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Morre criança metralhada em ação policial
Testemunhas e a mãe dizem que PMs dispararam mais de 16 tiros em direção ao carro dela; eles alegam que houve um tiroteio
PMs perseguiam Stilo preto, mas carro alvejado era um Palio Weekend grafite; PMs levaram as mãos à cabeça ao ver erro, dizem testemunhas
Reprodução
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João Roberto (à esq.), 3, morto após ser metralhado em operação policial, em foto com o irmão
SERGIO TORRES
LEANDRO FORTINO
DA SUCURSAL DO RIO
LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA ONLINE,
NO RIO
Metralhado na nuca em uma
operação policial, João Roberto
Amorim Soares, 3, morreu ontem no Hospital Copa D'Or (zona sul do Rio). Policiais são acusados de disparar pelo menos
16 tiros no carro da família do
menino na noite de domingo.
Dois PMs foram presos. Eles
alegam que trocavam tiros com
ladrões de um Fiat Stilo preto, a
quem perseguiam, e negaram
ter atirado em direção ao carro
em que estava João.
"Foi uma ação desastrosa,
que demonstrou falta de preparo psicológico e operacional",
afirmou o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame.
A versão dos PMs de tiroteio
é contestada por testemunhas
ouvidas no local (rua General
Espírito Santo Cardoso, na Tijuca) pela Folha e pela mãe da
vítima, Alessandra Amorim
Soares. Ela disse ao marido, o
motorista de táxi Paulo Roberto Soares, que os policiais atiraram no carro que ela dirigia,
um Palio Weekend grafite, assim que encostou na calçada.
Pelo relato da mãe, um carro
preto passou por ela em alta velocidade quando se aproximava do prédio em que vive a família. Em seguida, ainda segundo ela disse ao marido, ao
ouvir a sirene policial, deduziu
que havia uma perseguição e
deu passagem à patrulha da
PM. Foi quando os policiais começaram a disparar contra o
carro dela, que tem os vidros
cobertos por película escura.
No banco de trás, estavam os
irmãos João Roberto, e Vinícius, de nove meses.
Segundo o marido, mesmo
ferida por estilhaços na barriga
e pernas, Alessandra abriu a janela e jogou a bolsa infantil que
carregava, para mostrar aos
PMs que conduzia crianças. Os
policiais ainda gritaram: "Cadê
o bandido? Cadê o bandido?".
Foi quando ela saltou do Palio,
abriu a porta traseira, pegou o
corpo do primogênito, estendeu-o no chão e repetiu para os
policiais, duas vezes: "Vocês
mataram meu filho", de acordo
com o relato feito ao marido.
Testemunhas contaram que
os policiais levaram as mãos à
cabeça ao perceber o erro.
O menino foi socorrido pelos
bombeiros, que o levaram ao
pronto-socorro mais próximo,
o do hospital do Andaraí. O caçula escapou ileso dos tiros.
Após uma cirurgia craniana
para retirar sangue que se acumulara, João Roberto foi transferido para o Copa D'Or, onde,
ainda de madrugada, o seu coração parou por 25 minutos.
Os médicos conseguiram
ressuscitar o menino, mas exames neurológicos realizados de
manhã e à tarde registraram a
morte cerebral. João Roberto
só permanecia vivo porque tinha o organismo ligado a aparelhos. Às 16h30, morreu.
Além da bala que entrou pela
nuca e atravessou o cérebro até
a região frontal da cabeça, onde
parou, o menino levou um tiro
nas nádegas e outro de raspão
na orelha esquerda.
Os médicos disseram logo
cedo ao casal que estudasse a
possibilidade de doar os órgãos
do filho, já que não viam possibilidade de salvamento. À tarde, o hospital informou que o
casal concordou com a doação.
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