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São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2003

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PASQUALE CIPRO NETO

"Quem faz um curso forte..."

O cartaz de uma escola de idiomas anuncia: "Quem faz um curso forte...". Já me referi (vagamente) a essa construção no ano passado. Deixemos de lado o resto dessa mensagem. Quero saber como você a encerraria. Mais precisamente, quero que você dê a essa frase dois finais distintos, de modo que em cada uma delas sejam diferentes as relações estabelecidas entre as palavras "forte" e "curso".
Já descobriu o que quero? Vou ajudar. Se pensarmos em "Quem faz um curso forte tem mais chance de aprovação em concursos públicos" e "Quem faz um curso forte é sua equipe de professores", veremos com clareza que o papel que a palavra "forte" exerce no primeiro exemplo é bem diferente do que exerce na segunda frase.
Imagino, no entanto, que a disposição dos termos que iniciam a segunda frase ("Quem faz um curso forte...") tenha levado você a supor, num primeiro instante, que "forte" fosse um atributo já possuído pelo curso, ou seja, o curso é forte e quem o frequenta... Na sequência, você percebe que não é essa a idéia que se deseja transmitir.
Bem, aonde quero chegar? Vamos lá: o papel que "forte" tem no segundo exemplo seria captado imediatamente se esse adjetivo tivesse sido posto antes de "curso". Teríamos, então, algo como "Quem faz forte um curso é sua equipe de professores".
Permita-me, agora, o emprego de alguns palavrões técnicos. Em "Quem faz um curso forte tem mais chance de...", o termo "forte" funciona como simples adjunto do nome "curso". Numa eventual substituição do complemento de "faz" por um pronome oblíquo, teríamos algo como "Quem o faz tem mais chance de aprovação...". Como se vê, o adjunto ("forte") simplesmente desaparece, já que o pronome "o" substitui o complemento de "faz", que, no caso, é "um curso forte".
Em "Quem faz forte um curso é sua equipe de professores", teríamos "Quem o faz forte é sua equipe de professores". "Forte" agora não é simples adjunto; é predicativo do complemento de "faz", que, no caso, é apenas "um curso" (e não "um curso forte").
Qual é o resultado prático dessa conversa toda? É simples: construir frases claras. Qual é o primeiro sentido que nos vem à mente quando lemos, por exemplo, algo como "Conserve seu aparelho novo"? Provavelmente, pensaremos na idéia de que é preciso fazer a conservação do aparelho que se acabou de comprar.
No entanto, se formos rigorosos, veremos que a frase comporta duas interpretações, o que não ocorre se "novo" vier antes de "aparelho": "Conserve novo seu aparelho". Mudou tudo, não?
Vamos empregar o recurso da substituição do complemento do verbo por um pronome oblíquo. Se o que se quer dizer corresponde a algo como "Conserve-o novo", é melhor colocar "novo" antes de "aparelho": "Conserve novo seu aparelho". Se o sentido desejado for o outro, é melhor partir para algo como "Faça a conservação de seu aparelho novo".
Essa orientação vale para frases em que se empregam verbos como "deixar", "encontrar", "manter" etc. Em "Deixamos a sala branca", por exemplo, há ambiguidade; em "Deixamos branca a sala", não há. Percebeu? É isso.


Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras
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