São Paulo, domingo, 08 de junho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE / CIRURGIA ROBÓTICA

Robô já realiza cirurgias de próstata e endometriose

A aposta é que o Da Vinci auxilie em todas as operações feitas por laparoscopia

Equipamento é a segunda geração robótica no país; alto custo e falta de profissionais treinados são desvantagens

MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

As cirurgias de próstata e de endometriose realizadas desde o último mês de março em São Paulo com o auxílio do robô Da Vinci indicam a nova tendência que se afigura nos procedimentos minimamente invasivos.
O Da Vinci é a segunda geração robótica a entrar no país e poderá tornar mais seguras e simples operações complexas, principalmente as feitas por laparoscopia -com pequenos orifícios no abdômen.
A primeira geração foi o braço cirúrgico Aesop, importado na década de 90, usado como auxiliar para movimentação da câmera laparoscópica.
De acordo com médicos ouvidos pela Folha, o novo robô abre o leque de opções e possibilita operações à distância. Mas os preços ainda superiores à laparoscopia e cirurgias tradicionais e a escassez de médicos treinados na utilização dessas ferramentas no país são empecilhos à sua utilização de forma abrangente.
Para Paulo Chapchap, superintendente de Desenvolvimento do Hospital Sírio-Libanês, as evoluções são várias. Uma delas diz respeito à capacidade de os braços do Da Vinci imitarem o movimento humano. O cirurgião controla o equipamento por meio de um "console", onde realiza os movimentos e vê imagens em três dimensões. Na laparoscopia tradicional, a tela só apresenta imagens em duas dimensões.
"O robô acopla grandes auxílios ao cirurgião e vem facilitar a cirurgia laparoscópica. Além disso, tem a vantagem de não tremer", afirma.
No hospital representado por Chapchap, o Sírio-Libanês, foi realizada no mês de maio a primeira cirurgia de endometriose no intestino no mundo com robô, de acordo com a entidade. A doença ocorre quando o endométrio, a parede que reveste o útero, aparece de forma deslocada. No caso, colada à parede do intestino.
Como os movimentos feitos pelo médico no "console" podem ser programados para reprodução em menor escala pelo robô, o corte a ser feito nessa operação pode ser menor e mais preciso.

Próstata
Apesar de a primeira cirurgia ser de endometriose, o procedimento mais consagrado com o uso do Da Vinci é a cirurgia de próstata. Cássio Andreoni, urologista do Hospital Albert Einstein -o outro centro brasileiro que já importou o robô-, diz que especialmente nesse tipo de operação é difícil a laparoscopia simples.
"Você passa a ter não só o benefício de um procedimento minimamente invasivo, mas com uma visão melhor. A cirurgia de próstata muitas vezes afeta a potência sexual por causar lesão nos nervos. Com o robô, não só a capacidade de movimentação, mas também a visualização ajudam a preservar os nervos", afirma.
No Einstein e no Sírio-Libanês, 29 cirurgias de próstata foram feitas desde março com o Da Vinci.
Outro entusiasta do robô é o cirurgião Joaquim Gama-Rodrigues, da diretoria do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva. "Ele vai expandir os horizontes da ação cirúrgica", diz.
Segundo ele, ainda não houve tempo de se fazer estudos amplos que mostrassem as vantagens do uso do robô em relação a outros métodos. "O que tivemos foi a publicação de protocolos mostrando que não há riscos adicionais comparando-se com a laparoscopia."
Gama-Rodrigues diz que o preço alto e a falta de médicos ainda são desvantagens. "A cirurgia robótica deverá baratear com o tempo. O número maior de equipamentos e instrumentos possibilitará a "produção em série". O custo-benefício valerá a pena em cirurgias complexas, nas simples não", diz.
Ele afirma ainda que o número de médicos treinados no país é pequeno, mas que deverá aumentar rapidamente, como ocorreu com a laparoscopia.


Texto Anterior: Branco diz que solução para a cidade requer iniciativa privada
Próximo Texto: Procedimento foi alternativa à radioterapia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.