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Esqueletos de obras mostram desperdício de R$ 243 mi
Levantamento foi feito em 21 cidades paulistas com mais de 100 mil habitantes
Entre as obras públicas paradas ou inutilizadas há quatro hospitais, centro de lazer, viaduto, biblioteca e até um "coliseu" tupiniquim
Joel Silva/Folha Imagem
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Esqueleto da obra de hospital em Ourinhos, interior de SP |
FABRÍCIO FREIRE GOMES
JORGE SOUFEN JR
DA FOLHA RIBEIRÃO
O imponente prédio de 11 andares deveria estar lotado de
médicos correndo para lá e para cá, pacientes sendo atendidos nos leitos e visitantes passando pela portaria. Mas está
vazio. No lugar do cheiro típico
de hospital, só o odor do concreto. A iluminação artificial
não existe: o breu é quebrado
apenas pela luz que consegue
atravessar as janelas.
O prédio que deveria abrigar
o novo hospital do Centrinho
de Bauru começou a ser construído em 1989, consumiu R$
18 milhões, mas a obra parou há
sete anos. Pior, ele é somente
um dos exemplos de esqueletos
de obras públicas que existem
no Estado de São Paulo.
A Folha mapeou 26 obras
públicas paradas ou inutilizadas em 21 cidades do Estado
com mais de 100 mil habitantes. São pelo menos R$ 242,8
milhões gastos dos cofres públicos -municipais, estadual e
federal- nessas obras.
Desinteresse
O desperdício de dinheiro
público é resultado de vários fatores, segundo especialistas em
administração pública e promotores ouvidos pela Folha.
Entre eles, o desinteresse dos
gestores em concluir obra dos
antecessores e a falta de planejamento e de projetos.
Para o ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Valmir Campelo, as obras inacabadas são indícios de irregularidades e podem mostrar desvio
de dinheiro público.
Além do hospital de Bauru,
figuram na lista de esqueletos
espalhados pelo Estado outros
três hospitais-fantasmas em
Ourinhos, Araçatuba e Rio Claro, um "coliseu" tupiniquim
em Marília, uma delegacia tributária em Franca, um centro
de esportes em Suzano, um viaduto inacabado em Bauru, um
conjunto residencial em Mogi
das Cruzes, um terminal turístico em Praia Grande, uma biblioteca em Mauá e outros.
Há o caso também de obras
acabadas que não têm função.
O maior exemplo é encontrado
em Campinas. A avenida das
Amoreiras mantém postes e
trilhos do sistema VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), instalados em 1990 a um custo, até
agora, de R$ 100 milhões.
O sistema funcionou experimentalmente e acabou desativado em 1994. Motivo alegado
na época: o VLT é economicamente insustentável, ou seja, o
valor da tarifa não bancaria os
gastos de manutenção.
A atual administração disse
ter intenção de reaproveitar a
estrutura nos próximos dois
anos para instalar um corredor
exclusivo para ônibus.
Aliás, a maioria dos prefeitos
das cidades com obras paradas
diz ter intenção de retomá-las,
desde que consigam recursos
do Estado, União ou iniciativa
privada. Muitos chegam a alterar o projeto e a destinação do
prédio, alegando que o original
ficou obsoleto.
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