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PARATIANAS
ANTONIO PRATA - @antonioprata
A groupie literária
COM O ADVENTO dos festivais literários, o escritor, antes um ermitão
branquelo e corcunda, cheio de manias e pelos no nariz, transformou-se numa pequena celebridade.
Ainda não ganha muito dinheiro
nem pode se dar ao luxo de pedir um
camarim com frutas, uísque escocês
e 130 toalhas brancas, mas gaba-se
ao menos de ter criado, a exemplo
dos rockstars, um novo tipo social:
as groupies literárias.
Difícil é a vida das groupies literárias. Se suas irmãs roqueiras permitem-se gritar, pular e descabelar-se,
a fã das letras precisa manter o decoro de uma frequentadora de biblioteca. Ao cruzar com seu autor
predileto, deve ficar em silêncio ou,
no máximo, nonchalante, comentar
com a amiga algo sobre a impossibilidade da narrativa num mundo
multifacetado. Se ele ouviu, ouviu,
se não, paciência.
Na mesa ao lado, no café da manhã, algumas groupies especulam
se o caribenho Caryl Phillips presta-se ou não ao papel de muso desta
edição.
Enquanto não chegam a um veredicto, tentam eleger o escritor mais
interessante de todas as Flips. Citam Alan Pauls, José Eduardo Agualusa, Neil Gaiman.
Este cronista sabe, contudo, que
Paraty jamais viu tanto furor quanto
em 2004.
Quando abriram os portões da
tenda principal, para a mesa com
Chico Buarque, teve mulher de tailleur soltando gritinhos, professora
da FFLCH dando cotoveladas.
Questionadas sobre a cena, as
groupies literárias da mesa ao lado
negaram comportamentos desse tipo e acusaram as groupies da música, disfarçadas e infiltradas na multidão.
ANTONIO PRATA publicará crônica diária de Paraty
ao longo da 9ª Flip.
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