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ANÁLISE EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO
Desafio do MEC, agora, é superar suspeitas
Sequência de erros coloca credibilidade da prova em xeque e amplifica quaisquer novos problemas que surjam
ANTÔNIO GOIS
DO RIO
Para entender os problemas no Enem -o vazamento
de dados de estudantes na
internet na semana passada
foi o mais recente- vale
atentar para o desvio na rota
original do Inep, autarquia
do Ministério da Educação
responsável pela prova.
O instituto foi criado em
1937 para subsidiar políticas
educacionais via pesquisas e
estudos. Agora organiza o
maior vestibular do país, status que passou a ter o Enem.
Quem defende a mudança
argumenta que ela é necessária porque o MEC deu finalidade ao exame que, até pouco tempo, era aceito por poucas faculdades de ponta.
Quando surgiu, em 1998, o
Enem tinha como objetivos
servir como parâmetro para o
currículo do ensino médio e
fornecer uma avaliação de
aprendizado ao estudante.
Aos poucos, instituições
foram aceitando o exame como substituição ou complemento a processos seletivos.
Com a implementação do
ProUni (bolsas para alunos
carentes em universidades
privadas), em 2005, o Enem
ganhou fôlego, já que os candidatos precisavam da prova
para concorrer ao benefício.
No ano passado, o MEC decidiu que era o momento de
fazer nova investida, ampliando o exame ao vinculá-lo ao processo seletivo de
mais instituições públicas e
deixando-o mais parecido a
um vestibular tradicional.
O teste que almejava influenciar o currículo do ensino médio virou um vestibular centralizado: a logística
de elaboração e aplicação e a
entrega de seus resultados
têm consequências no futuro
de 2,5 milhões de estudantes.
O custo não é só financeiro. Ao assumir a tarefa, o
MEC corre o risco de ser engolido pelo processo. Quando o
exame toma outras proporções, falhas ganham relevância e colocam em dúvida sua
capacidade de organizá-lo.
Os problemas recentes,
mesmo graves, teriam menor
repercussão se, em 2009, a
prova não tivesse sido furtada antes de sua aplicação.
É normal que seja assim.
Após um trágico acidente de
avião, qualquer pouso forçado de monomotor ganha destaque: é o clima de insegurança gerado pela tragédia
maior. O Inep e o MEC precisarão lidar no curto prazo
com este desafio: vencer as
suspeitas sobre sua capacidade e levar adiante uma
proposta bem intencionada,
pensada para facilitar a vida
de milhões de alunos do país.
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