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Falha em obra leva esgoto para a Billings
Sabesp lança resíduos de indústria química em braço de represa no ABC após infiltração em rede de R$ 30 milhões
Empresa diz que tratamento
prévio do esgoto na fábrica
evita dano ao ambiente,
mas Cetesb admite haver
prejuízo ao reservatório
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um braço da represa Billings
tem recebido esgoto de uma indústria química do ABC paulista devido a infiltrações em uma
obra contratada pela Sabesp
por mais de R$ 30 milhões.
Os rejeitos lançados no reservatório são da multinacional
belga Solvay, que, só na região,
produz 100 mil toneladas de soda cáustica e 240 mil de PVC
(um tipo de plástico) por ano.
Embora esse esgoto seja tratado pela fábrica, a avaliação da
agência ambiental paulista é de
que isso não é suficiente para
evitar a poluição da represa.
O despejo dos resíduos na
área de manancial está sendo
feito pela própria Sabesp nos
últimos dois meses. Ele provoca a degradação do maior reservatório da Grande São Paulo,
afeta a vida aquática e encarece
os custos do tratamento da
água distribuída à população.
A obra da Sabesp que teve as
infiltrações estava a cargo do
consórcio OAS/Saenge. Ela
contempla um sistema coletor
para transporte dos esgotos de
municípios do ABC e da Solvay
até estações de tratamento.
O problema foi detectado no
dia 16 de janeiro, a quatro dias
da inauguração da estação elevatória de esgoto de Ribeirão
Pires (para onde seriam destinados e tratados os efluentes)
pela gestão José Serra (PSDB).
O sistema coletor, que entrou
em testes em outubro de 2008
e só carregava resíduos da Solvay, teve rompimento de paredes e inundou a área da estação.
Sem dispor de rede para levar
os dejetos a lugar adequado, a
Sabesp decidiu represar a ida
do esgoto da indústria e extravasá-lo num braço da Billings.
Antes da construção do coletor, prática semelhante (condenada por técnicos e pela Cetesb) era adotada pela Solvay.
A Cetesb, responsável pelo
controle ambiental, só foi avisada do problema pela Sabesp
praticamente um mês depois
de ter havido as infiltrações.
Deterioração
O braço da Billings que recebe os efluentes da indústria
química abastece 1,6 milhão de
moradores no ABC paulista.
A maioria dos especialistas
não vê perigo imediato ao consumo da população até porque
a água também passa por outros tratamentos na Sabesp.
O problema é destacado mais
devido à deterioração da represa -que compromete a disponibilidade de água no futuro- e
à característica dos resíduos.
Virgílio Alcides de Farias,
presidente do movimento em
defesa da vida do Grande ABC,
conta que a Billings recebe esgoto tanto de residências como
de "dezenas" de empresas. Mas
ressalta: "O resíduo da Solvay é
industrial e químico. Trata-se
do pior de todos. E a quantidade é imensa", afirma Farias, em
referência ao volume de 60 litros de esgoto por segundo provenientes da empresa belga.
"O esgoto é tratado, mas não
deixa de ser esgoto. Não pode
haver complacência em dizer
que não vai ter alteração significativa no reservatório", afirma Carlos Bocuhy, presidente
do Proam (Instituto Brasileiro
de Proteção Ambiental).
"O tratamento do esgoto na
indústria também pode ter
problemas técnicos. O lançamento na represa se torna de
alto risco. O esgoto poderia sair
de lá por caminhão-pipa. A solução atual é a mais barata para
as empresas, mas a mais cara
para a represa", avalia Bocuhy.
Embora a Sabesp e a Solvay
neguem danos ambientais (sob
a justificativa de que há tratamento do esgoto), a própria
agência ambiental do governo
do Estado admite prejuízos.
"Por mais que se trate, sobra
um residual. Tanto residual de
metal como de carga orgânica.
Área de proteção de manancial
não é para receber nenhum tipo de lançamento de esgoto",
diz Ronald Magalhães, gerente
da Cetesb em Santo André.
Ele afirma que a Sabesp poderá ser multada "se não der
prioridade" para consertar a
obra. A causa das infiltrações
não é revelada pela companhia
nem pelas construtoras.
O coletor que sofreu as fissuras foi exigido pela Cetesb exatamente para garantir um destino adequado do esgoto, evitando seu despejo na Billings.
Não à toa foi cobrado também
um ramal específico da Solvay
-que bancou R$ 2 milhões, a
ser reembolsado pela Sabesp.
A obra toda teve sucessivos
atrasos. Começou em 2003 para ser concluída até 2005, mas
até hoje não ficou pronta. Embora condene a situação, a Cetesb nunca puniu ninguém pela
continuidade do problema.
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