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MATERNIDADE EM PARCELAS
Tratamento possibilita gestação, mas o custo é alto
Casais fazem financiamento
para auxiliar gravidez difícil
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Alice nasce em 15 dias, mas os
pais continuarão "pagando pela
menina" até julho, quando liquidam uma dívida de R$ 6.000 que
fizeram para gerá-la. O tratamento de reprodução assistida que
possibilitou a gravidez da mãe foi
parcelado em 12 vezes.
Os quíntuplos Ana Helena, Milena, Vitória, Nicolas e Ramon
completam dois anos e meio
amanhã e só terminaram de ser
"pagos" há cinco meses. Os pais
recorreram a um financiamento
de R$ 18 mil para tê-los.
As crianças fazem parte de uma
nova geração de bebês que nasceram por meio das técnicas de reprodução assistida -acessíveis a
apenas 2% dos casais inférteis.
Sem condições de pagar pelo
tratamento à vista, muitos casais
estão recorrendo a empréstimos
bancários, cuja quitação só ocorre
depois do bebê nascido. "Ela já vai
nascer com dívida. Ainda bem
que é uma dívida que vai render
muitos lucros", brinca a mãe de
Alice, Elzi Ayres Ferreira, 34.
A menina chegará após 13 anos
de tentativas dos pais. Mãe de um
jovem de 18 anos do primeiro casamento, Elzi não conseguia engravidar em razão dos poucos espermatozóides do marido, o engenheiro Mauro Viana, 44.
Mesmo ciente do problema, o
casal adiou por vários anos o tratamento de reprodução assistida.
"Preferimos construir a casa, trocar de carro e viajar. Mas a lacuna
do filho continuava", diz.
Em 2000, fizeram duas inseminações, que não deram certo. Voltaram a tentar dois anos depois.
Elzi engravidou, mas perdeu o bebê no início da gestação.
No ano passado, o casal resolveu investir em uma última tentativa. "Parcelamos o valor em seis
vezes no cartão e o restante no
cheque pré-datado. O valor foi
equivalente à prestação de um
carro", compara Elzi.
Quíntuplos
"Benhê, agora ninguém tasca.
Eles são todos nossos", disse o comerciante Jaime Bacchin, 53, à
mulher Jiselle, 36, quando quitou
a última parcela de R$ 642,00 do
financiamento que fez para a fertilização que resultou no nascimento dos quíntuplos.
O casal, de Piracicaba (SP), demorou quase três anos para liquidar a dívida. "Foi suado. Havíamos programado o pagamento
calculando as despesas que teríamos com um filho. Imagine o que
foi multiplicar os gastos por cinco", lembra Jiselle.
Com a ajuda de parentes e amigos, eles têm conseguido sustentar a inesperada família. "O último lote de fraldas veio do clube
onde o Jaime joga bola. Um dos
rapazes fez aniversário e pediu
que o presente fossem fraldas."
O problema tem sido na renovação do plano de saúde. Até
completarem dois anos, as crianças tinham um desconto de 50%.
Agora, perderam o benefício e a
família não tem como arcar com
os R$ 550 mensais.
"Não podemos depender do sistema público. Uma das minhas filhas teve descolamento de retina e
um dos meninos tem bronquite
asmática", conta Jiselle, que vê na
resolução desse impasse o melhor
presente de Dia das Mães.
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