São Paulo, sexta-feira, 08 de junho de 2007

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UnB rejeita um gêmeo e aceita outro nas cotas

Universidade recuou, e Alex agora poderá participar, assim como Alan, no vestibular

Comissão julgadora havia decidido que um irmão era negro e outro, não; em nota, reitor negou que júri seja um "tribunal racial"

Leonardo Wen/Folha Imagem
Alex (de camisa branca), que concorre ao curso de nutrição, e Alan, candidato em educação física, em sua residência, em Brasília

ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após duas semanas, a UnB (Universidade de Brasília) recuou e decidiu que Alex Teixeira da Cunha, 18, poderá concorrer ao vestibular para o primeiro semestre de 2007 dentro da cota de 20% reservada a negros e pardos.
O candidato ao curso de nutrição não constava na lista dos cotistas, embora o nome de seu irmão gêmeo univitelino, Alan, candidato ao curso de educação física, estivesse lá.
A confusão foi provocada pelo método de avaliação dos cotistas pela universidade, que adota o sistema desde 2004.
Depois de se declararem pardos ou negros, os candidatos tiram uma foto na universidade. A fotografia é, então, avaliada por uma comissão, que julga se o candidato se enquadra nos requisitos para ser um cotista. A UnB não informa quem são nem quantos são esses jurados.
Foi esse júri que decidiu que Alan era negro, mas Alex, não. O irmão "branco" recorreu da decisão -possibilidade prevista no edital do vestibular- e, anteontem, apareceu na lista dos candidatos que tiveram seus recursos aprovados.
O problema dos dois, agora, é arranjar tempo para estudar para as provas, que acontecem nos próximos dias 16 e 17, devido às constantes entrevistas.
O pai dos irmãos, o bancário Ronaldo Teixeira da Cunha, 50, negro, dizia-se preocupado. "Saio para trabalhar e eles ficam o dia inteiro dando entrevistas. Depois, vocês têm que voltar para ver se eles passaram, né?"
Aos jornalistas, os irmãos afirmam ser a favor de cotas para alunos de baixa renda, mas contra o sistema para negros -"um ato de racismo", segundo Alan. Ainda assim, eles dizem ter feito a inscrição pelo sistema porque é menos concorrido e porque outros colegas de cursinho, "de pele mais clara", utilizaram o sistema.
Em nota divulgada anteontem, o reitor da UnB, Timothy Mulholland, defendeu o sistema de cotas da universidade e rechaçou a acusação de que a comissão julgadora seja um "tribunal racial". Ele não descartou, porém, mudanças. "Sempre que a experiência indicar, esta instituição não se furtará a fazer aperfeiçoamentos necessários sobre quaisquer processos, inclusive os de seleção", diz a nota.
O caso de Alex e Alan não é inédito. Em 2005, Paula Renata e Paula Rejane Vidal, filhas de pai negro e mãe branca, concorriam aos mesmos cursos dos dois irmãos. Também gêmeas univitelinas, ficaram surpresas quando saiu a decisão considerando apenas Paula Renata aceita.
Assim como Alex, Paula Rejane recorreu e conseguiu concorrer ao vestibular como cotista. Passou em educação física, desistiu depois de três semestres e, hoje, cursa administração. Paula Renata estuda em uma universidade privada. Hoje, ela ainda busca entender o que fez a UnB considerá-la mais negra que a irmã. "Acho que foi porque, quando tiramos a foto, eu estava de cabelo preso e minha irmã de cabelo solto."


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