São Paulo, sábado, 08 de julho de 2006

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Atentado mata o 5º agente em dez dias

Paulo Gilberto de Araújo, 54, foi atingido por dois tiros quando saía de sua casa, na zona norte de São Paulo, ontem de manhã

Araújo era funcionário da penitenciária 2 de Guarulhos e também diretor de um dos sindicatos que representam a categoria

KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O agente penitenciário Paulo Gilberto de Araújo, 54, funcionário da Penitenciária 2 de Guarulhos e diretor do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado, foi morto ontem em São Paulo com dois tiros. Foi o quinto agente de segurança assassinado, em dez dias, em mais um atentado atribuído à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). O crime, ontem pela manhã, no bairro da Casa Verde (zona norte), foi presenciado pela mulher dele. Araújo foi assassinado em situação semelhante a dos demais colegas: perto de casa, na ida ao trabalho. Ontem, os sindicalistas responsabilizaram o Estado pelos ataques -além dos cinco mortos, outros quatro sobreviveram aos atentados. Desde maio, 14 agentes penitenciários foram assassinados -um deles durante uma fuga de presos, na quarta-feira, da Penitenciária 1 de Franco da Rocha. Já o governador Cláudio Lembo (PFL) disse não ser possível assegurar escolta para os 23 mil agentes do Estado e pediu "coragem cívica para suportar esse momento difícil".
"Covardes"
Paulo Gilberto de Araújo, conhecido como Paulinho Danone, tinha dito a colegas que temia ser vítima de atentados. Um dia antes do crime, ele tinha classificado de "covardes" os ataques atribuídos ao PCC durante entrevista a um site de notícias. "Tudo o que está acontecendo [ataques] é uma demonstração burra por parte do PCC contra o Estado e covarde também, pois eles sabem que não estamos armados." Os ataques contra os agentes penitenciários tiveram início no dia 28 de junho. Dois dias antes, a polícia matou 13 suspeitos durante suposta tentativa de atentado a agentes de segurança. A polícia apresentou escutas telefônicas em que os criminosos diziam ter ordem para matar de 5 a 15 agentes. A intenção da facção era retomar as ações iniciadas em maio, quando 42 agentes de segurança foram mortos.
Crime
Eram 6h20 quando um homem, com touca de motoqueiro, aproximou-se do agente, que saía de casa. Araújo era observado pela mulher, Nair, que, desde o início dos ataques passou a monitorá-lo da sacada do sobrado. O criminoso acertou um tiro no braço do agente, que correu para o carro. Ele levou mais um tiro, desta vez no coração. Chegou morto ao hospital. O criminoso fugiu num Corolla escuro com mais dois outros homens. "O primeiro disparo foi no braço de Araújo, que abriu a garagem para pegar o carro. O segundo foi no coração, já dentro do veículo", disse o delegado Sérgio Luiz Gianuzzi, do 40º DP. "A probabilidade de [a morte desse agente] ter sido a mando do PCC é grande." Segundo Paulo Rafael, filho do agente, o pai não usava arma nem havia se queixado de ameaças. Pessoas próximas a ele no sindicato, porém, diziam que ele tinha uma arma, que ficava no porta-luvas do carro. Miriam, cunhada do agente, disse que ele planejava uma grande festa para setembro, quando faria 25 anos de casado. Ainda segundo ela, faltavam dois anos para a aposentadoria dele, que trabalhava havia 32 anos no sistema prisional. Os agentes penitenciários prometeram voltar a proibir as visitas de parentes aos presos, neste fim de semana, em resposta ao novo atentado.


Colaboraram MARTHA ALVES , da Agência Folha, e o "Agora"


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