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PASQUALE CIPRO NETO
"Quem faz um curso forte..."
O cartaz de uma escola
de idiomas anuncia: "Quem
faz um curso forte...". Já me referi
(vagamente) a essa construção no
ano passado. Deixemos de lado o
resto dessa mensagem. Quero saber como você a encerraria. Mais
precisamente, quero que você dê a
essa frase dois finais distintos, de
modo que em cada uma delas sejam diferentes as relações estabelecidas entre as palavras "forte" e
"curso".
Já descobriu o que quero? Vou
ajudar. Se pensarmos em "Quem
faz um curso forte tem mais chance de aprovação em concursos públicos" e "Quem faz um curso forte é sua equipe de professores", veremos com clareza que o papel
que a palavra "forte" exerce no
primeiro exemplo é bem diferente
do que exerce na segunda frase.
Imagino, no entanto, que a disposição dos termos que iniciam a
segunda frase ("Quem faz um
curso forte...") tenha levado você
a supor, num primeiro instante,
que "forte" fosse um atributo já
possuído pelo curso, ou seja, o
curso é forte e quem o frequenta...
Na sequência, você percebe que
não é essa a idéia que se deseja
transmitir.
Bem, aonde quero chegar? Vamos lá: o papel que "forte" tem no
segundo exemplo seria captado
imediatamente se esse adjetivo tivesse sido posto antes de "curso".
Teríamos, então, algo como
"Quem faz forte um curso é sua
equipe de professores".
Permita-me, agora, o emprego
de alguns palavrões técnicos. Em
"Quem faz um curso forte tem
mais chance de...", o termo "forte"
funciona como simples adjunto
do nome "curso". Numa eventual
substituição do complemento de
"faz" por um pronome oblíquo,
teríamos algo como "Quem o faz
tem mais chance de aprovação...". Como se vê, o adjunto
("forte") simplesmente desaparece, já que o pronome "o" substitui
o complemento de "faz", que, no
caso, é "um curso forte".
Em "Quem faz forte um curso é
sua equipe de professores", teríamos "Quem o faz forte é sua equipe de professores". "Forte" agora
não é simples adjunto; é predicativo do complemento de "faz",
que, no caso, é apenas "um curso"
(e não "um curso forte").
Qual é o resultado prático dessa
conversa toda? É simples: construir frases claras. Qual é o primeiro sentido que nos vem à
mente quando lemos, por exemplo, algo como "Conserve seu
aparelho novo"? Provavelmente,
pensaremos na idéia de que é preciso fazer a conservação do aparelho que se acabou de comprar.
No entanto, se formos rigorosos,
veremos que a frase comporta
duas interpretações, o que não
ocorre se "novo" vier antes de
"aparelho": "Conserve novo seu
aparelho". Mudou tudo, não?
Vamos empregar o recurso da
substituição do complemento do
verbo por um pronome oblíquo.
Se o que se quer dizer corresponde
a algo como "Conserve-o novo", é
melhor colocar "novo" antes de
"aparelho": "Conserve novo seu
aparelho". Se o sentido desejado
for o outro, é melhor partir para
algo como "Faça a conservação
de seu aparelho novo".
Essa orientação vale para frases
em que se empregam verbos como
"deixar", "encontrar", "manter"
etc. Em "Deixamos a sala branca", por exemplo, há ambiguidade; em "Deixamos branca a sala", não há. Percebeu? É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras
E-mail - inculta@uol.com.br
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