São Paulo, domingo, 08 de maio de 2005

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MATERNIDADE EM PARCELAS

Tratamento possibilita gestação, mas o custo é alto

Casais fazem financiamento para auxiliar gravidez difícil

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Alice nasce em 15 dias, mas os pais continuarão "pagando pela menina" até julho, quando liquidam uma dívida de R$ 6.000 que fizeram para gerá-la. O tratamento de reprodução assistida que possibilitou a gravidez da mãe foi parcelado em 12 vezes.
Os quíntuplos Ana Helena, Milena, Vitória, Nicolas e Ramon completam dois anos e meio amanhã e só terminaram de ser "pagos" há cinco meses. Os pais recorreram a um financiamento de R$ 18 mil para tê-los.
As crianças fazem parte de uma nova geração de bebês que nasceram por meio das técnicas de reprodução assistida -acessíveis a apenas 2% dos casais inférteis.
Sem condições de pagar pelo tratamento à vista, muitos casais estão recorrendo a empréstimos bancários, cuja quitação só ocorre depois do bebê nascido. "Ela já vai nascer com dívida. Ainda bem que é uma dívida que vai render muitos lucros", brinca a mãe de Alice, Elzi Ayres Ferreira, 34.
A menina chegará após 13 anos de tentativas dos pais. Mãe de um jovem de 18 anos do primeiro casamento, Elzi não conseguia engravidar em razão dos poucos espermatozóides do marido, o engenheiro Mauro Viana, 44.
Mesmo ciente do problema, o casal adiou por vários anos o tratamento de reprodução assistida. "Preferimos construir a casa, trocar de carro e viajar. Mas a lacuna do filho continuava", diz.
Em 2000, fizeram duas inseminações, que não deram certo. Voltaram a tentar dois anos depois. Elzi engravidou, mas perdeu o bebê no início da gestação.
No ano passado, o casal resolveu investir em uma última tentativa. "Parcelamos o valor em seis vezes no cartão e o restante no cheque pré-datado. O valor foi equivalente à prestação de um carro", compara Elzi.

Quíntuplos
"Benhê, agora ninguém tasca. Eles são todos nossos", disse o comerciante Jaime Bacchin, 53, à mulher Jiselle, 36, quando quitou a última parcela de R$ 642,00 do financiamento que fez para a fertilização que resultou no nascimento dos quíntuplos.
O casal, de Piracicaba (SP), demorou quase três anos para liquidar a dívida. "Foi suado. Havíamos programado o pagamento calculando as despesas que teríamos com um filho. Imagine o que foi multiplicar os gastos por cinco", lembra Jiselle.
Com a ajuda de parentes e amigos, eles têm conseguido sustentar a inesperada família. "O último lote de fraldas veio do clube onde o Jaime joga bola. Um dos rapazes fez aniversário e pediu que o presente fossem fraldas."
O problema tem sido na renovação do plano de saúde. Até completarem dois anos, as crianças tinham um desconto de 50%. Agora, perderam o benefício e a família não tem como arcar com os R$ 550 mensais.
"Não podemos depender do sistema público. Uma das minhas filhas teve descolamento de retina e um dos meninos tem bronquite asmática", conta Jiselle, que vê na resolução desse impasse o melhor presente de Dia das Mães.


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