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TRANSPORTE
Para manter 900 ônibus em circulação, município cobre dívidas de empresário que teve contratos rompidos
Prefeitura injeta R$ 7 milhões em viação
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
A prefeitura injetou nos últimos
dois meses R$ 7 milhões nas viações de ônibus do empresário Romero Niquini, segundo maior de
São Paulo, que teve seus contratos
rompidos e cuja frota passou ao
controle do poder público em razão de irregularidades na prestação de contas da arrecadação.
O desembolso foi feito pela
SPTrans (São Paulo Transporte,
órgão municipal que cuida do setor) para pagar as dívidas deixadas por Niquini e conseguir manter a operação de quase 900 ônibus das viações Santa Bárbara,
São Judas e Expresso Parelheiros.
A administração Marta Suplicy
(PT) prevê injetar ainda em torno
de R$ 4 milhões até dezembro, já
que a arrecadação da tarifa não
vai ser suficiente para os pagamentos do 13º salário dos motoristas e cobradores. O montante
de R$ 11 milhões beira 10% da arrecadação mensal do sistema, cuja frota é de 10 mil veículos.
As informações sobre a injeção
de recursos foram dadas ontem
por Willian Ali Chaim, 39, militante do PT ligado ao alto escalão
do partido e que preside desde julho as empresas de Niquini.
Chaim chama essa operação de
"subsídio" -prática abolida pela
prefeitura em maio de 2001, quando a tarifa subiu de R$ 1,15 para
R$ 1,40. "Eles estão subsidiando
porque não existe condição financeira de operar em São Paulo sem
subsídio. Para que se mantenham, os empresários não pagam
impostos nem registram a hora
extra no holerite", diz.
O diretor-adjunto da SPTrans,
Adauto Farias, confirma os gastos, mas usa dois argumentos para negar a classificação de subsídio: os recursos injetados nas viações não são de verba orçamentária, mas do montante arrecadado
pela SPTrans e viações com vales-transporte; e a intenção do governo é recuperá-los no final da intervenção, cobrando judicialmente de Niquini, se preciso.
"Ao entrar, tivemos que cobrir
pendências com trabalhadores e
fornecedores. Tudo será pedido
de volta, e nenhum tostão saiu do
Orçamento. Se a gente não tivesse
feito esse desembolso, os ônibus
não teriam como rodar", afirma
Farias, que reconhece que a arrecadação das viações de Niquini
não cobre os custos. "Mas é porque se gasta demais com manutenção. Eles não investiram na
frota nos últimos anos", diz.
Farias afirma que a prefeitura
injetou ainda R$ 3 milhões em
duas intervenções feitas nos últimos meses nas viações América
do Sul e Cidade Tiradentes. Esse
valor, segundo ele, já está sendo
descontado da remuneração dessas empresas, que não estão mais
sob controle do poder público.
Depoimento
Chaim deveria prestar depoimento ontem na Câmara Municipal, mas não houve quórum na
Comissão Permanente de Transportes e Atividade Econômica.
O petista, que diz ter assumido a
presidência do grupo Niquini por
indicação do secretário dos
Transportes, Carlos Zarattini,
prometia, nas palavras dele, um
"arsenal" de revelações sobre as
ações da prefeitura nesse setor
-principalmente sobre a intervenção nas empresas de Niquini e
supostos benefícios a grupos.
O depoimento foi adiado para a
próxima segunda-feira. Dos sete
integrantes da comissão, apenas
os vereadores José Rogério Farhat
(PSD) e Roger Lin (PPS) compareceram. Toninho Campanha
(PSB), Devanir Ribeiro (PT), Dalton Silvano (PSDB), Domingos
Dissei (PFL) e Humberto Martins
(PDT) não estiveram presentes. O
quórum mínimo era de quatro.
Alguns vereadores viram com
estranheza a ausência e suspeitam
de uma articulação governista para evitar a fala de Chaim -versão
negada pelos envolvidos.
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