São Paulo, segunda-feira, 08 de setembro de 2008

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"Ninguém está querendo envenenar ninguém, também somos população"

Juca Varella - 26.jan.99/Folha Imagem
Edmund Klotz, presidente da Abia

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Abia (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação), Edmund Klotz, afirma que os fabricantes concordam que é preciso tirar a gordura trans dos alimentos, mas não aceitam que o governo imponha prazos. No entanto, Klotz diz não ter certeza se a gordura trans realmente é prejudicial à saúde. "A ciência pega um monte de rato e enche de margarina, o bicho morre entupido e conclui-se que a gordura trans faz mal." A seguir, trechos da entrevista à Folha.

 

FOLHA - A indústria está comprometida com a eliminação da gordura trans dos alimentos?
EDMUND KLOTZ - Não é questão de compromisso. É questão de possibilidade. Estamos fazendo pesquisas para encontrar uma alternativa à gordura trans. Não há a menor resistência de nossa parte. O que há é a impossibilidade de pararmos de usá-la neste momento por falta de alternativas.

FOLHA - Mas já existem alimentos sem gordura trans, não existem?
KLOTZ - Existem soluções parciais, como o óleo de alpiste e o de palma, mas eles não estão disponíveis em quantidade suficiente. Antigamente, a gordura animal era usada em tudo. Com o passar do tempo, descobriu-se que a banha era algo pesado. Foi então que surgiram as gorduras vegetais [que dão origem à trans]. Só que a passagem da banha para a gordura vegetal levou 40 anos.

FOLHA - Algum dia não haverá mais gordura trans nos alimentos?
KLOTZ - Ninguém pode dizer que vai acabar. Só se mandarem os bois, as vacas e os porcos embora do Brasil. Faz 5.000 anos que se usa gordura trans. Ela está nos animais. A questão é trocar a gordura trans vegetal. Agora, falar em termos gerais da gordura trans como se fosse o grande veneno... Então estamos comendo veneno desde os nossos antepassados. Fez mal?

FOLHA - Os médicos e os cientistas asseguram que é prejudicial.
KLOTZ - A ciência pega um monte de rato e enche de margarina, o bicho morre entupido e conclui-se que a gordura trans faz mal. Pode até fazer mal, eu não sei. Mas a gordura trans animal faz parte, nosso organismo está acostumado a metabolizá-la. Nós [a indústria de alimentos] também somos população, comemos os alimentos. Ninguém está querendo envenenar ninguém. Mas hoje não dá para falar em prazo.

FOLHA - A idéia do governo era que a gordura trans fosse eliminada em três anos, como foi no Canadá...
KLOTZ - Brasil é uma coisa, Canadá é outra. Imagine quando tempo leva para descobrir um produto, aprová-lo, conseguir a matéria-prima em quantidade suficiente, encontrar gente disposta a plantar e a pôr dinheiro nesse negócio.

FOLHA - A indústria, então, não aceita o prazo de três anos?
KLOTZ - Se for fixado um prazo, vamos ter de criar porco de novo e voltar à velha banha. Somos como as montadoras de automóveis. De repente as proíbem de usar ferro nos carros, porque faz mal, dá câncer... Vão usar o quê? Cola, chiclete? Esse é o drama.

FOLHA - O governo entendeu?
KLOTZ - Estão caindo na real. Representamos [a indústria de alimentos] um terço do PIB [produto interno produto], somos responsáveis por 60% do superávit da balança comercial. Temos de pesar as conseqüências. Está-se brincando com opiniões cretinas.


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