrame em ocupação do local

Despacho de cônsul dos EUA revela que havia temor em implantar UPP; ele vê semelhança entre favelas e Iraque

PLÍNIO FRAGA
DO RIO

Documentos secretos produzidos pelo Consulado dos EUA no Rio afirmam que, em encontro reservado, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, antecipou que faria a operação de tomada do Complexo do Alemão e previa uma ação com "violência traumática".
Beltrame, de acordo com o despacho do consulado, batizou o complexo como "epicentro do crime" no Rio.
O texto cita encontro reservado do cônsul Dennis W. Hearne com o secretário de Segurança em 22 de setembro de 2009, em que este já dizia que o Complexo do Alemão -base do Comando Vermelho na zona norte do Rio- estava "totalmente fora de controle do Estado".
O despacho americano aponta que Beltrame informou que a ocupação do Alemão seria no início de 2010, sem precisar data. "Talvez assemelhando-se mais a batalhas em Fallujah [cidade iraquiana] do que a operação convencional de uma polícia urbana", anotou Hearne.
Beltrame também se queixou do aumento do número de armas de uso militar fabricadas nos EUA, desviadas de exércitos da Colômbia, Bolívia e Paraguai e que terminam com traficantes.
Em outro despacho, Hearne cita encontro com o superintendente de Planejamento Operacional da Polícia do Rio, delegado Roberto Alzir, em 29 de outubro de 2009.
Alzir diz que o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), definiria até o mês seguinte se pacificaria cinco favelas menores ou se focaria a ação em uma grande.
Dizia ser "improvável" que o aparato necessário para a tomada do Alemão fosse formalizado antes do Natal de 2009 e o Carnaval de 2010. Cabral optou pelas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) em favelas menores.
Os documentos fazem parte de lote de telegramas diplomáticos norte-americanos divulgados pela ONG WikiLeaks (http://cablegate.wikileaks.org/).
A estratégia das UPPs no Rio tem pontos em comum com ações das tropas americanas no Iraque e no Afeganistão, informa o cônsul em despacho de 30 de setembro de 2009, intitulado "Doutrina da Contrainsurgência chega às favelas do Rio".
De acordo com ele, UPPs e contrainsurgência tem a mesma doutrina: "Clear, hold and build" (Limpar, manter e construir).
O cônsul e Beltrame visitaram a favela Dona Marta, a primeira a ter UPP. Relatou uma sensação de calma, mas apontou: "Muitos moradores não estavam trabalhando na manhã de um dia útil."


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