|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Solo cede sobre obra do Metrô e famílias são tiradas de casas
Empresa afirma que ocorreu "movimentação" no terreno próximo à futura estação Vila Prudente; cinco famílias deixaram local
Hoje, os engenheiros da empresa Odebrecht, responsável pela obra, vão ao local, avaliar as
condições dos imóveis
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Cinco famílias tiveram de
deixar suas casas, na Vila Prudente, distrito da zona leste de
São Paulo, para ser alojadas em
hotéis nas redondezas. Exatamente sob as casas delas, encontravam-se ontem, a cerca
de dez metros de profundidade,
os trabalhos de perfuração do
túnel que, depois de pronto, ligará as estações Tamanduateí e
Vila Prudente da Linha 2 -
Verde - do Metrô.
A assessoria de imprensa do
Metrô diz ter havido "recalque
do terreno", que explicou ser
"movimentação de solo", e que
a remoção das famílias obedeceu ao "protocolo de segurança". Não há prazo para o retorno das famílias a suas casas.
Hoje, os engenheiros da Odebrecht, responsável pela obra,
vão ao local, avaliar as condições dos imóveis. Só então será
decidida a data em que os moradores poderão retornar.
A evacuação das cinco casas
aconteceu na terça-feira (4 de
agosto), quando pelo menos
quatro quarteirões em torno da
esquina das ruas Oliveira Gouveia e Pires Pimentel foram
bloqueados ao tráfego de veículos. Na ocasião, bombeiros, engenheiros do metrô e da Odebrecht, além da Defesa Civil e
da Companhia de Engenharia
de Tráfego foram mobilizados
para atuar na ação.
O advogado Osmar Leme dos
Santos, que já havia participado
de dois simulados de emergência patrocinados pelo Metrô, há
um mês, estranhou o ocorrido
na última terça-feira:
"Nas outras vezes, os ensaios
foram amplamente divulgados
no bairro, até para não haver
pânico. Desta, não. Eu voltava
do fórum para casa, quando me
deparei com as barreiras montadas. Os carros não passavam.
Fiquei desesperado, pensando:
será que é outra tragédia, como
aquela que aconteceu nas obras
da estação de Pinheiros?"
Santos referia-se ao desabamento do canteiro de obras do
metrô Pinheiros (zona oeste de
São Paulo), em 12 de janeiro de
2007, quando uma cratera engoliu caminhões, casas e causou a morte por soterramento
de oito pessoas.
Moradores das proximidades
da nova estação do metrô da Vila Prudente dizem que suas casas vêm apresentando rachaduras crescentes.
No Bar do Marcos, na esquina oposta àquela das casas evacuadas, o proprietário aponta
para um rasgo na parede, e responsabiliza as obras do metrô
por elas. "Isso não existia antes." Ele diz que a porta do bar
já não fecha direito por causa
do desalinhamento do solo.
Brecha
Segundo a página do metrô
na internet, 63,3% da extensão
da Linha 2 até Vila Prudente estão concluídas. Na estação do
bairro, 57% das obras civis já
estariam prontas.
Um engenheiro do metrô entrevistado pela Folha, ontem à
noite, disse -sob a condição de
não ser identificado- que as
fortes chuvas verificadas na cidade de São Paulo nas últimas
semanas provocaram um deslocamento de terra que abriu
uma brecha entre a capa de
concreto que reveste o túnel do
metrô e a camada de solo em
que se assentam as casas. Segundo esse técnico, essa brecha
seria de 4 centímetros.
A assessoria do metrô admite a movimentação de solo,
mas diz que foi da ordem de
poucos milímetros.
O jornal de bairro "Folha de
Vila Prudente" publicou ontem
reportagem sobre o problema
nas obras, em que afirma que
os trabalhos de abertura do túnel do metrô foram preventivamente suspensos, até a drenagem do terreno.
A região em que ficam as casas evacuadas é até hoje uma
área crítica de alagamentos.
Antiga várzea do córrego da
Mooca, sobre o qual corre a
avenida Luiz Ignacio de Anhaia
Mello, o terreno transforma-se
em uma espécie de lodaçal na
época das chuvas -enche e torna inacessíveis o Expresso Tiradentes e o Terminal de ônibus da Vila Prudente, bem perto.
Um morador do bairro que
brincou no córrego da Mooca
quando criança fez questão de
levar a reportagem até o quintal de sua casa para mostrar
que, ainda ontem, bastava escavar 40 centímetros de terra
para a água aflorar.
Texto Anterior: Bebê volta a morar com a mãe que o abandonou Próximo Texto: Frase Índice
|