São Paulo, domingo, 8 de fevereiro de 1998

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CARNAVAL 2

Política dá o tom dos enredos no Rio este ano

da Sucursal do Rio

A política será a tônica dos desfiles das escolas de samba no Carnaval carioca deste ano. De um modo ou de outro, 9 das 14 agremiações do Grupo Especial abordarão temas eminentemente políticos ou "politicamente corretos".
No primeiro caso, estão Vila Isabel, Grande Rio, Porto da Pedra e Mangueira. No segundo, Beija-Flor, Tradição, Imperatriz, União da Ilha e Caprichosos.
Na Grande Rio, o enredo em homenagem ao líder comunista Luiz Carlos Prestes originou uma disputa política: revoltada com o convite da escola à ex-sem-terra Débora Rodrigues, que brigou com o MST, a viúva de Prestes, Maria Prestes, decidiu não desfilar, acompanhando os integrantes do movimento.
O curioso é que o carnavalesco da Grande Rio, Max Lopes, quer questionar, no desfile, a validade da Coluna Prestes (força armada que percorreu o interior do Brasil de outubro de 1924 a fevereiro de 1927), em face da derrocada do comunismo nos anos 80 e 90.
Embora seu enredo sobre Chico Buarque não se restrinja às lutas políticas do compositor, o carnavalesco da Mangueira, Alexandre Louzada, dará relevo a esse aspecto -tanto que a viúva de Prestes quer levar a dissidência da Grande Rio para a verde-e-rosa.
Outro enredo de cunho político é o da Vila Isabel. O carnavalesco Jorge Freitas contará a história do homem, desde o início da Idade Média até a Revolução Francesa, para mostrar que os problemas sociais permanecem até hoje.
A ala das crianças virá vestida com uma fantasia que é metade rei, metade mendigo. "As pessoas vão notar que isso tem a ver com a realidade atual", disse Freitas.
Entre os enredos politicamente corretos, há espaço para as questões ecológicas e ligadas à raça negra. O primeiro tema será abordado por três escolas (Tradição, Imperatriz e Beija-Flor). O segundo, por duas (Caprichosos e Ilha).
A carnavalesca Rosa Magalhães, da Imperatriz, pretende demonstrar que o avanço da tecnologia não foi capaz de resolver os maiores problemas da espécie humana.
Na Tradição e na Beija-Flor, a preocupação ecológica remete à preservação da selva amazônica.
A luta dos negros por seus direitos é o fio condutor do desfile da Caprichosos. A senadora Benedita da Silva (PT-RJ) será homenageada como "símbolo da capacidade de superação da raça", disse o carnavalesco Jerônimo Guimarães.
A União da Ilha retratará a vida do fotógrafo francês Pierre Verger, que registrou a cultura negra na África e na Bahia. (Mário Moreira)



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