São Paulo, domingo, 08 de agosto de 2004

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CAMPUS DE RISCO

Item é a segunda maior despesa das instituições de ensino superior, que tentam conter roubos, furtos e outros crimes

Segurança absorve verba de universidades

Katia Lombardi/Folha Imagem
Policial passa ao lado de estudante em ronda a cavalo no campus da Universidade Federal de Minas Gerais, instituição que firmou convênio com a Polícia Militar em 98


CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Câmeras de vigilância nos estacionamentos, sensores nas bibliotecas e unidades administrativas, guardas motorizados e PMs armados a cavalo. O esquema de segurança, montado pelas universidades federais para conter a onda de furtos e roubos nos campi, representa hoje a segunda maior despesa dessas instituições.
Neste ano, as 55 instituições de ensino superior, incluindo as 44 universidades federais, prevêem gastar R$ 81 milhões, que equivalem a 13% de seu orçamento de custeio (que não inclui a folha de pagamento), segundo a Andifes (associação dos reitores das federais). As tarifas com energia elétrica ainda lideram os gastos, consumindo 20% das despesas.
Carros, bicicletas, equipamentos eletrônicos, janelas, placas de sinalização, extintores e até fios elétricos. Nada escapa aos olhos dos ladrões. Para contê-los, as universidades estão contratando mais homens, além de investir em equipamentos modernos de segurança.
Um exemplo é a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), que já compromete 22% da verba de manutenção com segurança, o equivalente a R$ 8 milhões por ano. Neste mês, a universidade está instalando câmeras e sensores em 26 das 28 bibliotecas que não possuíam esquema de vigilância, em razão dos furtos de livros e material bibliográfico.
Também está investindo R$ 25 mil mensais em uma guarda armada só para vigiar a fazenda veterinária da UFMG, após funcionários terem sido vítimas de dois assaltos no início do ano.
Nos últimos meses, cinco unidades acadêmicas da instituição registraram furtos de equipamentos eletrônicos. Roubos de carros e assaltos também são freqüentes.
A estudante de engenharia Tatiana Macedo, 25, conta que um professor foi vítima de seqüestro relâmpago e outro foi amarrado na sua sala por um assaltante que levou o seu laptop. Várias pessoas também teriam sido assaltadas no estacionamento. "Professores e alunos que têm carros são os mais visados. O pessoal que anda a pé não se sente inseguro", diz ela.
"[a segurança] Ainda é insuficiente. Se quiséssemos ter o mesmo esquema que tem a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), por exemplo, teríamos de investir mais R$ 3 milhões", afirma a reitora Ana Lúcia Gazzola.
A UFMG tem um efetivo de 500 homens entre vigias e porteiros, além de manter, desde 1997, um convênio com a Polícia Militar, que faz rondas a cavalo pelo campus -o mesmo acontece em pelo menos outras oito instituições.
Nem unidades rurais das universidades escapam da violência. Na Universidade Federal de Goiás, dois bezerros foram mortos, e a carne, roubada. Um deles, hermafrodita, era objeto de pesquisa. Em Santa Maria (RS), ocorreu o mesmo: dois bois, também alvos de estudo, foram furtados, o que obrigou a universidade a montar dois postos de vigilância, ao custo de R$ 240 mil anuais.
"Se fôssemos levar em conta só o valor comercial, era preferível deixar roubar todos os animais", diz o reitor Paulo Sarkis, presidente da comissão de orçamento da Andifes.
Além do aumento da violência, as instituições já sentem o peso das terceirizações de pessoal e de serviços. Como o cargo de vigilante está extinto, à medida que os profissionais vão se aposentando, as universidades recorrem à segurança terceirizada, cujos contratos prevêem reajustes anuais.
Segundo Paulo Sarkis, o problema é que o governo federal não incorporou no orçamento de custeio novos valores referentes aos gastos com terceirizações. Pelo contrário. A queda da verba de custeio chegou a 55,68%, entre 1995 e 2003, segundo levantamento do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) -com valores atualizados pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços).
Mesmo com a recente suplementação de R$ 76 milhões -que se somam ao orçamento de R$ 596 milhões-, Sarkis estima que as universidades fecharão o ano com pelo menos R$ 44 milhões de dívidas com fornecedores. Por conta disso, a Andifes está negociando com o Ministério da Educação uma mudança na forma de repasse de recursos.
A idéia, segundo Sarkis, é que sejam consideradas as peculiaridades do curso e do período. "O curso noturno custa em média 8% a mais que o diurno. O custo do aluno de saúde é diferente do de humanas e assim por diante."
O secretário de educação superior do MEC, Nelson Maculan, diz que o ministério está estudando medidas para melhorar as finanças das universidades.


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