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Na terceira onda de atentados, PCC faz cem alvos em 18 cidades
Facção criminosa ordena ações por temer restrições às saídas das penitenciárias no Dia dos Pais; houve danos à sede do Ministério Público de SP, a postos de gasolina e a bancos
Rodrigo Paiva/Folha Imagem
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Posto assaltado e incendiado na zona norte de SP, próximo à marginal Tietê |
DA REPORTAGEM LOCAL
O Estado de São Paulo acordou ontem sob o terror da terceira onda de ataques da organização criminosa PCC -Primeiro Comando da Capital. O
atentado com maior poder de
destruição foi o que atingiu o
prédio do Ministério Público
Estadual, localizado no coração
histórico da capital, cuja fachada foi detonada por uma bomba
de fabricação caseira acionada
por controle remoto às 5h10.
O impacto da explosão deixou uma cratera de 20 centímetros de profundidade, fez
ruir o teto, sucateou o detector
de metais e a aparelhagem de
raio X, instalados na recepção
do prédio. A onda de choque
também estilhaçou janelas e
arrombou portas de ferro dos
prédios vizinhos.
No começo da manhã, em outro ataque, uma granada de uso
exclusivo do Exército caiu ao
lado do setor de atendimento
do posto do Poupatempo da
Luz, também no centro. Ninguém saiu ferido só porque a
granada não explodiu -apesar
de o pino ter sido puxado. O horário de atendimento já estava
aberto. No andar de cima fica
uma garagem da Polícia Civil.
Mais um artefato foi lançado
contra o prédio da Secretaria de
Estado da Fazenda, ao lado do
mesmo Poupatempo.
Cem ataques
Na nova onda de violência do
PCC (as primeiras foram em
maio e julho), em 18 cidades,
houve cem ataques -incluem-se aí 28 ônibus queimados, três
deles no início da noite de ontem-, um Distrito Policial alvejado em Sorocaba, 34 agências bancárias e 12 postos de gasolina (incluindo um no nobre
bairro de Higienópolis). Dois
supermercados e um estacionamento perto do prédio do
Deic (Departamento de Investigação sobre o Crime Organizado) também foram atacados.
Segundo a polícia, 40 alvos
foram atingidos por coquetéis
molotov, 26 por disparos de arma e 11 por artefatos explosivos. Até a noite de ontem, dois
acusados de pertencer à facção
tinham sido mortos pela polícia. Outros 12 estavam presos,
segundo o comandante-geral
da Polícia Militar de SP, Elizeu
Eclair Teixeira Borges.
Um morador de rua atropelado por um carro conduzido por
membros do PCC continuava
internado em um hospital na
zona leste -ele dormia em
frente a um banco atacado.
A Folha apurou que os atentados de ontem foram uma resposta do PCC à possibilidade
de o Estado obter na Justiça
uma forte restrição à saída provisória de presos das cadeias,
no próximo domingo, quando
será comemorado o Dia dos
Pais. Outros "motivos" seriam
a transferência de presos do segundo escalão do PCC para a
penitenciária federal em Catanduvas (PR) e a péssima situação carcerária nos presídios
de Araraquara, Mirandópolis e
Itirapina, no interior paulista.
Liberdade, liberdade
De manhã, o governo do Estado optou por encenar o roteiro da normalidade. Às 10h30, a
banda da Polícia Militar compareceu à praça Charles Miller,
onde fica o estádio do Pacaembu, e tocou, entre outras músicas, o "Hino da Proclamação da
República" ("Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós"),
para o governador Cláudio
Lembo (PFL) e o secretário da
Segurança Pública, Saulo de
Castro Abreu Filho, que foram
entregar as chaves de 433 novos veículos para a PM paulista.
Os policiais que participaram
da festa capricharam no desfile
para as autoridades -de cima
dava para ver: os veículos formavam o mapa do Estado.
A cerimônia serviu para Saulo atacar o ministro da Justiça,
Márcio Thomaz Bastos, e sua
oferta de envio de soldados do
Exército para atuar na crise da
segurança pública paulista.
De acordo com Saulo, o ministro "cria falsa expectativa,
vende algo que não é real", "falta com a verdade".
Do outro lado, Bastos disse
estar "amedrontado". O ministro, que participou de seminário para alunos de direito, disse
que a presença das Forças Armadas já poderia ter resolvido
o problema. "Eu acredito que,
se a gente colocasse operações
do Exército aqui, elas teriam
um efeito dissuasório muito
grande, como teriam tido em
maio, como teriam tido em julho, como teriam tido agora."
O governador retrucou com
um "Se alguém está amedrontado, não deveria estar em São
Paulo, ou então não deveria
exercer cargos públicos".
Sem opção, o Estado aguarda, aflito, o Dia dos Pais, quando, segundo ameaça, haverá
nova leva de ações. Ontem à
noite, a PM enviou alerta às
unidades -novos atentados estavam previstos para a madrugada de hoje. Mais ônibus foram queimados. Cooperativas
de lotações também não garantem a circulação dos veículos.
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