CÍNTIA ACAYABA
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA

Se o número de brasileiros barrados em aeroportos internacionais cresce a cada ano, o mesmo não acontece com os estrangeiros que visitam o país. Em todo o ano passado, o Brasil repatriou apenas 160 pessoas (somadas todas as nacionalidades). O número equivale a 5% do total de barrados só na Espanha, onde foram inadmitidos ao menos 3.000 brasileiros em 2007.
Os dados da Polícia Federal chamam ainda mais a atenção se comparados ao total de visitantes de fora do país no ano passado: 5 milhões.
No total, apenas 572 estrangeiros não puderam entrar ou permanecer no Brasil em 2007. Segundo dados da PF, foram 167 deportações, 160 repatriações, 241 expulsões e seis extradições.
Para o professor de direito internacional da USP Alberto do Amaral, os números são baixos e refletem a postura branda das autoridades brasileiras.
"As medidas espanholas são mais rigorosas que as brasileiras. Não que o Brasil não tenha essas exigências, mas, na hora de aplicá-las, as autoridades brasileiras são mais brandas do que as européias", disse.
"As autoridades espanholas aplicam a norma ao pé da letra, no caso as previstas pelo tratado de Schengen, que rege toda a União Européia", afirmou.
Segundo Amaral, o Brasil pode vir a aplicar práticas semelhantes às usadas pelos europeus. "Não se trata de retaliação, mas de reciprocidade."
A Polícia Federal, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que nenhum delegado comenta os dados de repatriações e deportações.
Para a especialista em imigração Sônia Maria de Freitas, doutora em história social pela USP, o país sempre foi aberto a receber os estrangeiros.
"Ao longo da história, o Brasil sempre teve uma política de atrair imigrantes. Só houve um certo controle na época do Getúlio [Vargas], porque ele privilegiou e nacionalizou a mão-de-obra", afirmou.
Segundo Freitas, Vargas "impôs cotas para a entrada de estrangeiros no Brasil visando dar mais oportunidades para a mão-de-obra."
Atualmente, os estrangeiros não enfrentam dificuldade para conseguir trabalhar no país. Segundo o Ministério do Trabalho, 29.488 conseguiram autorização no ano passado -1.253 tiveram o pedido indeferido. Os próprios espanhóis só tiveram 78 autorizações negadas; 878 tiveram o pedido aceito em 2007.
Segundo dados da Embratur de 2006, o número de espanhóis que entram no Brasil é superior ao de brasileiros que entram na Espanha. Naquele ano 212 mil espanhóis entraram no país. No mesmo ano, segundo a Embaixada da Espanha, 161 mil brasileiros fizeram o caminho contrário, em direção ao país europeu. A Espanha ocupa o oitavo lugar no ranking dos turistas que mais visitaram o Brasil em 2006.


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