São Paulo, sexta-feira, 08 de julho de 2011

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PARATIANAS

ANTONIO PRATA - @antonioprata

A groupie literária

COM O ADVENTO dos festivais literários, o escritor, antes um ermitão branquelo e corcunda, cheio de manias e pelos no nariz, transformou-se numa pequena celebridade.
Ainda não ganha muito dinheiro nem pode se dar ao luxo de pedir um camarim com frutas, uísque escocês e 130 toalhas brancas, mas gaba-se ao menos de ter criado, a exemplo dos rockstars, um novo tipo social: as groupies literárias.
Difícil é a vida das groupies literárias. Se suas irmãs roqueiras permitem-se gritar, pular e descabelar-se, a fã das letras precisa manter o decoro de uma frequentadora de biblioteca. Ao cruzar com seu autor predileto, deve ficar em silêncio ou, no máximo, nonchalante, comentar com a amiga algo sobre a impossibilidade da narrativa num mundo multifacetado. Se ele ouviu, ouviu, se não, paciência.
Na mesa ao lado, no café da manhã, algumas groupies especulam se o caribenho Caryl Phillips presta-se ou não ao papel de muso desta edição.
Enquanto não chegam a um veredicto, tentam eleger o escritor mais interessante de todas as Flips. Citam Alan Pauls, José Eduardo Agualusa, Neil Gaiman. Este cronista sabe, contudo, que Paraty jamais viu tanto furor quanto em 2004.
Quando abriram os portões da tenda principal, para a mesa com Chico Buarque, teve mulher de tailleur soltando gritinhos, professora da FFLCH dando cotoveladas.
Questionadas sobre a cena, as groupies literárias da mesa ao lado negaram comportamentos desse tipo e acusaram as groupies da música, disfarçadas e infiltradas na multidão.


ANTONIO PRATA publicará crônica diária de Paraty ao longo da 9ª Flip.


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