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São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2003

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AMBIENTE

Cetesb diz que medida é preventiva, mas não descarta a possibilidade de migração dos contaminantes da favela Paraguai

CDP e shopping terão de ser investigados

JOÃO CARLOS SILVA
MARIANA VIVEIROS

DA REPORTAGEM LOCAL

Por determinação da Cetesb (agência ambiental do governo paulista), a Sabesp terá de realizar a investigação do subsolo no Centro de Detenção Provisória (CDP) e no Central Plaza Shopping, vizinhos à favela Paraguai, na Vila Prudente (zona leste de SP).
O terreno da favela, que pertence à Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) desde 1980, está contaminado por metano, areia de fundição e borras oleosas que contêm substâncias tóxicas e cancerígenas acima dos limites permitidos. A poluição também atingiu as águas subterrâneas do local, onde, segundo o Censo do IBGE, oito domicílios se abastecem por meio de poços ou nascentes.
A agência ambiental sustenta que a ampliação da investigação é uma medida de prevenção, mas não descarta totalmente a possibilidade de parte dos contaminantes ter migrado pelo subsolo em direção ao CDP e ao shopping.
O maior risco, nesses dois casos, é o de facilitação de incêndios e, em situação extrema, de explosões, uma vez que o metano e os compostos que formam as borras oleosas são inflamáveis.
Segundo o relatório da empresa Geoclock, contratada pela Sabesp para fazer a avaliação do local, existem três pontos próximos à divisa com o shopping onde há altas concentrações de metano.
O CDP, por sua vez, fica no meio de uma área onde há substâncias como benzeno, tolueno e xileno (tóxicas), embora elas não estejam em altas concentrações.
A ampliação das investigações deve ocorrer até o fim do ano, segundo João Antonio Romano, gerente da Cetesb para a região.
"No caso do shopping, já fizemos medições em poços da rede elétrica e de água, mas não encontramos metano. No caso do CDP, fizemos medições bem próximas à muralha, e os resultados também foram negativo. Mas só podemos dizer que não há risco depois que forem perfurados poços de monitoramento nesses locais", afirma Elton Gloeden, assessor da presidência da agência ambiental.
Em documento datado de 27 de janeiro, os responsáveis pela área de emergências da Cetesb afirmam que a Sabesp havia se comprometido a pedir autorização às administrações dos dois locais, para entrar e perfurar os poços.
Segundo a assessoria de imprensa do Central Plaza, porém, a administração do shopping, que ocupa 100 mil m2, não foi notificada de nenhuma possibilidade de contaminação no terreno.
Já a Secretaria de Estado da Administração Penitenciária afirmou ter conhecimento de que seriam feitas sondagens no subsolo do CDP, mas não informou se elas já haviam começado e disse não saber de eventuais resultados.
"Se houvesse metano no terreno [do shopping", quando foram feitas as fundações, isso teria aparecido e o problema teria sido relatado", defende Romano. No caso do conjunto Barão de Mauá (Grande SP), porém, edifícios residenciais foram construídos sobre um antigo lixão, onde havia metano e gases tóxicos, mas isso não foi informado às autoridades, que só descobriram o problema depois de uma explosão.

Responsabilidade
Responsável legal pela área contaminada da favela Paraguai, a Sabesp não dá declarações sobre o problema desde segunda-feira porque, segundo sua assessoria de imprensa, o governo estadual decidiu que somente a Secretaria de Estado do Meio Ambiente se manifestaria sobre o caso.
A empresa de saneamento terá de assumir as consequências, no entanto, perante a população, afirma o promotor do Meio Ambiente Carlos Alberto de Sales, que preside o inquérito do caso.
"Nossa função não é só garantir a solução da questão ambiental. Se for o caso, a Sabesp terá de indenizar as pessoas que vivem na favela. Não importa se a ocupação é irregular porque a responsabilidade por impedir que ela ocorresse era da empresa, principalmente depois do último incêndio [em dezembro, quando 300 barracos foram destruídos"", disse.


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