São Paulo, segunda-feira, 08 de fevereiro de 2010

Próximo Texto | Índice

Curvas com falhas causam acidentes, aponta estudo

Problema está nos manuais que servem de base para a elaboração de projetos

Conclusão é referendada pelo governo federal, autor dos manuais, que deverão passar por uma revisão para elevar segurança nas vias

AdrianoVizoni/ Folha Imagem
Curva na avenida Giovanni Gronchi, próxima ao Palácio dos Bandeirantes, na zona sul de SP

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

O tombamento de um ônibus que circulava a 27 km/h numa curva, sete anos atrás, intrigou Sergio Ejzenberg, mestre em engenharia de transportes pela USP e especialista em perícia de acidentes viários. Não havia excesso de velocidade.
"Será que a culpa vai recair, de novo, sobre o motorista?, pensou Ejzenberg, que descobriu que a curva não oferecia segurança mesmo a veículos pesados trafegando devagar.
E, depois de seis anos, concluiu que esse é um problema espalhado por rodovias e grandes avenidas do Brasil, conforme estudo apresentado no ano passado na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
As falhas, segundo Ejzenberg, estão nos próprios manuais de projetos para a construção de curvas e determinação das velocidades, que ignoram, dentre outros fatores, a possibilidade de tombamento lateral de caminhões e ônibus.
Somente em estradas federais ocorrem mais de dez acidentes desse tipo a cada dia.
O especialista concluiu que os cálculos são baseados num ponto de massa similar a de um carro. Por isso, admitem a hipótese de derrapagem, mas não a de um giro de 90 graus em torno do eixo -como ocorre com veículos altos. "É como uma rasteira. Os caminhões e ônibus podem tombar antes de escorregar. E, se a carga for alta, qualquer desvio de buraco já vai provocar um acidente."
O problema, defende ele, está concentrado principalmente em curvas fechadas, de velocidade até 60 km/h, que precisariam dobrar de raio -só não atinge todas porque os engenheiros podem adotar critérios mais conservadores que os dos manuais técnicos do governo federal -habitualmente seguidos por Estados e municípios.
Mas Ejzenberg cita vários exemplos de curvas "mortais", inclusive na capital paulista -na avenida dos Bandeirantes, na avenida do Estado e nas alças de acesso às pontes das marginais Pinheiros e Tietê.
Nas estradas, ele considera alta a probabilidade de falha inclusive na curva do km 69 da Fernão Dias, em Mairiporã (Grande SP), onde um ônibus perdeu a direção na semana passada, deixando oito mortos.

Mudança em projetos
As conclusões de Ejzenberg têm sido respeitadas no meio acadêmico e no governo federal, responsável pelos dois manuais contestados, de 1999 e 2005. O engenheiro Gabriel de Lucena Stuckert, do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), informou à Folha que "as questões levantadas na tese" de Ejzenberg já estão sob avaliação.
Segundo ele, um estudo do próprio órgão sobre os veículos de carga foi aprovado em dezembro de 2009 e será utilizado para a revisão dos manuais.
Esse trabalho também constatou a necessidade de mudar os projetos de curvas de estradas com movimento de caminhões de grande porte, citando que eles "exigem valores de superlargura [alargamento de faixas de rolamento] nas curvas bem superiores aos determinados pelas normas em vigor".
O Dnit não comentou a possibilidade de adotar medidas emergenciais nas rodovias já existentes. Ejzenberg propõe mudar com urgência a sinalização para reduzir os limites de velocidade para ônibus e caminhões em curvas. "O motorista dirige com a sensação de segurança. Mas ele está sendo mal informado pela sinalização, e isso é gravíssimo. Aquela velocidade não é segura", afirma.


Próximo Texto: Problema também afeta outros países
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.