São Paulo, quarta-feira, 08 de março de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE

Depressão pós-festa é natural, dizem especialistas

AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local

O Carnaval acabou, os amigos estão indo embora, aquele "amor" se perdeu na dispersão. Prepare-se para se sentir deprimido. Como em tantos outros carnavais, você vai ficar triste quando notar que já passam os ônibus da quarta-feira, que o céu está começando a se iluminar.
A festa acabou. É hora de tirar a fantasia, já não somos mais reis. Não adianta teimar com o sonho. "A realidade é mais forte que a fantasia", lembra o psicanalista carioca José Renato Avzaradel.
Os especialistas dizem que não há fórmulas para fugir desse cenário depressivo. O que não significa que isso seja tão ruim, tão insuportável. Ficar triste no final da festa é tão natural quanto se preparar para ela, especialmente quando se trata do nosso Carnaval, que se prolonga por dias.
A observação é do psiquiatra, psicanalista e professor emérito da Unicamp, Maurício Knobel, que contabiliza no seu rol de observações os carnavais de New Orleans e de Veneza, além de incontáveis nacionais. "Não é preciso fazer coisa alguma para fugir dessa depressão. É natural que seja assim", ele ensina.
O que não é natural é a tristeza profunda que se abate sobre alguns foliões e que se arrasta por semanas. Os estudiosos dizem que sofrem mais aqueles seres que já são depressivos e que buscam na folia do Carnaval uma compensação, uma fantasia para fazer de conta. "Negar a depressão é garantir uma ressaca bem pior depois", diz Alice Bittencourt, da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro.
Quem sentir que a depressão vai muito além da tristeza do fim de festa deve ser sensato o bastante para procurar ajuda especializada. "Muitos dos mais animados foliões estão camuflando suas depressões", acredita Knobel.
O Carnaval, especialmente no Brasil, tem esse poder. Ele permite uma baixa geral da censura, como diz Alice; transforma cada um de nós no personagem que sonhou, no mais poderoso, no mais sedutor, como afirma Avzaradel. "Escondemos nossa realidade atrás das nossas máscaras e todos viramos reis", diz Knobel.
Até aqui, tudo está dentro do figurino. Iludir-se durante meia dúzia de noites, extravasar, colocar fantasias para fora, "nada de errado há nisso", diz o professor da Unicamp. "Mas que estejamos preparados, a depressão virá com certeza. Para aqueles que não carregam problemas mais sérios, a crise depressiva faz parceria com a alegria."
Se fosse possível simplificar o ensinamento dos especialistas, poderia se dizer que o importante é não ir ao pote com sede demais. "Quem agir assim, terá mais chance de ser feliz", sugere Alice.



Texto Anterior: Polêmica baiana: Criador do axé critica o ritmo
Próximo Texto: COTIDIANO
Ambiente: Secretaria já sabia de risco na lagoa

Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.