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Homossexualidade é pecado para 58%, aponta pesquisa
Estudo mostra que 28% dos brasileiros admitem ter preconceito contra homossexuais
Para Gustavo Venturi, um dos coordenadores da pesquisa, religiões e a cultura machista no Brasil
favorecem a discriminação
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma pesquisa sobre sexualidade e homofobia -aversão a
homossexuais- mostrou que
58% dos brasileiros consideram a homossexualidade um
pecado contra as leis de Deus e
que 29% a apontam como uma
doença a ser tratada.
O estudo foi conduzido pela
Fundação Perseu Abramo e pela fundação alemã Rosa Luxemburgo Stiftung, que entrevistaram 2.014 adultos nas cinco regiões do país, escancarando o preconceito direto ou velado contra os homossexuais.
Machismo, falta de leis e discriminação na mídia são apontados como favorecedores dos
números, recebidos com
apreensão pela comunidade
LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais).
Segundo os organizadores, o
"primeiro estudo a mapear de
forma tão ampla" a homofobia
deixou claro a facilidade de o
brasileiro confessá-la. Isso porque 28% disseram "admitir" ter
preconceito contra LGBT, enquanto outra pesquisa também
da Fundação Perseu Abramo,
de 2003, mostrou que o preconceito assumido contra negros -problema histórico no
país- era de 4%.
"Há a contribuição das religiões na nossa população de
maioria católica e evangélica.
Muitas igrejas continuam fechadas para comportamentos
que fogem da "heteronormatividade". Além disso, a cultura
machista no Brasil facilita que
o preconceito seja admitido
com mais facilidade. Diferentemente da questão racial, não
houve até agora uma legislação
criminalizando a homofobia",
afirma Gustavo Venturi, um
dos coordenadores do estudo e
professor de sociologia da USP.
Um projeto que pretende
mudar esse quadro -transformando a homofobia em crime- tramita no Senado, após
ter sido aprovado na Câmara.
Preconceito
A pesquisa mostra manifestações de preconceito em diferentes situações. A maioria não
gostaria de ter um filho gay,
mas procuraria aceitar. Houve
um número razoável (23%) de
defensores da tese de que mulher "vira" lésbica porque não
conheceu homem de verdade.
Os maiores níveis de aversão
foram no Norte e no Nordeste.
Para Venturi, o grande problema é que, mais do que nas
relações pessoais, a discriminação tem participação institucional. Nas empresas, por
exemplo. Contudo, reconhece
que, nesse quesito, aparece um
dos itens em que o brasileiro se
mostra mais aberto à diversidade -70% dizem que não se importariam de ter colega de trabalho gay ou lésbica.
Mas isso é pouco na visão de
Cezar Xavier, coordenador de
comunicação da APOGLBT
-associação que coordena a
Parada Gay em São Paulo. Para
ele, a pesquisa mostrou que a
luta contra o preconceito é um
desafio maior do que se intuía.
"Vivemos um estado homofóbico. A televisão tem personagens fixos para fazer chacota
da homossexualidade. Para o
movimento homossexual isso é
algo perverso. Afeta desde a
criança na escola até o adulto",
afirma. Ele lamenta existir preconceito entre os próprios homossexuais, em relação a si
mesmos ou entre grupos.
Para Xavier, existe também
uma matriz religiosa forte por
detrás da homofobia, que reforça uma visão já existente de que
a homossexualidade é uma opção. Ele afirma que essa matriz
influi inclusive na falta de leis.
"Temos um lobby religioso
no Congresso que dificulta a
aprovação da lei do crime de
homofobia. Ela é essencial. Vivemos num país de grande violência contra homossexuais."
Religião
Além da ideia de pecado, o estudo revelou que 84% dos brasileiros concordam completamente com a ideia de homem e
mulher foram criados por Deus
para cumprirem a função de ter
filhos, o que é considerado um
preconceito velado.
Frei Antonio Moser, professor de teologia moral, diz que a
Igreja Católica tem suas convicções de relação entre homem e mulher criados por
Deus, mas busca acolher os homossexuais. "A homossexualidade não existe. O que existem
são pessoas. Não podemos padronizar, colocar todos em uma
mesma bacia de heterossexuais
ou homossexuais. Nossa grande preocupação é a acolhida, a
orientação. Nós [a Igreja] respeitamos e pedimos que a pessoa busque sua identidade. Mas
também não nos peçam a bênção para imitar o casamento."
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