São Paulo, segunda-feira, 08 de maio de 2006

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POLÊMICA CIENTÍFICA

Documentário mostra bichos com queimaduras, cortes e membros quebrados em experimentos

Vídeo questiona uso de animais em pesquisa

AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

De um lado, ambientalistas, alunos e professores que querem acabar com a utilização de animais em pesquisas, no ensino universitário e em testes de laboratórios. De outro, pesquisadores que afirmam ser impossível por enquanto prescindir dos bichos.
Um documentário com cenas de animais com queimaduras, cortes, olhos costurados e membros quebrados deve ampliar esse debate. Chamado "Não matarás -Os animais e os homens nos bastidores da ciência", o filme foi produzido pelo Instituto Nina Rosa -entidade que luta pela valorização da vida animal.
O documentário, lançado sábado no Memorial da América Latina durante congresso sobre educação humanitária, mostra ratos, coelhos, macacos e cachorros sendo alvos de estudos de laboratórios. Há testes em que produtos são colocados nos olhos de coelhos albinos ou em sua pele (com o pêlo raspado). Alguns animais têm seu sangue usado em experimentos e, outros, são expostos a inseticidas e a perfumes.
As imagens foram todas feitas no exterior. Segundo a ativista Nina Rosa, 62, empresas e universidades brasileiras que utilizam animais não permitiram a entrada da equipe. Além das imagens, há depoimentos de pesquisadores, filósofos, biólogos, médicos, alunos e professores de ciências médicas.
Estima-se, diz ela, que cem milhões de animais morram por ano no mundo em razão dos testes. "Na Europa, a cada três segundos morre um em laboratório."
Segundo ambientalistas, a Inglaterra não usa animais vivos para a formação de médicos desde 1886. Nos Estados Unidos, universidades como Harvard e Yale aboliram a utilização de bichos.
"Não gostamos de sacrificar animais. Mas também seria muito antiético permitir que pessoas não adestradas ou sem preparo cuidassem de humanos", diz Roger Chamas, 41, professor da Faculdade de Medicina da USP.
Segundo ele, os animais precisam ser usados, por exemplo, no treinamento para cirurgias. "Pode-se fazer em modelos de pano ou plástico na fase inicial. Mas o adestramento mais adequado acontece com o uso de cães e porcos, que se aproximam mais da anatomia humana."
A professora Júlia Matera, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, conta no documentário que não usa mais animais vivos em aula. Eram necessários entre 260 e 300 cães ou coelhos por ano. Agora, ela utiliza cerca de 50 cadáveres de bichos.
Os animais mortos, que recebem uma solução para ficarem preservados, podem sofrer, inclusive, mais intervenções dos estudantes do que os animais vivos.
"Antes, ao final do estudo era preciso sacrificar os bichos e isso estressava os alunos. Agora, essa sensação de desconforto não existe mais", afirma Matera.
Segundo o Cobea (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal), nos Estados Unidos a experimentação animal contribuiu para um aumento na expectativa de vida de aproximadamente 25 anos desde 1900. "Doenças como a raiva, varicela, artrite reumática tiveram tratamentos determinados em animais", diz o colégio.

Alternativas
O documentário sugere alternativas ao uso de animais no ensino. Apresentações de vivissecção (operação feita em animais vivos para estudo de fenômenos fisiológicos) em vídeo e CD-Roms, com modelos em 3D para fazer exercícios, são algumas possibilidades.
Para Nina, o aluno que aprende com a morte de animais fica insensibilizado. "Ele passa a banalizar a morte." E estudantes que não gostam de sacrificar animais dizem que são perseguidos por professores no documentário.
Já na opinião do estudante de veterinária da USP Téo Figueiredo, a aula dessa maneira fica gravada na memória. Ele cita como exemplo a experiência que teve com rato que ingeriu estricnina e, depois, teve crise de convulsão.


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