São Paulo, sexta-feira, 08 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fumo matará 1 bilhão de pessoas, diz OMS

Essa é a estimativa da organização para o século 21 se nada for feito para conter o número de fumantes nos países pobres

No século passado, foram 100 milhões as vítimas do tabaco; consumo caiu nos países ricos, mas é crescente nos pobres e de renda média

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Se nada for feito nos países pobres para diminuir o número de fumantes, o cigarro pode matar 1 bilhão de pessoas no século 21, segundo relatório divulgado ontem pela OMS (Organização Mundial da Saúde). A previsão multiplica por dez o número de mortes causadas pelo tabaco no século passado -100 milhões, mais do que a soma de todas as vítimas de guerras entre 1901 e 2000.
O cigarro mata 5,4 milhões por ano no mundo (mais do que a soma das vítimas de tuberculose, malária e Aids), número que deve crescer para 8 milhões em 2030, de acordo com projeção da OMS.
O novo documento enfatiza o impacto do fumo nos países pobres, porque 80% das mortes previstas para 2030 vão ocorrer nessas nações, de acordo com a entidade.
O consumo de tabaco está em queda nos países ricos, mas é crescente nos pobres e de renda média, segundo a OMS. Cigarro é a principal causa de morte evitável no mundo, de acordo com um consenso médico internacional.

Sem proteção
Apesar do cenário trágico, só 5% da população mundial é protegida por alguma das seis medidas preconizadas pela OMS, diz o relatório.
As medidas que o organismo recomenda são as seguintes: monitoramento do consumo, ambientes livres de fumo, programas públicos para parar de fumar, alertas sobre os males nos maços, banimento da publicidade e elevação de impostos. Nenhum país pobre adota todas as medidas combinadas.
O Brasil é apresentado no relatório como um exemplo positivo de controle. São citados os alertas com fotos nos maços e o financiamento público de tratamento para deixar de fumar.
Ativistas contra o fumo têm, no entanto, restrições à política brasileira. "O Brasil foi pioneiro em algumas áreas, mas não segue uma medida básica de custo zero: o aumento de impostos", diz Paula Johns, diretora da ACT (Aliança de Controle do Tabagismo), rede que congrega cerca de 350 entidades. O cigarro brasileiro é um dos mais baratos do mundo.
Outra restrição feita por Johns é que o Brasil ainda não tem uma lei contra o fumo em ambientes fechados, como ocorre em cidades dos Estados Unidos, em parte da Europa e no Uruguai.

O impacto do controle
O relatório da OMS é o primeiro documento a contabilizar o impacto das medidas de controle do tabaco em vários países. O banimento da publicidade em 14 países, por exemplo, reduziu o consumo em 9% num período de dez anos, segundo o levantamento.
O contra-exemplo é um grupo de 78 países, nos quais a publicidade de cigarro é livre. Neles, o consumo caiu 1%.
Ainda de acordo com a pesquisa, só 5% da população mundial vive em países que banem a publicidade.
O mesmo percentual habita países que vetam o fumo em ambientes fechados, segundo a OMS, apesar de esse tipo de medida ser extremamente popular. Em Nova York, a proibição de cigarro em bares e restaurantes recebeu o apoio de quase 80% dos moradores, e na Irlanda, de 90%. Na China, com raríssimos ambientes livres de fumo, o apoio beira os 90%.
A medida mais eficaz para reduzir o consumo, apresentada pela OMS como "essencial", é o aumento de impostos. Na África do Sul, citada como exemplo, o consumo de cigarros caiu cerca de 40% a partir dos anos 90 porque o preço do maço praticamente dobrou.
A arrecadação com impostos corresponde a 5.000 vezes o gasto com programas de controle de tabaco, segundo o relatório. Nos países pobres e de renda média, onde vivem 3,8 bilhões de pessoas, o gasto com controle é de US$ 14 milhões por ano. Já os impostos alcançam R$ 66,5 bilhões.
Dito de outra maneira, seria como se um país arrecadasse US$ 5.000 em impostos e gastasse só US$ 1 em controle.
A maior parte dos gastos com controle está restrita aos países ricos, diz o documento. Nos países pobres e de renda média, o gasto per capita dos programas de controle é de US$ 0,001 (um décimo de centavo de dólar) e US$ 0,005 (meio centavo de dólar), respectivamente.


Texto Anterior: Oscar Freire: Fio rompe após chuva e prejudica trânsito
Próximo Texto: Máquina de cigarro no Japão pede identidade
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.