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CENTRO VIVO
Condephaat já aprovou proposta de tombamento do traçado viário e de aproximadamente 140 imóveis do local
Região central terá regras de preservação
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Os dois primeiros bairros planejados de São Paulo, Campos Elíseos e Santa Ifigênia, vão ganhar
novas regras de preservação até o
fim deste ano. O Condephaat (órgão estadual do patrimônio histórico) já aprovou a proposta de
tombamento do traçado viário e
de cerca de 140 imóveis e agora
elabora a minuta da resolução
que definirá qual a área em volta
de cada imóvel que também deverá ser afetada.
Com a medida, tanto as reformas nos prédios tombados como
mudanças nas características do
entorno precisarão ser autorizadas pelo conselho.
A medida é polêmica. Para alguns especialistas, ela será fundamental para a recuperação da região, que abriga a "Cracolândia"
-uma das regiões mais deterioradas da cidade. Para outros, o
tombamento pode congelar o local, já que, somado à degradação,
pode desestimular a instalação de
novos empreendimentos.
"No centro, o tombamento dificulta o processo de requalificação
porque é uma instância a mais a
ser consultada para qualquer projeto de recuperação. Há casos em
que os proprietários são prejudicados, outros em que a área envoltória do bem tombado é muito
extensa e afeta o entorno", avalia
Jorge Königsberger, presidente
da Asbea (associação de escritórios de arquitetura). Recentemente, por exemplo, o projeto de uma
passarela na avenida Rio Branco,
apresentado por uma empresa
instalada no local, foi rejeitado pelo Condephaat por estar no entorno de um imóvel tombado.
"Vivemos uma fase de tombamentos desenfreados e isso gera
situações complexas", afirma Königsberger, que organiza um seminário para debater os rumos da
preservação do patrimônio histórico na cidade -o encontro será
realizado na próxima terça-feira,
no Instituto Tomie Ohtake.
Para o presidente da Associação
Viva o Centro, Marco Antonio Almeida, o tombamento pode ser
uma medida bem intencionada
com efeitos problemáticos. "É
preciso preservar o patrimônio,
mas com cuidado. Um bem tombado numa área valorizada vai ter
uma tendência a ser preservado.
Se tomba [um imóvel] num ambiente degradado, a tendência é
degradar de vez. Quem vai recuperar esse imóvel? O poder público vai colocar dinheiro?"
A região abriga os casarões onde morou a elite cafeeira no início
do século 20. Alguns dos prédios
que serão tombados estão conservados, mas outros foram abandonados ou viraram cortiços. Muitos dos casarões da Santa Ifigênia,
cuja arquitetura reflete a influência dos imigrantes italianos, têm
as fachadas cobertas por anúncios
das lojas ali instaladas.
Mas o arquiteto Nelson Dupré,
responsável pelo projeto da Sala
São Paulo, na estação Júlio Prestes, defende o tombamento dos
imóveis. A própria medida, afirma, facilitará a recuperação dos
imóveis ao permitir que eles recebam incentivos financeiros tanto
governamentais como de outras
instituições. O programa Monumenta, cita o arquiteto, contempla a região da Luz e disponibilizará um financiamento do BID
(Banco Interamericano de Desenvolvimento) aos imóveis que
queiram reformar as fachadas.
A conselheira do Condephaat
Maria José Marcondes contesta
que a medida "congele" a região.
"Todas as experiências em metrópoles mostram que a valorização
do patrimônio ajuda na revitalização. O conceito de patrimônio
evoluiu e não vê o monumento
como museu. Novos usos são viabilizados, desde que não mudem
as características do imóvel."
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