São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997.



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PLÁSTICA DIVINA
Artista cria imagem de um Jesus vitorioso e 'social', com traços de negro, índio, oriental
Brasileiro desenha o Cristo do 3º milênio

AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local

Um artista plástico brasileiro está criando a imagem do Cristo que o Vaticano usará em suas publicações dedicadas ao terceiro milênio. Em lugar do Cristo abatido e de rosto marcado pelo sangue, o Cristo do ano 2000 terá semblante sereno e expressão de pantocrátor, o Senhor do Universo.
Cláudio Pastro, 48, considerado o mais importante artista sacro brasileiro, foi convidado pelo Vaticano no ano passado. A imagem do "novo" Cristo deverá ser definida até o ano que vem e passará a ser divulgada pelo Vaticano em 1999, nas comemorações que marcam o início do terceiro milênio.
No convite que fez a Pastro, o bispo Cipriano Calderon -da Comissão Pró-América Latina do Vaticano- pede a ele que "confeccione uma imagem ou escultura de Jesus Cristo Evangelizador". "Penso que você é o artista latino-americano mais indicado."
Na sexta-feira, um membro da comissão no Vaticano informou que Pastro foi escolhido pelas características de seu trabalho. O Cristo que o artista brasileiro vem desenhando há 20 anos resgata os traços do Cristo pintado no primeiro milênio e até hoje cultuado pela Igreja Católica Oriental.
"É um Cristo de tez morena, o rosto ovalado, lembrando uma azeitona, os cabelos longos com pequenos cachos, o bigode fino e uma barba estreita", afirma Pastro. São os traços dos semitas, povo ao qual pertencia Jesus.
A pedido do Vaticano, o "novo" Cristo terá o livro do Evangelho na mão esquerda enquanto abençoa com a mão direita. As "cinco chagas gloriosas" -simbolizadas por pequenos pontos nas mãos, nos pés e no lado esquerdo do peito- representam o sofrimento pelo qual Jesus passou.
Essa imagem está presente em muitas das 169 igrejas que Pastro pintou no Brasil e em vários países da Europa. A imagem definitiva que será enviada ao Vaticano ainda está sendo desenhada por Pastro em seu ateliê, que é ao mesmo tempo casa e capela, nos arredores de Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo. "A imagem que venho buscando é a de um homem universal, com traços orientais, do negro, do branco, do índio", diz.
O Cristo pantocrátor, Senhor do Universo, nada tem a ver com as imagens que surgiram com o Renascimento e que eram pintadas por artistas que nada tinham a ver com a igreja, afirma Pastro. É oposta aos Cristos dos artistas protestantes do século 16, de semblante desesperado e sofredor. Essa imagem prevaleceu no barroco e acabou adotada pelos artistas sacros brasileiros.
"O fiel aprende muito mais 'namorando' uma pintura de Cristo do que ouvindo sermões", afirma Pastro. "Mas, se o Cristo é uma imagem de sofrimento, a tendência é que o fiel se identifique com esse sofrimento e se resigne a ele. Diante de um Cristo vitorioso, ele saberá que depois do sofrimento virá a vitória."
Pastro diz que com o Concílio Vaticano 2º a preocupação da igreja restringiu-se à questão social, deixando de lado a religiosidade do próprio clero. "Nos últimos 30 anos, a arte sacra deixou de constar no currículo dos seminários", afirma. A preocupação atual da igreja, segundo uma das cartas de João Paulo 2º, é que a imagem de um "Cristo Evangelizador" seja resgatada no terceiro milênio.



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