São Paulo, quinta-feira, 08 de junho de 2000


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GREVE NAS UNIVERSIDADES
Marcovitch e quatro funcionários estão dormindo na reitoria para manter os serviços básicos
Piquetes param administração da USP

ESTANISLAU MARIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os piquetes dos funcionários da USP que bloquearam a reitoria anteontem conseguiram paralisar a administração central da universidade.
Dos 700 funcionários da reitoria, trabalharam no prédio, ontem, o reitor Jacques Marcovitch, o diretor de recursos humanos Gilberto Shinyashiki, uma telefonista e duas assessoras. Eles escaparam dos piquetes porque estão praticamente acampados na reitoria e vêm dormindo no prédio.
O primeiro e segundo escalões da universidade foram espalhados em gabinetes emprestados de outros órgãos pelo campus ou estão trabalhando em casa.
Os setores de administração do campus, comunicação, finanças, folha de pagamentos, assuntos acadêmicos, informática e as pró-reitorias de graduação, pós-graduação, pesquisa e extensão estão parados. Limpeza e segurança são terceirizados e foram mantidos.
Segundo Shinyashiki, não foram afetados manutenção e pagamentos de fornecedores do Hospital Universitário, pagamentos de água, luz e telefone e pagamento dos salários, que foi o estopim da radicalização dos piquetes.
Na segunda-feira, os funcionários recuaram os piquetes que vinham fazendo e permitiram a entrada de técnicos para processar a folha de pagamentos. Entretanto, anteontem, a USP depositou os salários de maio, mas descontou os dias em greve. Houve funcionários e professores com cortes de até 80%.
No mesmo dia, os piquetes voltaram e com muito mais força. Criou-se um impasse: os grevistas querem avanços na negociação para desbloquear, mas Marcovitch diz que não negocia enquanto houver piquetes.
Apenas funcionários e estudantes se revezam 24 horas por dia nos piquetes. Os professores não participam.
A Adusp (sindicato dos professores) não comenta o bloqueio e apenas diz que não participa porque é uma forma de luta adotada historicamente pelos funcionários, e os professores tradicionalmente não fazem piquetes. O presidente da Adusp, Marcos Magalhães, critica o reitor.
"Isso é só um meio de chantagear. Ele arrumou um pretexto para evitar a negociação. Já fizemos outra reunião mesmo com piquete", disse Magalhães.
Em assembléia ontem, os funcionários votaram pela continuidade da greve e dos piquetes. Eles querem também a devolução dos descontos feitos. "Isso é apenas uma reação à postura intransigente do reitor", disse o diretor do Sintusp (sindicato dos funcionários) Magno de Carvalho.
No meio do impasse, o prédio cercado se transformou em símbolo da queda-de-braço.
"O piquete é importante frente ao poder da administração central", disse o sindicalista.
De dentro da reitoria, o diretor de recursos humanos responde: "Não íamos deixar a reitoria. Queremos manter um ponto de referência para as pessoas que procuram, por telefone, a direção da universidade."
Enquanto isso, novos contratos de pesquisa deixam de ser feitos, diplomas não são emitidos, pedidos de férias, aposentadorias e licenças médicas não são analisados e até as bolsas de 3.500 dos 24 mil alunos da pós-graduação não foram pagas.
São alunos do mestrado (bolsa de R$ 730) e do doutorado (R$ 1.070) financiados pelas Capes (agência de fomento federal), que repassa a verba para a reitoria, que, por falta de pessoal, não depositou o dinheiro na conta dos bolsistas.


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