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Maternidade tardia vira estopim para guerra de hormônios
Para azar dos maridos, mães entram no climatério, fase anterior à menopausa, quando os filhos começam a enfrentar as turbulências da adolescência
MARIANNE PIEMONTE
DA REVISTA DA FOLHA
O personal trainer Antônio
Mendes da Silva, 47, vive entre
a puberdade e o climatério.
Embora ele, é claro, não passe
fisicamente por nenhum dos
dois fenômenos, é obrigado a
encará-los ao mesmo tempo,
personificados no que chama
de "mulheres de minha vida".
A parceira Solange, 46, começa a encarar o climatério (fase
anterior à menopausa); a enteada, Stela, 17, está em plena
crise da adolescência.
"Passei a ter oscilações de
humor repentinas. Chorava copiosamente só porque meu marido estava entretido com a TV
e não comigo", conta Solange.
A filha também vive um momento delicado. "Tenho muitas
dúvidas, desde o que vestir até
que carreira seguir", explica.
"Adotei a seguinte tática de
sobrevivência: penso muito antes de falar e, quando acho que
vai encrencar, saio correndo, literalmente", explica Antônio.
Os Silva vivem um fenômeno
social cada vez mais comum em
famílias cujas mulheres adotaram a maternidade tardia e vivem os sintomas do climatério
na mesma época em que os filhos entram na adolescência.
Esse é o momento em que o
casal tem que permanecer mais
unido, e filhos e pais, mais íntimos, diz a terapeuta Lídia Aratangy, que acaba de lançar o livro "O Anel Que Tu me Deste"
(ed. Artemeios, pág. 192, R$
29), sobre relacionamentos.
Enquanto os adolescentes são
bombardeados pela saraivada
de hormônios, responsáveis
pelo desenvolvimento do aparelho reprodutor, mulheres no
climatério sofrem de "puberdade invertida", segundo Rosana
Simões, ginecologista e responsável pelo Ambulatório de Sexualidade da Unifesp.
Sem ânimo
Essa mulher produzirá menos hormônio feminino, o estradiol. Isso leva a trofismo da
pele (perda de viço), ressecamento de mucosas (inclusive
vaginal), dificuldade no metabolismo de gordura, pessimismo, fadiga e depressão.
Em contrapartida, metabolizará mais androgênios, hormônios masculinos, o que pode
provocar aumento de apetite,
surgimento de pêlos típicos
masculinos (no queixo, por
exemplo). O músculo da mama
será substituído por gordura.
Para superar a lista de problemas físicos e emocionais, algumas recorrem à alimentação
à base de isoflavonas, como a
soja, um "estrogênio natural".
"A ausência desse hormônio
provoca as famigeradas ondas
de calor, sudorese, tontura,
nervosismo, cansaço, depressão e irritabilidade", explica a
ginecologista endócrino da
USP Angela Maggio.
O gestor de negócios ambientais Elcio Elias Martins, 56,
também tenta evitar confronto
com os hormônios da mulher, a
professora Ezia Bueno Martins, 57, e os do filho, Gabriel,
19. Sua tática: voto de silêncio.
Ezia diz que sempre teve gênio forte, mas o climatério a
transformou "em uma pessoa
pior". "A sorte é que meu marido é equilibradíssimo", elogia.
Reposição hormonal
Quem também passou a ter
rompantes foi a comerciante
Fátima da Costa, 54, mãe de
Rogério, 13. Ela conta que o menino oscila interesses adultos e
voluntarismos infantis, tais como um pastel logo depois de
deixar o dentista.
"Quando entramos em casa,
comecei a chorar e briguei com
ele aos berros", diz Fátima, que
desistiu da reposição hormonal
por ser um tratamento longo.
O engenheiro José Vicente
Mammana, 59, conta que a suavidade havia sido deixada de lado em sua casa, até que a mulher resolveu fazer reposição
hormonal. "O mundo voltou a
ser o que era em três meses."
"Antes, natural era morrer
depois de reproduzir; hoje, natural é qualidade de vida. É aí
que entra a reposição", afirma
Lídia Aratangy.
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