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SEGURANÇA SOB AMEAÇA
Polícia Civil prende seis suspeitos de ataque a uma base comunitária da PM em São Paulo, ação na qual um cabo foi assassinado
Da prisão, traficante encomenda atentado
André Porto/Folha Imagem
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Policiais apresentam suspeitos do ataque contra a base da PM |
ALESSANDRO SILVA
PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
A ordem para o atentado que
matou o cabo da Polícia Militar
Pedro Cassiano da Cunha, 44, no
início da série de atentados atribuídos por autoridades à facção
PCC (Primeiro Comando da Capital), partiu de um traficante que
cumpre pena em uma prisão de
São Paulo, segundo a polícia.
A informação foi divulgada ontem pelo Deic (Departamento de
Investigações sobre o Crime Organizado), após a prisão, na zona
norte, de seis jovens, de 17 a 20
anos, suspeitos de terem ligação
com o ataque contra a base comunitária do Tremembé, também na
zona norte, onde o policial morreu e outro ficou ferido na madrugada de segunda-feira.
Com mais dois atentados -em
Osasco (Grande SP), anteontem à
noite, e em São José dos Campos
(97 km de SP), ontem de madrugada-, subiu para 28 o número
de ataques contra prédios, veículos e casa de policiais, os alvos escolhidos pelos criminosos.
Segundo o delegado Rui Ferraz
Fontes, um traficante, cujo nome
não revelou, teria emprestado
uma escopeta, apreendida com os
acusados, para o atentado.
O grupo foi descoberto com a
prisão de dois jovens, um de 17 e
outro de 18 anos, pela PM, após
uma denúncia anônima. Eles estavam com a escopeta. Depois,
mais quatro suspeitos foram detidos, entre eles três irmãos. Um
deles, de 17 anos, teria atirado
com um fuzil contra a base da PM.
A polícia achou o fuzil e uma carabina escondidos em um sofá na
casa de uma irmã deles. Mais três
revólveres foram apreendidos.
Policial preso
Com base em informações de
dois dos presos, um policial militar, identificado como Irineu,
também foi preso ontem sob acusação de ter vendido uma pistola e
dois revólveres para os seis acusados. As armas teriam sido usadas
em dois assaltos a supermercados
e também em um latrocínio (roubo seguido de morte).
Exames periciais serão realizados nas armas para descobrir se
elas foram usadas no atentado.
O PM preso faz guarda no presídio Romão Gomes, na Água Fria
(zona norte). No final da tarde de
ontem, a polícia ainda procurava
mais quatro suspeitos de integrar
o grupo que atacou a base.
Não foi permitido o acesso dos
jornalistas aos presos. Segundo a
polícia, eles confirmaram a participação no atentado, mas negaram ligação com o PCC. "Eles
confirmaram que participaram e
desferiram os tiros contra a base.
Ainda não deram motivo. Têm
medo de falar, mesmo porque
eles estão indo para a cadeia. E na
cadeia eles [os mandantes] podem cobrar", disse o delegado.
É a primeira vez que a polícia
confirma ter evidências de que a
ordem de um dos atentados partiu de um presídio. Apesar do isolamento em unidades especiais,
as ordens da cúpula do PCC continuam sendo distribuídas por
meio de advogados e parentes,
conforme investigações.
Ataques
A quinta onda de atentados começou anteontem, às 23h, contra
uma base da Guarda Civil Metropolitana, em Osasco. Seis homens
em dois carros deram mais de 20
tiros. Nenhum dos dez guardas ficou ferido. O prédio tem vidros
blindados. Ninguém foi preso.
Em São José dos Campos, no
Vale do Paraíba, um carro da Polícia Militar foi atacado na madrugada de ontem. Desconhecidos
em um carro cruzaram a frente
dos PMs e fizeram pelo menos
dez disparos. Ninguém se feriu.
A Secretaria da Administração
Penitenciária recebeu anteontem
um relatório do presídio de Iaras
(282 km de SP) informando que o
PCC ameaçou atacar juízes, promotores e diretores de presídios,
em uma nova frente de atentados.
A informação foi repassada à
Secretaria da Segurança Pública,
ao Ministério Público e ao Judiciário. O relato, feito por um preso, não menciona nomes de alvos
nem revela quem executaria as
ações e quando elas ocorreriam.
Todos os presídios do Estado
estão em alerta no final de semana
para uma possível mobilização de
presos -outra ameaça da facção,
que, em fevereiro de 2001, coordenou a maior rebelião da história
dos presídios brasileiros.
Ontem, o Deic informou que os
presos Júlio César Guedes de Moraes, o Julinho Carambola, e Sandro Henrique da Silva Santos, o
Gulu, serão indiciados pelas duas
mortes de policiais e pela série de
atentados desta semana. Os dois
apresentaram no CRP (Centro de
Readaptação Penitenciária) de
Presidente Bernardes (589 km de
SP), em nome do PCC, uma lista
de reivindicações para amenizar o
RDD (regime disciplinar diferenciado), ao qual estão submetidos
os líderes da facção. Com a lista,
entregue na semana passada, os
dois teriam prometido retaliações, caso não fossem atendidos.
Colaboraram o "Agora" e a Folha
Campinas
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