São Paulo, domingo, 08 de abril de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Maternidade tardia vira estopim para guerra de hormônios

Para azar dos maridos, mães entram no climatério, fase anterior à menopausa, quando os filhos começam a enfrentar as turbulências da adolescência

MARIANNE PIEMONTE
DA REVISTA DA FOLHA

O personal trainer Antônio Mendes da Silva, 47, vive entre a puberdade e o climatério. Embora ele, é claro, não passe fisicamente por nenhum dos dois fenômenos, é obrigado a encará-los ao mesmo tempo, personificados no que chama de "mulheres de minha vida".
A parceira Solange, 46, começa a encarar o climatério (fase anterior à menopausa); a enteada, Stela, 17, está em plena crise da adolescência.
"Passei a ter oscilações de humor repentinas. Chorava copiosamente só porque meu marido estava entretido com a TV e não comigo", conta Solange.
A filha também vive um momento delicado. "Tenho muitas dúvidas, desde o que vestir até que carreira seguir", explica.
"Adotei a seguinte tática de sobrevivência: penso muito antes de falar e, quando acho que vai encrencar, saio correndo, literalmente", explica Antônio.
Os Silva vivem um fenômeno social cada vez mais comum em famílias cujas mulheres adotaram a maternidade tardia e vivem os sintomas do climatério na mesma época em que os filhos entram na adolescência.
Esse é o momento em que o casal tem que permanecer mais unido, e filhos e pais, mais íntimos, diz a terapeuta Lídia Aratangy, que acaba de lançar o livro "O Anel Que Tu me Deste" (ed. Artemeios, pág. 192, R$ 29), sobre relacionamentos. Enquanto os adolescentes são bombardeados pela saraivada de hormônios, responsáveis pelo desenvolvimento do aparelho reprodutor, mulheres no climatério sofrem de "puberdade invertida", segundo Rosana Simões, ginecologista e responsável pelo Ambulatório de Sexualidade da Unifesp.

Sem ânimo
Essa mulher produzirá menos hormônio feminino, o estradiol. Isso leva a trofismo da pele (perda de viço), ressecamento de mucosas (inclusive vaginal), dificuldade no metabolismo de gordura, pessimismo, fadiga e depressão.
Em contrapartida, metabolizará mais androgênios, hormônios masculinos, o que pode provocar aumento de apetite, surgimento de pêlos típicos masculinos (no queixo, por exemplo). O músculo da mama será substituído por gordura.
Para superar a lista de problemas físicos e emocionais, algumas recorrem à alimentação à base de isoflavonas, como a soja, um "estrogênio natural".
"A ausência desse hormônio provoca as famigeradas ondas de calor, sudorese, tontura, nervosismo, cansaço, depressão e irritabilidade", explica a ginecologista endócrino da USP Angela Maggio.
O gestor de negócios ambientais Elcio Elias Martins, 56, também tenta evitar confronto com os hormônios da mulher, a professora Ezia Bueno Martins, 57, e os do filho, Gabriel, 19. Sua tática: voto de silêncio.
Ezia diz que sempre teve gênio forte, mas o climatério a transformou "em uma pessoa pior". "A sorte é que meu marido é equilibradíssimo", elogia.

Reposição hormonal
Quem também passou a ter rompantes foi a comerciante Fátima da Costa, 54, mãe de Rogério, 13. Ela conta que o menino oscila interesses adultos e voluntarismos infantis, tais como um pastel logo depois de deixar o dentista.
"Quando entramos em casa, comecei a chorar e briguei com ele aos berros", diz Fátima, que desistiu da reposição hormonal por ser um tratamento longo.
O engenheiro José Vicente Mammana, 59, conta que a suavidade havia sido deixada de lado em sua casa, até que a mulher resolveu fazer reposição hormonal. "O mundo voltou a ser o que era em três meses."
"Antes, natural era morrer depois de reproduzir; hoje, natural é qualidade de vida. É aí que entra a reposição", afirma Lídia Aratangy.


Texto Anterior: No CE, caminhão perde a direção, atropela romeiros e mata oito
Próximo Texto: Saiba mais: Mudança também afeta o cérebro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.