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Fundamental de nove anos sacrifica lazer, dizem estudos
Pesquisadoras de faculdades diferentes apontam restrição de atividades lúdicas
MEC confirma que colégios têm falhado no ensino de nove anos; secretária de Educação Básica diz que o brincar é "importantíssimo"
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Das escolas que já adotaram
o ensino fundamental de nove
anos, parte fez a adaptação impondo pesados sacrifícios às
crianças mais novas.
Pesquisas em diferentes Estados mostram que nessas escolas os alunos de seis anos perderam parte considerável do
tempo destinado a brincadeiras e atividades ao ar livre. Agora ficam debruçadas sobre livros, exercícios e até provas.
Especialistas alertam que isso pode ter efeito devastador
no desenvolvimento cognitivo
e emocional das crianças.
As escolas hoje dividem o ensino fundamental em oito séries. No ano que vem, todas
-públicas e particulares- deverão seguir a lei que prevê a
reorganização em nove anos.
O ano extra foi colocado no
início do ciclo. A criança passará a entrar no ensino fundamental com seis anos, não mais
com sete. Assim, quem ia para a
pré-escola irá para o primeiro
ano. A primeira série se transformará no segundo ano.
Muitas escolas se adiantaram e já seguem a lei. O problema é que algumas limitaram-se
a impor às crianças de seis anos
os mesmíssimos conteúdos que
antes ensinavam às crianças de
sete. Os esforços se concentram em ensiná-las a ler, escrever e fazer contas. As brincadeiras, comuns na velha pré-escola, ficaram em segundo plano.
As professoras e pesquisadoras Iraíde Marques de Freitas
Barreiro (da Unesp em Assis),
Maria Silvia Librandi da Rocha
(da PUC de Campinas) e Catarina Moro (da UFPR em Curitiba) chegaram a conclusões parecidas ao estudar escolas que
já adotam o novo modelo.
"As atividades lúdicas ficaram restritas ao recreio, que
não raramente dura 15 minutos", diz Maria Silvia. "A criança tem seis anos, mas já é tratada quase como adulto, com
muita cobrança", afirma Iraíde.
Um dos problemas é o fato de
os professores não terem sido
preparados para conduzir essa
nova turma. Seguem mais o
modelo da primeira série que o
da pré-escola, sem o devido
equilíbrio, por pressão de pais
que desejam a alfabetização
precoce e por pressão do sistema educacional -a Provinha
Brasil avalia crianças de sete
anos, do novo segundo ano.
"Antes era o professor da segunda série que cobrava o da
primeira para que os alunos
chegassem alfabetizados. Agora é o professor do segundo ano
que pressiona o do primeiro",
afirma Catarina, da UFPR.
O MEC confirma a falha dos
colégios. "Estamos oferecendo
orientações, explicando que o
brincar é importantíssimo", diz
a secretária de Educação Básica, Maria do Pilar Lacerda.
Ela esclarece que o resultado
da Provinha Brasil não é divulgado e, mesmo sendo negativo,
não gera punições. Serve apenas para orientar a escola.
Outro problema apontado
pelas pesquisadoras é a falta de
adaptações e reformas nas escolas para receber adequadamente às crianças de seis anos.
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