|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Condomínios pagam para ter ligação direta com a polícia
Prédios instalam rádios nas portarias para se comunicar com batalhões e carros da PM em pelo menos seis Estados
O Ministério Público da Bahia ameaça entrar com uma ação civil pública para suspender o acordo com a polícia naquele Estado
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
Para garantir ação mais rápida da polícia e driblar o atendimento do 190, condomínios residenciais de seis Estados firmaram acordos para a instalação de sistemas de comunicação por rádio, em uma linha direta com a Polícia Militar.
Nos projetos, os prédios instalam rádios nas portarias e nos
batalhões ou carros da PM mais
próximos para criar um canal
de informações sobre a segurança na região. Em Salvador, o
sistema custa R$ 150 mensais
para cada prédio.
O Ministério Público da Bahia ameaça entrar com uma
ação civil pública para suspender o acordo no Estado, único
local onde houve contestação.
A reportagem identificou
projetos semelhantes em São
Paulo, Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraíba.
"O convênio agiliza um atendimento que deveria ser oferecido a todos igualmente. Não se
pode criar mecanismos que diferenciem o atendimento. É
uma privatização da polícia e da
segurança pública", disse a promotora Rita Tourinho.
Os acordos também são criticados por especialistas ouvidos
pela Folha. Para o cientista social Eduardo Paes-Machado,
do grupo de pesquisa sobre violência na Universidade Federal
da Bahia, a "polícia incorporou
a lógica de mercado, com atendimento personalizado".
A pesquisadora Viviane Cubas, do Núcleo de Estudos da
Violência da USP (Universidade de São Paulo), diz que o formato adotado não se encaixa
no conceito de polícia comunitária, já que "acontece em detrimento daqueles que não podem pagar pelo serviço direto".
Trotes
Em Pernambuco, onde são
beneficiados mais de 1.200
condomínios e empresas, o governo diz que zerou o índice de
assaltos a prédios nas regiões
atendidas, graças às informações passadas por porteiros,
treinados pela polícia.
"O atendimento pelo rádio é
mais rápido porque, das 18 mil
ligações diárias para o 190 no
Estado, 3.500 são trotes. Isso
atrasa nosso trabalho", diz o coronel Sérgio Viana, que coordena o projeto em Pernambuco.
Para Viviane Cubas, a explicação de Viana não justifica o
projeto. "Se cada um tiver que
ter um rádio, o 190 não fará
sentido. Se a polícia entende
que ele não funciona direito,
vamos corrigi-lo, não criarmos
uma estrutura à parte."
Em São Paulo, o Conseg
(Conselho Comunitário de Segurança) do Cambuci adotou
um projeto semelhante em 95
prédios da região da Chácara
Klabin (zona sul da cidade),
atualmente em fase de implementação. Uma estrutura utilizada anteriormente com uma
empresa de segurança privada
foi aproveitada.
Outro lado
A Secretaria da Segurança
Pública da Bahia afirma que
não vai suspender o convênio
porque não entende que a polícia favoreça os condomínios
participantes, em detrimento
do resto da população.
Como contraponto, a pasta
cita o projeto da PM "Rondas
nos Bairros", que funciona na
periferia de Salvador com formato parecido ao convênio entre a polícia e os condomínios,
mas por meio do telefone.
Segundo a PM de São Paulo, a
parceria "melhora as prestações de serviço e não exclui o
restante da população. Pelo
contrário, contribui para que
possa empregar seus recursos
humanos e materiais de maneira mais precisa e eficaz, pois é
certo que tomará conhecimento de uma eventual emergência
com maior rapidez".
Texto Anterior: Outro lado: Prefeitura nega trabalho de "limpeza" Próximo Texto: Cliente troca serviço, mas não evita problema Índice
|