São Paulo, quinta-feira, 08 de março de 2007

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Picolé tem 1/3 da cota diária recomendada de açúcar

Conclusão é da Pro Teste, que analisou 5 marcas nos sabores limão e chocolate

Base de comparação utilizada é a recomendação da OMS de consumo máximo de açúcar por dia em uma dieta de 2.500 kcal

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O calor está intenso, mas convém não abusar dos sorvetes. Pesquisa realizada pela Pro Teste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor) mostra que alguns picolés vendidos no mercado contêm um terço do total de açúcar recomendado em uma dieta diária de 2.500 kcal (quilocaloria).
A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que, no máximo, 10% desse total (250 kcal) seja de açúcar simples (excluídos os carboidratos), o equivalente a 63 gramas, ou cinco colheres de açúcar.
A Pro Teste testou cinco marcas dos dois sabores de picolés mais vendidos no país -de chocolate e de limão. Os picolés de limão tinham entre 18 g e 23,8 g de açúcar adicionado, respectivamente 30% e 38% do total de açúcar recomendado no dia.
Os picolés de chocolate apresentaram resultados parecidos: entre 19,5 g e 23,6 g de açúcar, ou 32% e 38% do total de açúcar diário preconizado. As marcas avaliadas foram Kibon, Nestlé, La Basque, Sorvete Itália e Sorvete Brasil.
Na prática, o sorvete de chocolate, feito à base de leite, é ainda mais doce porque a pesquisa da Pro Teste não avaliou o teor de açúcar da lactose, apenas foi verificado o nível de açúcar adicionado aos sorvetes.
"O picolé de limão tem bem menos calorias que o de chocolate, porque é feito à base de água, enquanto o de chocolate, além do açúcar, leva leite, que contém proteína e gordura", explica Maria Carolina Guimarães, engenheira de alimentos da Pro Teste. Em média, um picolé de chocolate possui 169 kcal por 100 g, quase o dobro do de limão -88 kcal por 100 g.
Não há no país ou no mundo uma legislação que estabeleça limites máximos de açúcar nos picolés. Assim, os fabricantes ficam livres para adicionar a quantidade de açúcar que acham mais adequada. Nos EUA e na Europa, os valores de açúcar adicionado aos sorvetes são semelhantes aos do Brasil.
Na avaliação da Pro Teste, a ausência de normas é uma falha grave porque, especialmente no verão, as pessoas abusam do consumo de sorvete, o que pode resultar em problemas como sobrepeso, obesidade, diabetes e outros problemas cardiovasculares.
Para Maria Carolina, não há nenhuma razão para não existir um limite de açúcar imposto pela legislação. "A gente sabe que o açúcar leva à obesidade e causa cáries."
Para ela, os fabricantes não estão cometendo irregularidade. "O brasileiro gosta de produto açucarado. Só que vai chegar um momento em que o governo ou as próprias empresas terão que se preocupar em educar o público."
O endocrinologista Marcio Mancini, do Hospital das Clínicas, minimiza os possíveis danos causados pelo açúcar contido nos picolés. "Acho mais preocupante os sucos artificiais ou aquelas mães que acrescentam açúcar nos sucos naturais. As gorduras hidrogenadas também preocupam mais", afirma.
Segundo ele, se a pessoa pratica exercícios, pode exceder o limite dos 10% de açúcar recomendado pela OMS.

Nutricionistas
Os picolés de fruta são os mais indicados por nutricionistas e nutrólogos. Isso porque, apesar de conter açúcar, eles estão livres da gordura vegetal hidrogenada, também conhecida como gordura trans.
Presente nos sorvetes de massa, esse tipo de gordura aumenta o risco de problemas cardiovasculares.
"Uma pessoa sedentária, obesa, com altos índices glicêmicos e níveis de colesterol ruim deve evitar o consumo não só de sorvete mas de todos os alimentos que tenham gordura hidrogenada. Por isso, é preferível o sorvete de frutas", diz a nutricionista e consultora do Conselho Regional de Nutricionistas, Mariangela Dalaqua.


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