São Paulo, quinta-feira, 08 de agosto de 2002

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POLÍCIA FORA DA LEI

Pedido é embasado em carta de ex-agente

Para procurador, denúncias "são fatos que precisam ser esclarecidos"

DA REPORTAGEM LOCAL

"São dados relevantes que eu não vou entrar no mérito. São fatos que precisam ser esclarecidos", afirmou o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Luiz Antônio Guimarães Marrey, que pediu ontem, ao Tribunal de Justiça, uma investigação sobre o suposto envolvimento do secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, nas ações de infiltração de presos pela Polícia Militar.
O pedido de Marrey foi embasado no dossiê encaminhado anteontem à Procuradoria Geral de Justiça pela OAB/SP (Ordem dos Advogados do Brasil), por entidades de direitos humanos e por advogados. A documentação relata irregularidades na infiltração de presos revelada pela Folha na edição do dia 28 de julho.
A principal peça do dossiê é a carta do preso Ronny Clay Chaves, 27, ex-colaborador do Gradi. Na carta enviada à OAB, Chaves relatou que teve dois contatos com o próprio secretário quando prestava serviços ao Gradi (Grupo de Repressão e Análise dos Delitos de Intolerância).
Em um deles, o preso disse que participou de uma reunião, com a presença de Abreu Filho, na qual foram discutidos os detalhes de uma ação contra o PCC, que terminou na morte de 12 homens em março deste ano, em Sorocaba (100 km de São Paulo).
Segundo o ex-colaborador da PM, era uma armação da qual o secretário tinha conhecimento. Chaves disse que a cilada consistia em atrair o grupo para roubar um avião, que não existia. Na reunião, segundo carta do preso, o secretário teria dito: "Estou assumindo agora e quero um estouro, não importa se irão reclamar".
"O secretário foi citado duas vezes na carta e isso precisa ser esclarecido. Não é pré-julgamento", disse Marrey. Ele nomeou os procuradores Antonio Visconti, Clóvis Almir Vital de Uzeda e Jobst Dieter Horst Niemayer para acompanhar o caso.
Marrey encaminhou a investigação ao Tribunal de Justiça porque é o fórum jurídico adequado para investigar e processar secretários de Estado e juízes. O pedido será analisado pelo presidente do TJ, Sérgio Augusto Nigro Conceição. Se for aceito, será nomeado um relator, que fará a apuração. O resultado será encaminhado à Procuradoria, que pode arquivar o caso ou apresentar denúncia.
A assessoria da Secretaria da Segurança Pública informou, por nota oficial, que só se pronunciará depois que for informada oficialmente sobre o pedido de investigação feito pelo procurador-geral de Justiça.



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