São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2007

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Esqueletos de obras mostram desperdício de R$ 243 mi

Levantamento foi feito em 21 cidades paulistas com mais de 100 mil habitantes

Entre as obras públicas paradas ou inutilizadas há quatro hospitais, centro de lazer, viaduto, biblioteca e até um "coliseu" tupiniquim

Joel Silva/Folha Imagem
Esqueleto da obra de hospital em Ourinhos, interior de SP


FABRÍCIO FREIRE GOMES
JORGE SOUFEN JR
DA FOLHA RIBEIRÃO

O imponente prédio de 11 andares deveria estar lotado de médicos correndo para lá e para cá, pacientes sendo atendidos nos leitos e visitantes passando pela portaria. Mas está vazio. No lugar do cheiro típico de hospital, só o odor do concreto. A iluminação artificial não existe: o breu é quebrado apenas pela luz que consegue atravessar as janelas.
O prédio que deveria abrigar o novo hospital do Centrinho de Bauru começou a ser construído em 1989, consumiu R$ 18 milhões, mas a obra parou há sete anos. Pior, ele é somente um dos exemplos de esqueletos de obras públicas que existem no Estado de São Paulo.
A Folha mapeou 26 obras públicas paradas ou inutilizadas em 21 cidades do Estado com mais de 100 mil habitantes. São pelo menos R$ 242,8 milhões gastos dos cofres públicos -municipais, estadual e federal- nessas obras.

Desinteresse
O desperdício de dinheiro público é resultado de vários fatores, segundo especialistas em administração pública e promotores ouvidos pela Folha. Entre eles, o desinteresse dos gestores em concluir obra dos antecessores e a falta de planejamento e de projetos.
Para o ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Valmir Campelo, as obras inacabadas são indícios de irregularidades e podem mostrar desvio de dinheiro público.
Além do hospital de Bauru, figuram na lista de esqueletos espalhados pelo Estado outros três hospitais-fantasmas em Ourinhos, Araçatuba e Rio Claro, um "coliseu" tupiniquim em Marília, uma delegacia tributária em Franca, um centro de esportes em Suzano, um viaduto inacabado em Bauru, um conjunto residencial em Mogi das Cruzes, um terminal turístico em Praia Grande, uma biblioteca em Mauá e outros.
Há o caso também de obras acabadas que não têm função. O maior exemplo é encontrado em Campinas. A avenida das Amoreiras mantém postes e trilhos do sistema VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), instalados em 1990 a um custo, até agora, de R$ 100 milhões.
O sistema funcionou experimentalmente e acabou desativado em 1994. Motivo alegado na época: o VLT é economicamente insustentável, ou seja, o valor da tarifa não bancaria os gastos de manutenção.
A atual administração disse ter intenção de reaproveitar a estrutura nos próximos dois anos para instalar um corredor exclusivo para ônibus.
Aliás, a maioria dos prefeitos das cidades com obras paradas diz ter intenção de retomá-las, desde que consigam recursos do Estado, União ou iniciativa privada. Muitos chegam a alterar o projeto e a destinação do prédio, alegando que o original ficou obsoleto.


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