São Paulo, domingo, 08 de maio de 2005

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CENTRO VIVO

Condephaat já aprovou proposta de tombamento do traçado viário e de aproximadamente 140 imóveis do local

Região central terá regras de preservação

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os dois primeiros bairros planejados de São Paulo, Campos Elíseos e Santa Ifigênia, vão ganhar novas regras de preservação até o fim deste ano. O Condephaat (órgão estadual do patrimônio histórico) já aprovou a proposta de tombamento do traçado viário e de cerca de 140 imóveis e agora elabora a minuta da resolução que definirá qual a área em volta de cada imóvel que também deverá ser afetada.
Com a medida, tanto as reformas nos prédios tombados como mudanças nas características do entorno precisarão ser autorizadas pelo conselho.
A medida é polêmica. Para alguns especialistas, ela será fundamental para a recuperação da região, que abriga a "Cracolândia" -uma das regiões mais deterioradas da cidade. Para outros, o tombamento pode congelar o local, já que, somado à degradação, pode desestimular a instalação de novos empreendimentos.
"No centro, o tombamento dificulta o processo de requalificação porque é uma instância a mais a ser consultada para qualquer projeto de recuperação. Há casos em que os proprietários são prejudicados, outros em que a área envoltória do bem tombado é muito extensa e afeta o entorno", avalia Jorge Königsberger, presidente da Asbea (associação de escritórios de arquitetura). Recentemente, por exemplo, o projeto de uma passarela na avenida Rio Branco, apresentado por uma empresa instalada no local, foi rejeitado pelo Condephaat por estar no entorno de um imóvel tombado.
"Vivemos uma fase de tombamentos desenfreados e isso gera situações complexas", afirma Königsberger, que organiza um seminário para debater os rumos da preservação do patrimônio histórico na cidade -o encontro será realizado na próxima terça-feira, no Instituto Tomie Ohtake.
Para o presidente da Associação Viva o Centro, Marco Antonio Almeida, o tombamento pode ser uma medida bem intencionada com efeitos problemáticos. "É preciso preservar o patrimônio, mas com cuidado. Um bem tombado numa área valorizada vai ter uma tendência a ser preservado. Se tomba [um imóvel] num ambiente degradado, a tendência é degradar de vez. Quem vai recuperar esse imóvel? O poder público vai colocar dinheiro?"
A região abriga os casarões onde morou a elite cafeeira no início do século 20. Alguns dos prédios que serão tombados estão conservados, mas outros foram abandonados ou viraram cortiços. Muitos dos casarões da Santa Ifigênia, cuja arquitetura reflete a influência dos imigrantes italianos, têm as fachadas cobertas por anúncios das lojas ali instaladas.
Mas o arquiteto Nelson Dupré, responsável pelo projeto da Sala São Paulo, na estação Júlio Prestes, defende o tombamento dos imóveis. A própria medida, afirma, facilitará a recuperação dos imóveis ao permitir que eles recebam incentivos financeiros tanto governamentais como de outras instituições. O programa Monumenta, cita o arquiteto, contempla a região da Luz e disponibilizará um financiamento do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) aos imóveis que queiram reformar as fachadas.
A conselheira do Condephaat Maria José Marcondes contesta que a medida "congele" a região. "Todas as experiências em metrópoles mostram que a valorização do patrimônio ajuda na revitalização. O conceito de patrimônio evoluiu e não vê o monumento como museu. Novos usos são viabilizados, desde que não mudem as características do imóvel."


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