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CHUVA E MORTE NO RIO
CONTINUA...
O RIO de Janeiro ainda contava seus mortos
quando um novo deslizamento em Niterói, no morro do Bumba, atingiu cerca de
50 casas, muitas delas ocupadas, na noite
de ontem. Em pouco tempo, o Corpo de Bombeiros
confirmou as primeiras duas vítimas do novo incidente, elevando o número de mortes para 147.
No geral, favelas já urbanizadas concentraram as
mortes na tragédia, revelando falhas de planejamento
e manutenção de obras e na coleta de lixo. No morro
dos Prazeres, onde 22 pessoas morreram, houve retenção de R$ 2,6 bilhões em complemento à urbanização feita em 2005. Ali, a luta de Marcos Mata, 8, deu
rosto às estatísticas -após um resgate de oito horas,
em que conversou com os bombeiros, ele morreu soterrado por um novo deslizamento.
Fernando Quevedo/Agência O Globo
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Bombeiros trabalham em resgate no morro do Bumba, em Niterói, onde ocorreu novo deslizamento ontem
DA SUCURSAL DO RIO
O deslizamento em Niterói
ocorreu por volta das 21h de
ontem. A operação de resgate
mobilizou mais de cem homens
e, até a 1h30 , três mortes foram
confirmadas oficialmente. As
três vítimas eram mulheres, segundo a Defesa Civil.
Com elas, das 148 mortes registradas no Estado do Rio até
então, 82 eram de Niterói. As
equipes de socorro resgataram
ao menos 21 pessoas com vida.
Dessas, segundo a Defesa Civil,
oito eram crianças.
"Quando ouvi o estrondo, só
pensei em sair correndo. Por
sorte, meus familiares também
conseguiram escapar", contou
a dona de casa Maria Auxiliadora dos Santos, 54.
Antes dessa nova tragédia, o
dia seguinte à tempestade que
arrasou o Rio era de esperança
e recomeço. Com as ruas mais
limpas, o trânsito voltou ao
normal. O comércio reabriu.
As escolas foram exceção -
não houve aulas ontem. Em São
Gonçalo e Niterói, os colégios
continuarão fechados hoje; no
Rio, voltarão a funcionar.
O nível da água na lagoa Rodrigo de Freitas baixou. A prefeitura liberou parte do trânsito na avenida Borges de Medeiros, que a circunda. A previsão é
de tempo encoberto e chuvoso
até domingo em todo o Rio.
O mau tempo fez o aeroporto
do Galeão fechar por alguns
instantes e cancelar sete voos.
A Comlurb (empresa responsável pela limpeza urbana) recolheu 5.790 toneladas de lama
e lixo desde segunda na capital.
Segundo a Defesa Civil fluminense, o número de desabrigados nas cidades mais atingidas pelas chuvas dos últimos
dias no Estado é de 3.262. Os
desalojados são 11.439. No Rio
há ao menos 1.972 pessoas em
abrigos, e em Niterói, 2.732.
Ontem, o Ministério da Saúde enviou mais de cinco toneladas de medicamentos.
Niterói
A tragédia em Niterói foi
maior, em número de mortes,
que na capital do Estado.
O problema das encostas na
cidade, diz Julio Wasserman,
professor da UFF (Universidade Federal Fluminense), acabou sendo tratado de "maneira
superficial" nos últimos três
anos. "Os estudos feitos inclusive por equipes da universidade em que trabalho não contaram com recursos necessários
para irem muito longe."
De acordo com ele, há três
anos, uma equipe de técnicos
identificou algumas áreas de
risco na cidade. A prefeitura, na
época, fez obras emergenciais
nessas zonas mais críticas.
"O grande problema é que,
sendo uma região de alto risco,
onde o espaço é ocupado dia a
dia, as coisas evoluem. O que
era seguro havia seis meses não
é mais hoje", afirma.
A Folha não conseguiu ontem contato com ninguém da
Prefeitura de Niterói para comentar o assunto.
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