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FAB barra na Justiça apreensão de dados em aeroportos
Decisão impediu entrega à Procuradoria e a agentes federais de documentos sobre o controle aéreo em Brasília e em SP
Em Cumbica, chegaram a ser apreendidas cerca de 20 caixas de documentos e gravações, mas Justiça
determinou devolução
DA REPORTAGEM LOCAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em um dia de idas e vindas e
bate-boca público, o procurador da República Matheus Baraldi Magnani recolheu cerca
de 20 caixas de documentos e
gravações no aeroporto de
Cumbica, pôs as mãos no livro
de ocorrências de Congonhas,
mas teve de devolver tudo, por
ordem da Justiça Federal.
Pela manhã, Magnani, acompanhado de cerca de 15 delegados e agentes da Polícia Federal, foi até Cumbica para cumprir um mandado de busca e
apreensão de registros de ocorrências sobre falhas no sistema
de tráfego aéreo. O mandado
foi assinado pela juíza Maria
Isabel do Prado, da 2ª Vara Federal de Guarulhos.
O mandado foi pedido por
Magnani, que investiga, desde o
ano passado, o sistema de controle aéreo brasileiro. Ele disse
que quer identificar as falhas
para, posteriormente, entrar
com uma ação para exigir investimentos do governo.
Enquanto ocorria a apreensão em Cumbica, policiais federais foram a Congonhas e ao
Cindacta-1, em Brasília, para
recolher documentos, mas não
conseguiram em razão da resistência imposta pelos militares.
Em Cumbica, o controle de
tráfego aéreo é feito por civis.
Em Congonhas e em Brasília,
por militares. Começou então
um bate-boca que envolveu o
procurador, em São Paulo, e o
comandante da Aeronáutica,
Juniti Saito, em Brasília.
O comando do SRPV (Serviço Regional de Proteção ao
Vôo) em Congonhas proibiu os
policiais federais de entrarem
sob o argumento de que isso
poderia prejudicar a segurança.
Após concluir a apreensão
em Cumbica, por volta das 13h,
Magnani foi a Congonhas. Ao
chegar, criticou a decisão do comando do SRPV.
Em Brasília, o comandante
da FAB, Juniti Saito, dizia que
apenas os militares eram qualificados para analisar os documentos. No Cindacta-1, como
em Congonhas, a tentativa de
obter os dados foi infrutífera.
Após cerca de duas horas de
negociação em Congonhas com
o chefe do SPRV, o coronel Carlos Minelli de Sá, Magnani conseguiu ter acesso ao livro de
ocorrências do aeroporto.
Depois, porém, chegou a informação de que a AGU (Advocacia Geral da União) tinha entrado com um recurso, acatado
pela presidente do TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª
Região, em São Paulo), desembargadora Marli Ferreira.
Em seu despacho, Ferreira
suspendeu o mandado de busca
e apreensão e determinou que
o procurador devolvesse os documentos já recolhidos em um
prazo de duas horas. Dizia ainda que o procurador poderia
ser responsabilizado civil e criminalmente caso houvesse vazamento de informações.
Agentes da PF no aeroporto
de Cumbica chegaram a ir ao
prédio da Justiça Federal em
Guarulhos para pegar os documentos de volta, mas voltaram
sem nada. Como haveria punição para o caso de vazamento, a
superintendência da PF preferiu apenas colocar o carro à disposição para que a Infraero fosse buscar os documentos, o que
deveria ocorrer ontem à noite.
O recurso da AGU foi movido
a pedido da Aeronáutica, sob a
alegação, entre outras, de que
os dados colocam em risco a segurança nacional.
Para Magnani, a decisão da
Justiça é uma afronta à segurança. Ele -que estuda recorrer- defende que os passageiros têm o direito de conhecer os
riscos causados por falhas no
controle aéreo.
(EVANDRO SPINELLI, JOHANNA NUBLAT, RAFAEL TARGINO e VINICIUS ABBATE)
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