São Paulo, quarta-feira, 08 de junho de 2011

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ANÁLISE

Proibição é quase irrelevante para melhorar nutrição infantil

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

A atitude da Câmara de Belo Horizonte só faz sentido na lógica da guerra de guerrilhas. Se a meta é melhorar a nutrição infantil, proibir promoções como a do McLanche Feliz é quase irrelevante.
Tudo o que McDonald's, Habib's, Giraffas etc. têm a fazer é vender brindes e refeições ultracalóricas separadamente, destruindo assim o argumento jurídico que sustenta o veto.
A verdade é que o problema dos efeitos da publicidade sobre a dieta das crianças é bem mais complexo e não será resolvido a golpes de legislação, muito menos os dados por canetas municipais.
É preciso antes de mais nada reconhecer que vivemos uma epidemia de obesidade infantil e que há de fato uma overdose de propaganda.
Segundo o IBGE, a prevalência da obesidade entre crianças de cinco a nove anos, de 3,25% em 1989, saltou para 14,2% em 2008. Se considerarmos também o excesso de peso, o número chega a imponentes 33,5%.
Quanto à publicidade, um estudo de 2002 mostrou que alimentos constituíam 22,47% das propagandas veiculadas na TV brasileira -de longe a maior categoria. Dos 1.395 produtos anunciados, 57,8% estavam no grupo da pirâmide alimentar representado por gorduras, óleos, açúcares e doces. Em segundo lugar, com 21,2%, vinham os pães, cereais e massas.
É preciso ser mais do que cético para negar o vínculo entre publicidade e os hábitos de consumo da população. E, se os cérebros de adultos já se deixam levar pela propaganda, no caso de crianças esse efeito é potencializado. Acrescente-se a isso a enorme capacidade que elas possuem de azucrinar os pais, e temos a receita para um massacre. Não foi por outra razão que a Suécia e a Noruega baixaram normas simplesmente proibindo anúncios endereçados a crianças.
No Brasil, porém, soluções como essa estão vedadas pelo artigo 220 da Constituição, que prevê a possibilidade de restrições legais à publicidade só para "tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias".
Os mais pessimistas podem ver aí um beco sem saída. Seria, se dependêssemos exclusivamente do Estado, para chegarmos a qualquer objetivo. Mas os pais também precisam servir para alguma coisa. Educar implica dizer alguns sins e muitos nãos.


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