São Paulo, terça-feira, 08 de agosto de 2006

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Na terceira onda de atentados, PCC faz cem alvos em 18 cidades

Facção criminosa ordena ações por temer restrições às saídas das penitenciárias no Dia dos Pais; houve danos à sede do Ministério Público de SP, a postos de gasolina e a bancos

Rodrigo Paiva/Folha Imagem
Posto assaltado e incendiado na zona norte de SP, próximo à marginal Tietê


DA REPORTAGEM LOCAL

O Estado de São Paulo acordou ontem sob o terror da terceira onda de ataques da organização criminosa PCC -Primeiro Comando da Capital. O atentado com maior poder de destruição foi o que atingiu o prédio do Ministério Público Estadual, localizado no coração histórico da capital, cuja fachada foi detonada por uma bomba de fabricação caseira acionada por controle remoto às 5h10.
O impacto da explosão deixou uma cratera de 20 centímetros de profundidade, fez ruir o teto, sucateou o detector de metais e a aparelhagem de raio X, instalados na recepção do prédio. A onda de choque também estilhaçou janelas e arrombou portas de ferro dos prédios vizinhos.
No começo da manhã, em outro ataque, uma granada de uso exclusivo do Exército caiu ao lado do setor de atendimento do posto do Poupatempo da Luz, também no centro. Ninguém saiu ferido só porque a granada não explodiu -apesar de o pino ter sido puxado. O horário de atendimento já estava aberto. No andar de cima fica uma garagem da Polícia Civil.
Mais um artefato foi lançado contra o prédio da Secretaria de Estado da Fazenda, ao lado do mesmo Poupatempo.

Cem ataques
Na nova onda de violência do PCC (as primeiras foram em maio e julho), em 18 cidades, houve cem ataques -incluem-se aí 28 ônibus queimados, três deles no início da noite de ontem-, um Distrito Policial alvejado em Sorocaba, 34 agências bancárias e 12 postos de gasolina (incluindo um no nobre bairro de Higienópolis). Dois supermercados e um estacionamento perto do prédio do Deic (Departamento de Investigação sobre o Crime Organizado) também foram atacados.
Segundo a polícia, 40 alvos foram atingidos por coquetéis molotov, 26 por disparos de arma e 11 por artefatos explosivos. Até a noite de ontem, dois acusados de pertencer à facção tinham sido mortos pela polícia. Outros 12 estavam presos, segundo o comandante-geral da Polícia Militar de SP, Elizeu Eclair Teixeira Borges.
Um morador de rua atropelado por um carro conduzido por membros do PCC continuava internado em um hospital na zona leste -ele dormia em frente a um banco atacado.
A Folha apurou que os atentados de ontem foram uma resposta do PCC à possibilidade de o Estado obter na Justiça uma forte restrição à saída provisória de presos das cadeias, no próximo domingo, quando será comemorado o Dia dos Pais. Outros "motivos" seriam a transferência de presos do segundo escalão do PCC para a penitenciária federal em Catanduvas (PR) e a péssima situação carcerária nos presídios de Araraquara, Mirandópolis e Itirapina, no interior paulista.

Liberdade, liberdade
De manhã, o governo do Estado optou por encenar o roteiro da normalidade. Às 10h30, a banda da Polícia Militar compareceu à praça Charles Miller, onde fica o estádio do Pacaembu, e tocou, entre outras músicas, o "Hino da Proclamação da República" ("Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós"), para o governador Cláudio Lembo (PFL) e o secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, que foram entregar as chaves de 433 novos veículos para a PM paulista.
Os policiais que participaram da festa capricharam no desfile para as autoridades -de cima dava para ver: os veículos formavam o mapa do Estado.
A cerimônia serviu para Saulo atacar o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e sua oferta de envio de soldados do Exército para atuar na crise da segurança pública paulista.
De acordo com Saulo, o ministro "cria falsa expectativa, vende algo que não é real", "falta com a verdade".
Do outro lado, Bastos disse estar "amedrontado". O ministro, que participou de seminário para alunos de direito, disse que a presença das Forças Armadas já poderia ter resolvido o problema. "Eu acredito que, se a gente colocasse operações do Exército aqui, elas teriam um efeito dissuasório muito grande, como teriam tido em maio, como teriam tido em julho, como teriam tido agora."
O governador retrucou com um "Se alguém está amedrontado, não deveria estar em São Paulo, ou então não deveria exercer cargos públicos".
Sem opção, o Estado aguarda, aflito, o Dia dos Pais, quando, segundo ameaça, haverá nova leva de ações. Ontem à noite, a PM enviou alerta às unidades -novos atentados estavam previstos para a madrugada de hoje. Mais ônibus foram queimados. Cooperativas de lotações também não garantem a circulação dos veículos.


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