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São Paulo, sábado, 08 de novembro de 2003

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SEGURANÇA SOB AMEAÇA

Polícia Civil prende seis suspeitos de ataque a uma base comunitária da PM em São Paulo, ação na qual um cabo foi assassinado

Da prisão, traficante encomenda atentado

André Porto/Folha Imagem
Policiais apresentam suspeitos do ataque contra a base da PM


ALESSANDRO SILVA
PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A ordem para o atentado que matou o cabo da Polícia Militar Pedro Cassiano da Cunha, 44, no início da série de atentados atribuídos por autoridades à facção PCC (Primeiro Comando da Capital), partiu de um traficante que cumpre pena em uma prisão de São Paulo, segundo a polícia.
A informação foi divulgada ontem pelo Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), após a prisão, na zona norte, de seis jovens, de 17 a 20 anos, suspeitos de terem ligação com o ataque contra a base comunitária do Tremembé, também na zona norte, onde o policial morreu e outro ficou ferido na madrugada de segunda-feira.
Com mais dois atentados -em Osasco (Grande SP), anteontem à noite, e em São José dos Campos (97 km de SP), ontem de madrugada-, subiu para 28 o número de ataques contra prédios, veículos e casa de policiais, os alvos escolhidos pelos criminosos.
Segundo o delegado Rui Ferraz Fontes, um traficante, cujo nome não revelou, teria emprestado uma escopeta, apreendida com os acusados, para o atentado.
O grupo foi descoberto com a prisão de dois jovens, um de 17 e outro de 18 anos, pela PM, após uma denúncia anônima. Eles estavam com a escopeta. Depois, mais quatro suspeitos foram detidos, entre eles três irmãos. Um deles, de 17 anos, teria atirado com um fuzil contra a base da PM.
A polícia achou o fuzil e uma carabina escondidos em um sofá na casa de uma irmã deles. Mais três revólveres foram apreendidos.

Policial preso
Com base em informações de dois dos presos, um policial militar, identificado como Irineu, também foi preso ontem sob acusação de ter vendido uma pistola e dois revólveres para os seis acusados. As armas teriam sido usadas em dois assaltos a supermercados e também em um latrocínio (roubo seguido de morte).
Exames periciais serão realizados nas armas para descobrir se elas foram usadas no atentado.
O PM preso faz guarda no presídio Romão Gomes, na Água Fria (zona norte). No final da tarde de ontem, a polícia ainda procurava mais quatro suspeitos de integrar o grupo que atacou a base.
Não foi permitido o acesso dos jornalistas aos presos. Segundo a polícia, eles confirmaram a participação no atentado, mas negaram ligação com o PCC. "Eles confirmaram que participaram e desferiram os tiros contra a base. Ainda não deram motivo. Têm medo de falar, mesmo porque eles estão indo para a cadeia. E na cadeia eles [os mandantes] podem cobrar", disse o delegado.
É a primeira vez que a polícia confirma ter evidências de que a ordem de um dos atentados partiu de um presídio. Apesar do isolamento em unidades especiais, as ordens da cúpula do PCC continuam sendo distribuídas por meio de advogados e parentes, conforme investigações.

Ataques
A quinta onda de atentados começou anteontem, às 23h, contra uma base da Guarda Civil Metropolitana, em Osasco. Seis homens em dois carros deram mais de 20 tiros. Nenhum dos dez guardas ficou ferido. O prédio tem vidros blindados. Ninguém foi preso.
Em São José dos Campos, no Vale do Paraíba, um carro da Polícia Militar foi atacado na madrugada de ontem. Desconhecidos em um carro cruzaram a frente dos PMs e fizeram pelo menos dez disparos. Ninguém se feriu.
A Secretaria da Administração Penitenciária recebeu anteontem um relatório do presídio de Iaras (282 km de SP) informando que o PCC ameaçou atacar juízes, promotores e diretores de presídios, em uma nova frente de atentados.
A informação foi repassada à Secretaria da Segurança Pública, ao Ministério Público e ao Judiciário. O relato, feito por um preso, não menciona nomes de alvos nem revela quem executaria as ações e quando elas ocorreriam.
Todos os presídios do Estado estão em alerta no final de semana para uma possível mobilização de presos -outra ameaça da facção, que, em fevereiro de 2001, coordenou a maior rebelião da história dos presídios brasileiros.
Ontem, o Deic informou que os presos Júlio César Guedes de Moraes, o Julinho Carambola, e Sandro Henrique da Silva Santos, o Gulu, serão indiciados pelas duas mortes de policiais e pela série de atentados desta semana. Os dois apresentaram no CRP (Centro de Readaptação Penitenciária) de Presidente Bernardes (589 km de SP), em nome do PCC, uma lista de reivindicações para amenizar o RDD (regime disciplinar diferenciado), ao qual estão submetidos os líderes da facção. Com a lista, entregue na semana passada, os dois teriam prometido retaliações, caso não fossem atendidos.


Colaboraram o "Agora" e a Folha Campinas

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