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SAÚDE
Depressão pós-festa é natural, dizem especialistas
AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local
O Carnaval acabou, os amigos
estão indo embora, aquele "amor"
se perdeu na dispersão. Prepare-se para se sentir deprimido. Como em tantos outros carnavais,
você vai ficar triste quando notar
que já passam os ônibus da quarta-feira, que o céu está começando a se iluminar.
A festa acabou. É hora de tirar a
fantasia, já não somos mais reis.
Não adianta teimar com o sonho.
"A realidade é mais forte que a
fantasia", lembra o psicanalista
carioca José Renato Avzaradel.
Os especialistas dizem que não
há fórmulas para fugir desse cenário depressivo. O que não significa que isso seja tão ruim, tão insuportável. Ficar triste no final da
festa é tão natural quanto se preparar para ela, especialmente
quando se trata do nosso Carnaval, que se prolonga por dias.
A observação é do psiquiatra,
psicanalista e professor emérito
da Unicamp, Maurício Knobel,
que contabiliza no seu rol de observações os carnavais de New
Orleans e de Veneza, além de incontáveis nacionais. "Não é preciso fazer coisa alguma para fugir
dessa depressão. É natural que seja assim", ele ensina.
O que não é natural é a tristeza
profunda que se abate sobre alguns foliões e que se arrasta por
semanas. Os estudiosos dizem
que sofrem mais aqueles seres
que já são depressivos e que buscam na folia do Carnaval uma
compensação, uma fantasia para
fazer de conta. "Negar a depressão é garantir uma ressaca bem
pior depois", diz Alice Bittencourt, da Sociedade Brasileira de
Psicanálise do Rio de Janeiro.
Quem sentir que a depressão vai
muito além da tristeza do fim de
festa deve ser sensato o bastante
para procurar ajuda especializada. "Muitos dos mais animados
foliões estão camuflando suas depressões", acredita Knobel.
O Carnaval, especialmente no
Brasil, tem esse poder. Ele permite uma baixa geral da censura, como diz Alice; transforma cada um
de nós no personagem que sonhou, no mais poderoso, no mais
sedutor, como afirma Avzaradel.
"Escondemos nossa realidade
atrás das nossas máscaras e todos
viramos reis", diz Knobel.
Até aqui, tudo está dentro do figurino. Iludir-se durante meia
dúzia de noites, extravasar, colocar fantasias para fora, "nada de
errado há nisso", diz o professor
da Unicamp. "Mas que estejamos
preparados, a depressão virá com
certeza. Para aqueles que não carregam problemas mais sérios, a
crise depressiva faz parceria com
a alegria."
Se fosse possível simplificar o
ensinamento dos especialistas,
poderia se dizer que o importante
é não ir ao pote com sede demais.
"Quem agir assim, terá mais
chance de ser feliz", sugere Alice.
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