São Paulo, sábado, 08 de março de 2008

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"Fui tratado como um ladrão", conta vendedor

CINTHIA RODRIGUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O brasiliense Marcus Vinicius da Silva dos Santos, 23, afirma que a capa verde do seu passaporte foi o que bastou para que ele fosse barrado no aeroporto de Barajas, em Madri, anteontem. O promotor de vendas iria a Paris, na França, mas encontrou o melhor preço (cerca de R$ 2.000 pela ida e volta) na companhia espanhola Iberia, com conexão em Madri.
Santos conta que o funcionário madrilenho nem abriu seu passaporte e já o encaminhou a uma sala, com cerca de 60 pessoas, todas sul-americanas -a maioria brasileira. Ele saiu do Brasil na quarta e chegou às 6h (horário de Madri) à Espanha. O vôo para Paris sairia às 8h50. "Ninguém reclamou muito.
Tínhamos medo de a situação piorar", afirmou. À tarde, funcionários começaram a fazer entrevistas em que pediram para ver dinheiro, comprovante de emprego no Brasil e de lugar onde ficar na Europa. Santos disse ser promotor de vendas em Brasília, ter mostrado os 700 que carregava, cartão de crédito e o endereço de um amigo em Paris, onde passaria uma semana. Não adiantou.
"Eles diziam que não estavam entendendo e me fizeram assinar um papel em que eu tinha direito a intérprete e advogado", conta Santos, que não fala espanhol. Duas pessoas foram liberadas. O restante viajou em um ônibus por cerca de uma hora até um local que ele não sabe identificar.
"Estava todo mundo sem comer e dormir, com fome e sede, alguns tentaram reagir. Eles pegaram as pessoas pelo braço, empurraram, trataram como ladrão, mesmo." O grupo foi entrevistado novamente na presença de advogados.
"A advogada que estava na minha entrevista nem me olhou. Não encostou em nenhum documento", reclama Santos. Às 20h foi servida a primeira e única refeição. "Uma garrafa d'água, um pão duro e uma batata frita gelada", descreve Santos. Segundo ele, foram todos barrados por "falta de documentação" sem explicação de quais documentos estariam faltando.
"Programei a viagem com amor e carinho e não pude fazer, mas o pior foi a humilhação de ficar lá jogado, sendo maltratado", conta. O vôo de volta chegou a São Paulo ontem às 7h. Só à tarde, Santos pegaria outro vôo para Brasília.
Segundo Santos, os planos de ir à França terão de ser adiados.

Cumbica
Humilhação e constrangimento. Essas foram as palavras mais usadas por brasileiros que desembarcaram ontem no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (Grande São Paulo), para resumir o que passaram no aeroporto de Madri, na Espanha. Eles foram impedidos de entrar no país.
O operador de máquinas Jesaías da Silva Souto, 24, contou que ficou seis horas detido num salão por agentes do serviço da imigração espanhola. Por não ter dinheiro suficiente exigido pela polícia de Israel, seu destino, não pôde entrar no país.
Ele foi mandado de volta ao Brasil num vôo da Iberia, com escala em Madri. Lá, conheceu mais seis brasileiros, impedidos de entrar na Espanha. Outros brasileiros ouvidos ontem pela Folha em Guarulhos relataram que a imigração espanhola está mais rigorosa.


Colaboraram RICARDO WESTIN e KLEBER TOMAZ, da Reportagem Local


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