São Paulo, sábado, 08 de agosto de 2009

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Solo cede sobre obra do Metrô e famílias são tiradas de casas

Empresa afirma que ocorreu "movimentação" no terreno próximo à futura estação Vila Prudente; cinco famílias deixaram local

Hoje, os engenheiros da empresa Odebrecht, responsável pela obra, vão ao local, avaliar as condições dos imóveis

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Cinco famílias tiveram de deixar suas casas, na Vila Prudente, distrito da zona leste de São Paulo, para ser alojadas em hotéis nas redondezas. Exatamente sob as casas delas, encontravam-se ontem, a cerca de dez metros de profundidade, os trabalhos de perfuração do túnel que, depois de pronto, ligará as estações Tamanduateí e Vila Prudente da Linha 2 - Verde - do Metrô.
A assessoria de imprensa do Metrô diz ter havido "recalque do terreno", que explicou ser "movimentação de solo", e que a remoção das famílias obedeceu ao "protocolo de segurança". Não há prazo para o retorno das famílias a suas casas.
Hoje, os engenheiros da Odebrecht, responsável pela obra, vão ao local, avaliar as condições dos imóveis. Só então será decidida a data em que os moradores poderão retornar.
A evacuação das cinco casas aconteceu na terça-feira (4 de agosto), quando pelo menos quatro quarteirões em torno da esquina das ruas Oliveira Gouveia e Pires Pimentel foram bloqueados ao tráfego de veículos. Na ocasião, bombeiros, engenheiros do metrô e da Odebrecht, além da Defesa Civil e da Companhia de Engenharia de Tráfego foram mobilizados para atuar na ação.
O advogado Osmar Leme dos Santos, que já havia participado de dois simulados de emergência patrocinados pelo Metrô, há um mês, estranhou o ocorrido na última terça-feira:
"Nas outras vezes, os ensaios foram amplamente divulgados no bairro, até para não haver pânico. Desta, não. Eu voltava do fórum para casa, quando me deparei com as barreiras montadas. Os carros não passavam. Fiquei desesperado, pensando: será que é outra tragédia, como aquela que aconteceu nas obras da estação de Pinheiros?"
Santos referia-se ao desabamento do canteiro de obras do metrô Pinheiros (zona oeste de São Paulo), em 12 de janeiro de 2007, quando uma cratera engoliu caminhões, casas e causou a morte por soterramento de oito pessoas.
Moradores das proximidades da nova estação do metrô da Vila Prudente dizem que suas casas vêm apresentando rachaduras crescentes.
No Bar do Marcos, na esquina oposta àquela das casas evacuadas, o proprietário aponta para um rasgo na parede, e responsabiliza as obras do metrô por elas. "Isso não existia antes." Ele diz que a porta do bar já não fecha direito por causa do desalinhamento do solo.

Brecha
Segundo a página do metrô na internet, 63,3% da extensão da Linha 2 até Vila Prudente estão concluídas. Na estação do bairro, 57% das obras civis já estariam prontas.
Um engenheiro do metrô entrevistado pela Folha, ontem à noite, disse -sob a condição de não ser identificado- que as fortes chuvas verificadas na cidade de São Paulo nas últimas semanas provocaram um deslocamento de terra que abriu uma brecha entre a capa de concreto que reveste o túnel do metrô e a camada de solo em que se assentam as casas. Segundo esse técnico, essa brecha seria de 4 centímetros.
A assessoria do metrô admite a movimentação de solo, mas diz que foi da ordem de poucos milímetros.
O jornal de bairro "Folha de Vila Prudente" publicou ontem reportagem sobre o problema nas obras, em que afirma que os trabalhos de abertura do túnel do metrô foram preventivamente suspensos, até a drenagem do terreno.
A região em que ficam as casas evacuadas é até hoje uma área crítica de alagamentos. Antiga várzea do córrego da Mooca, sobre o qual corre a avenida Luiz Ignacio de Anhaia Mello, o terreno transforma-se em uma espécie de lodaçal na época das chuvas -enche e torna inacessíveis o Expresso Tiradentes e o Terminal de ônibus da Vila Prudente, bem perto.
Um morador do bairro que brincou no córrego da Mooca quando criança fez questão de levar a reportagem até o quintal de sua casa para mostrar que, ainda ontem, bastava escavar 40 centímetros de terra para a água aflorar.


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