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Expulsão atesta incompetência, diz entidade
Para coordenadora de comitê de defesa da mulher, universidade, que deveria promover discussões, teve atitude autoritária
Educadores, advogados e outras entidades ouvidas pela Folha também fazem críticas à decisão da Uniban; ONG diz que fará protesto
DA REPORTAGEM LOCAL
"Ao expulsar essa menina, a
universidade assina seu atestado de incompetência", afirma
Samantha Buglione, coordenadora do Cladem (Comitê Latino-Americano e do Caribe para
a Defesa dos Direitos da Mulher) no Brasil. "O espaço que
deveria promover a discussão
está tendo atitudes simplificadas e autoritárias", diz ela. "Para a universidade ser intolerante em questões de moralidade
neste nível é porque ela está
completamente desvirtuada do
que deveria ser", afirmou.
As opiniões de Buglione refletem um pouco a contrariedade de boa parte dos educadores,
advogados e entidades de defesa das mulheres ouvidos pela
Folha sobre a punição da Uniban à jovem que foi hostilizada
ao usar um vestido curto.
Para Buglione, a função da
Uniban era promover um debate, e não mandar a estudante
embora. "Esse caso é uma excelente metáfora para mostrar
como a universidade não está
mais sendo universidade", afirma ela, que também é professora de direito da Univali (Universidade do Vale do Itajaí).
"Como é uma instituição que
se propõe a fazer um trabalho
educativo, a expulsão deveria
ser a última medida", avalia Sabrina Moehlecke, doutora em
educação pela USP e professora
da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Ressalvando falar em tese,
por não ter acompanhado detalhes do caso, ela acrescenta:
"Mesmo que as pessoas venham com hábitos, formas de
agir e de se vestir inadequados,
a instituição tem a função de
criar formas de lidar com isso".
O promotor de Justiça Roberto Livianu, do Movimento
do Ministério Público Democrático, afirma que a decisão é
um "exagero", "foge à razoabilidade" e lembra "posturas fundamentalistas islâmicas".
O professor de direito constitucional João Antonio Wiegerinck avalia que a expulsão só
ocorreu devido à repercussão
do tema na mídia, e não pelo
comportamento da aluna. Ele
afirma que a roupa da jovem
era inadequada ao ambiente de
estudo. "Faltou bom senso à estudante. Mas dou aula há mais
de oito anos. Há roupas piores."
Segundo Wiegerinck, é praxe
nas instituições de ensino regulamentos para punir alunos por
comportamentos do tipo. Mas
ele ressalta a necessidade de
uma gradação para os casos de
reincidência -como advertência e suspensão, sempre por
atos formais, e não verbais.
Ato público
Para Sônia Coelho, militante
da SOF (Sempreviva Organização Feminista), a expulsão da
estudante é um retrocesso e
mostra a falta de compromisso
da instituição com a educação.
"É preciso trabalhar prevenindo a violência. O contrário
do que a universidade está fazendo. A aluna deveria ser acolhida, e os alunos, educados."
A SOF afirma ter buscado
contato com a universidade para propor um ciclo de debates
sobre a violência contra a mulher. Sem sucesso, decidiu fazer
um ato público no dia 18 na
frente da Uniban -que, com a
expulsão, pode ser antecipado.
A decisão da universidade, ao
ver a reação contra a jovem como defesa do ambiente escolar,
diz Sônia Coelho, põe em risco
todas as mulheres. "Qualquer
uma que se vista com um short
ou vestido pode ser abordada
de forma pior. Daqui a pouco as
mulheres serão apedrejadas."
A fundadora da União de Mulheres de São Paulo, Maria
Amélia de Almeida Teles, diz
que a atitude da Uniban mostra
que ainda existe discriminação
e reforça a existência do preconceito: "É difícil acreditar
que em pleno século 21 a mulher não tenha direito a dispor
de seu próprio corpo e a se vestir da maneira que desejar".
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