São Paulo, quarta-feira, 08 de novembro de 2006

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USP Leste empresta área para empresa particular

Estacionamento é ocupado por veículos de mineradora, que nada paga pelo serviço

Benefício à Belgo Mineira é considerado ilegal pelo Ministério Público; vigia da companhia tem chave para liberar uso durante a noite

MARIANA TAMARI
DA REPORTAGEM LOCAL

Parte do estacionamento da USP Leste, espaço público que deve ser usado exclusivamente por alunos e funcionários da instituição, é ocupado desde outubro por cerca de 50 veículos de uma empresa particular, que nada paga pelo serviço.
O benefício à Belgo Mineira, empresa localizada na rua da universidade, em Ermelino Matarazzo (zona leste de SP), é considerado ilegal pelo Ministério Público por ser uso de bens públicos para fins privados, com prejuízo ao Estado. A USP diz que cedeu o espaço pois a empresa é "parceira em diversos projetos sociais". A Belgo tem sua planta em obras até meados de dezembro.
Os funcionários da mineradora usam a mesma entrada dos estudantes e saem a pé por um portão lateral, mais perto da entrada da empresa, a cerca de 1 km do portão principal.
Nesse portão para pedestres, um funcionário da Belgo faz a vigia, na parte interna do campus. À noite, seguranças da firma têm a chave do portão, que é aberto quando um empregado precisa acessar o carro.
"Isso é uso do patrimônio público para fins particulares, sem contrapartida, sem pagamento de qualquer valor. É obviamente ilegal", afirmou o promotor Sílvio Marques.
Segundo ele, o Estado perde com a cessão gratuita de um bem público. "Imagine se a empresa pagasse para colocar os carros lá por 30 ou 60 dias."
De acordo com a Belgo Mineira, cerca de 50 carros e 20 motos têm permissão para parar na faculdade -número suficiente para ocupar mais de um terço do estacionamento.
A empresa diz ter autorização para usar a área até o meio de dezembro. A direção da USP Leste afirma que a liberação acaba nesta sexta-feira.

Proibida a entrada
Diferentemente do campus da USP no Butantã, na zona oeste, na USP Leste a entrada de pessoas e veículos é restrita. A cessão de vagas à empresa agravou críticas de estudantes.
"A comunidade do entorno aproveita pouco o espaço. É complicado entrar aqui. Mas, com a cessão do estacionamento, funcionários da Belgo têm livre acesso ao campus", critica Mateus Prado, 31, aluno de gestão de políticas públicas.
Segundo a diretoria da instituição, quem não é aluno, professor ou empregado precisa de autorização para entrar por questões de segurança e como forma de "pôr a comunidade na escola de maneira organizada".
Às 12h15 de ontem, porém, a Folha constatou que o portão lateral para a entrada de pedestres da Belgo estava aberto e sem vigia, com pessoas entrando e saindo sem restrição.
O transporte coletivo também não tem acesso ao campus, exceto a linha circular. "Moro em Jundiaí e venho de van. Tenho de parar no portão, a mais de 500 m do prédio da faculdade. Só deixam entrar quando está chovendo muito", conta Lívia Baldio, 18, estudante de gestão ambiental. "Por que carros particulares, como os da Belgo, podem entrar e uma van que tem exclusivamente alunos da USP não pode?"


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