São Paulo, sexta-feira, 08 de abril de 2011 |
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ANÁLISE Prever comportamento violento é mais difícil do que parece HÉLIO SCHWARTSMAN ARTICULISTA DA FOLHA É possível prever e prevenir ataques como o da escola de Realengo? Muita gente aposta que sim. Os primeiros candidatos a querer fazê-lo são os psiquiatras, que têm pesadelos recorrentes com pacientes seus cometendo atos de violência. A principal ferramenta que usam para evitar que o sonho se torne realidade é o PCL-R. Trata-se de um teste, mais especificamente um "checklist", desenvolvido por Robert Hare para ajudar a diagnosticar casos de psicopatia e que também se mostrou útil para antecipar comportamentos violentos. O teste é muito utilizado nos EUA para definir internações compulsórias, e, no sistema prisional, para decidir sobre progressão de pena e liberdade condicional. O PCL-R avalia quesitos relacionados à personalidade (capacidade de mentir, sentir remorso e empatia, aceitar responsabilidade) e a história social do paciente (delinquência juvenil, episódios de descontrole emocional). A ideia de prever o risco com testes simples frutificou, de modo que há métodos disponíveis até na internet. Por exemplo: o Mosaic (www.mosaicmethod.com), disponível nas versões violência doméstica (a única gratuita), figuras públicas, autoridades judiciárias, ambiente de trabalho e escolas. Como o PCL-R, o Mosaic combina questões de personalidade com a ficha corrida, mas explora também aspectos relacionados à potencial vítima e relaciona tudo isso ao histórico de ataques. Apresenta o risco da situação numa escala de 1 a 10. A pergunta fundamental é: esses testes funcionam? Em termos. Eles apresentam taxa de sucesso superior ao esperado se só o acaso atuasse. Mas, isso só ocorre porque estamos usando o questionário ou "checklist" em casos que já consideramos de risco. Se aplicarmos o PCL-R à população carcerária dos EUA, mais de 80% obterão escores altos, compatíveis com alguma psicopatia. O problema é que, na população comum, sem história de crime, 40% também atingem pontuações elevadas. Na prática, é quase impossível diferenciar a informação relevante do ruído. Ou melhor, quando se conhece o final da história, é fácil juntar informações pós-selecionadas e afirmar que alguém foi incompetente, que não viu o que era óbvio. Essa ilusão cognitiva, leva o nome de "hindsight bias", ou engenharia de obra feita, numa tradução livre. Texto Anterior: Dilma chora ao falar da morte de "brasileirinhos" Próximo Texto: Atirador nem sempre é doente, diz psiquiatra Índice | Comunicar Erros |
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