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"Fui tratado como um ladrão", conta vendedor
CINTHIA RODRIGUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O brasiliense Marcus Vinicius da Silva dos Santos, 23,
afirma que a capa verde do seu
passaporte foi o que bastou para que ele fosse barrado no aeroporto de Barajas, em Madri,
anteontem. O promotor de
vendas iria a Paris, na França,
mas encontrou o melhor preço
(cerca de R$ 2.000 pela ida e
volta) na companhia espanhola
Iberia, com conexão em Madri.
Santos conta que o funcionário madrilenho nem abriu seu
passaporte e já o encaminhou a
uma sala, com cerca de 60 pessoas, todas sul-americanas -a
maioria brasileira. Ele saiu do
Brasil na quarta e chegou às 6h
(horário de Madri) à Espanha.
O vôo para Paris sairia às 8h50.
"Ninguém reclamou muito.
Tínhamos medo de a situação
piorar", afirmou. À tarde, funcionários começaram a fazer
entrevistas em que pediram para ver dinheiro, comprovante
de emprego no Brasil e de lugar
onde ficar na Europa. Santos
disse ser promotor de vendas
em Brasília, ter mostrado os
700 que carregava, cartão de
crédito e o endereço de um
amigo em Paris, onde passaria
uma semana. Não adiantou.
"Eles diziam que não estavam entendendo e me fizeram
assinar um papel em que eu tinha direito a intérprete e advogado", conta Santos, que não
fala espanhol. Duas pessoas foram liberadas. O restante viajou em um ônibus por cerca de
uma hora até um local que ele
não sabe identificar.
"Estava todo mundo sem comer e dormir, com fome e sede,
alguns tentaram reagir. Eles
pegaram as pessoas pelo braço,
empurraram, trataram como
ladrão, mesmo." O grupo foi
entrevistado novamente na
presença de advogados.
"A advogada que estava na
minha entrevista nem me
olhou. Não encostou em nenhum documento", reclama
Santos. Às 20h foi servida a primeira e única refeição. "Uma
garrafa d'água, um pão duro e
uma batata frita gelada", descreve Santos. Segundo ele, foram todos barrados por "falta
de documentação" sem explicação de quais documentos estariam faltando.
"Programei a viagem com
amor e carinho e não pude fazer, mas o pior foi a humilhação de ficar lá jogado, sendo
maltratado", conta. O vôo de
volta chegou a São Paulo ontem às 7h. Só à tarde, Santos
pegaria outro vôo para Brasília.
Segundo Santos, os planos de ir
à França terão de ser adiados.
Cumbica
Humilhação e constrangimento. Essas foram as palavras
mais usadas por brasileiros que
desembarcaram ontem no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (Grande São Paulo), para resumir o que passaram no
aeroporto de Madri, na Espanha. Eles foram impedidos de
entrar no país.
O operador de máquinas Jesaías da Silva Souto, 24, contou
que ficou seis horas detido num
salão por agentes do serviço da
imigração espanhola. Por não
ter dinheiro suficiente exigido
pela polícia de Israel, seu destino, não pôde entrar no país.
Ele foi mandado de volta ao
Brasil num vôo da Iberia, com
escala em Madri. Lá, conheceu
mais seis brasileiros, impedidos de entrar na Espanha. Outros brasileiros ouvidos ontem
pela Folha em Guarulhos relataram que a imigração espanhola está mais rigorosa.
Colaboraram RICARDO WESTIN e KLEBER TOMAZ, da Reportagem Local
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