São Paulo, sexta-feira, 08 de abril de 2011

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Segundo vizinhos e irmã, assassino era tímido e estranho

Wellington Oliveira não tinha amigos e era viciado em internet, afirmam; "Vivia no mundo dele", diz vizinha

Polícia constatou que, antes de sair de casa, o rapaz quebrou todos os eletrodomésticos e pôs fogo no computador

ELVIRA LOBATO
DO RIO

LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

"Ele estava sempre segurando firme nas alças da mochila, como se não soubesse onde pôr as mãos. Andava naquele passo "pisando em nuvens", para cima e para baixo, e nunca tirava os olhos do chão". Assim, Flavio dos Santos, 27, lembrava-se de Wellington Menezes de Oliveira, 23, o vizinho "esquisito, quietão e meio nerd".
O menino sempre foi quieto, quase invisível. No recreio da escola, ficava sentado, sozinho, no meio da algazarra.
Os colegas que com ele cursaram o ensino fundamental na Escola Municipal Tasso da Silveira, entre 1999 e 2002, têm dificuldades para falar sobre o menino Wellington. Quando se pergunta por um amigo, a resposta mais comum era: "Ele não tinha amigos". Namorada?
"Nunca pegou ninguém".

ÚNICO AMIGO
Um colega de escola, Diego Peterson, lembrou de um único relacionamento: "Era com um tal de Bruno, que era fanho. Sempre andavam juntos e, quando a gente os chamava de "retardados", sorriam aquele sorriso amarelo."
"Mas eram brincadeiras inocentes", diz o rapaz musculoso. Segundo o jovem, Wellington nem jogava futebol, apesar do campinho na frente da casa em que morava. "Só andava para cima e para baixo com a mãe, que ele amava", conta.
A mãe Dicéa Menezes de Oliveira era Testemunha de Jeová -a família frequentava o salão da igreja que ficava da mesma rua. Dicéa andava pelo bairro todo oferecendo as publicações do grupo religioso, e Wellington, filho adotivo caçula, ia com ela.

ADOÇÃO
Dicéa tinha cinco filhos biológicos quando Wellington chegou à casa 830 da rua Jequitinhonha. "Foi uma festa. Wellington tinha três dias de vida. A mãe verdadeira era uma sobrinha do primeiro marido de Dicéa, mas, como tinha problemas mentais, entregou o filho para a Dicéa criar. E ela criou como se fosse dela", diz a vizinha de parede.
O ensino médio, que fez no colégio Madre Tereza de Calcutá, também em Realengo, Wellington viveu ainda na sombra. Tirava boas notas, nunca foi expulso de classe, mas estava sempre calado. Sumia entre os 50 alunos.
Até a irmã Rosilane, com quem Wellington viveu até o ano passado, achava-o diferente. "Era muito estranho mesmo. Não era de sair. Vivia no computador e não tinha amigos", disse ela, ontem, à Rádio BandNews FM.
"Quando não estava trabalhando, ficava trancado no quarto, na frente do computador. A irmã tinha dificuldade para limpar o quarto dele. Havia dias em que ele nem comia", disse uma vizinha.

CABEÇA BAIXA
Desde outubro, depois que a mãe adotiva morreu de enfarte, o jovem vivia isolado em uma casa em Sepetiba, na zona oeste do Rio. Na segunda-feira passada, foi visto caminhando, em Realengo, pelas ruas próximas à Escola Municipal Tasso de Oliveira.
Segundo moradores, ele estava vestido de preto e caminhava de cabeça baixa. Wellington estava desempregado desde agosto de 2010. Ele trabalhou por dois anos no almoxarifado da indústria de alimentos Rica, de onde foi demitido por falta de produtividade, segundo a empresa. No trabalho, também não fez amigos.
A casa de Sepetiba -ao sair para o massacre, o rapaz quebrou todos os eletrodomésticos do local e pôs fogo no computador- fica bem em frente a uma escola pública estadual, um Ciep.
O diretor do colégio, Edmilson da Silva, afirmou que nunca temeu o comportamento do vizinho. "Parecia um rapaz tranquilo."


Colaboraram CIRILO JÚNIOR, CRISTINA CASTRO e FERNANDO MAGALHÃES


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